Moda

Por Radhika Seth


O tapete vermelho ainda será relevante em 2019? (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue
O tapete vermelho ainda será relevante em 2019? (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue

Quem você está vestindo?” Essa é a pergunta padrão no tapete vermelho das últimas duas décadas, quando repórteres perguntavam às estrelas sobre seu vestido, sua rotina de beleza e de exercícios. Mas no Globo de Ouro 2018, a frase soou vazia. Seguindo o escândalo Harvey Weinstein e o lançamento do Time’s Up, mais de 300 mulheres em Hollywood anunciaram a intenção de usar preto a fim de aumentar a conscientização sobre a inequidade de gênero. Em resposta, a E! Entertainment, rede americana que há anos é a cara da cobertura do red carpet, divulgou que iriam trocar a pergunta característica por “Por que está usando preto?”. Quando Ryan Seacrest fez a pergunta a Meryl Streep, que foi à cerimônia com a ativista Ai-jen Poo, ela respondeu: “Nós nos sentimos encorajadas neste momento para ficarmos juntas em uma grande linha negra dividindo o antes do agora”. Streep estava prevendo uma nova era para as mulheres em Hollywood, mas também o início do fim do tapete vermelho da forma como o conhecemos.

Golden Globes 2018 (Foto: Rex features) — Foto: Vogue
Golden Globes 2018 (Foto: Rex features) — Foto: Vogue

Tapetes vermelhos têm uma história longa e ilustre. A referência mais antiga a um pode ser encontrada na Grécia antiga, com a peça de Ésquilo, de 458 aC, Agamemnon mostrando um tapete vermelho sendo desenrolado para o rei de mesmo nome em seu retorno da guerra de Troia. Sua esposa Clytemnestra diz: “Desça de sua carruagem, e não deixe seu pé, meu senhor, tocar a terra”. Ele responde: “Sou um mortal, um homem; não posso calcar essas maravilhas tingidas sem que o medo seja jogado em meu caminho”. Naquela época o tapete vermelho já era um piso reverenciado – tinha o poder de elevar meros mortais a divindades.

O tapete vermelho ainda será relevante em 2019? (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue
O tapete vermelho ainda será relevante em 2019? (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue


Durante a Renascença, tapetes vermelhos eram reservados para salas do trono devido ao alto custo do corante de cochonilha. Um foi usado em 1821 para dar as boas-vindas ao Presidente James Monroe ao chegar à terra firme na Carolina do Sul, enquanto em 1902 a New York Central Railroad os usou para levar seus passageiros a bordo de seu trem 20th Century Limited. Foi apenas em 1922, na estreia do filme de Douglas Fairbanks, Robin Hood, que astros do cinema andaram pelo tapete vermelho. A cerimônia do Oscar os adotou em 1961 e foi televisionada pela primeira vez em 1964, e daí vem o desfile pelo tapete vermelho que conhecemos hoje.

Kristen Stewart (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue
Kristen Stewart (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue

A gravação do Oscar de 1964 mostra fãs gritando em delírio com a chegada de Julie Andrews e Gregory Peck, antes de os astros serem levados rapidamente para o auditório. Levaria mais 30 anos para que entrevistas, equipes de TV e cobertura ao vivo se tornassem de rigueur. À frente dessa nova tendência estava Joan Rivers, primeira a apresentar o pré-programa Golden Globes do E!, em 1994. Sua perspicácia ácida foi um sucesso de público, principalmente em um momento em que a moda no tapete vermelho estava se tornando mais estranha (Céline Dion usou um smoking Dior de trás para frente na cerimônia do Oscar em 1999; Björk ostentou seu vestido-cisne em 2001). 1998, o ano em que Titanic levou para casa o prêmio de Melhor Filme, foi um grande marco para a audiência televisiva, com o Oscar arrecadando 57 milhões de espectadores. A essa altura, o pré-show de Rivers estava tão popular que a rede de televisão dobrou seu tempo de duração para duas horas.

O tapete vermelho ainda será relevante em 2019? (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue
O tapete vermelho ainda será relevante em 2019? (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue

Amparado por esse sucesso, o E! expandiu sua escalação e incluiu o especial pós-cerimônia Fashion Police e adicionou uma série de novos recursos para sua cobertura do tapete vermelho: a câmera glam 360º, a câmera clutch, a câmera stiletto e a câmera de manicure. A última, que trazia um tapete vermelho em miniatura onde atrizes eram chamadas para ostentar seus dedos, provocou uma rápida reação. No Globo de Ouro de 2014, Elisabeth Moss disse a Giuliana Rancic, do E!: “Tem algo que quis fazer da última vez mas não fiz”, antes de mostrar o dedo do meio para a câmera. Sua frustração foi repetida por Cate Blanchett no Screen Actors Guild Awards. Quando a câmera do E! escaneou seu corpo de cima a baixo, ela olhou para as lentes e disse: “Vocês fazem isso com os rapazes? O que acham que vai acontecer lá embaixo que é tão fascinante?”

Lady Gaga (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue
Lady Gaga (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue

No ano seguinte, Reese Witherspoon, Jennifer Aniston e Julianne Moore se recusaram a colocar o dedo na câmera de manicure durante o SAG Awards. No BAFTA 2015, o Buzzfeed fez uma paródia dessas entrevistas cada vez mais ridículas no tapete vermelho perguntando aos homens as mesmas perguntas feitas às mulheres. Isso incluiu pedir a Eddie Redmayne que desse uma voltinha para a câmera, perguntar a um confuso Michael Keaton se estava usando Spanx e perguntar ao próprio Weinstein quanto tempo havia demorado para se arrumar. A opinião pública estava começando a azedar e a audiência do E! a despencar. Seguindo a morte de Rivers em 2014, o Fashion Police entrou em um hiato de cinco meses antes de ser cancelado em 2017. Seacrest continuou a apresentar o programa do tapete vermelho pré-Oscar, que neste ano teve uma média de 1,3 milhões de espectadores, uma queda de 43% em relação ao ano passado. A audiência da cerimônia do Oscar também teve recorde de baixa audiência em 2018, em 26,5 milhões.

O tapete vermelho ainda será relevante em 2019? (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue
O tapete vermelho ainda será relevante em 2019? (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue

Essa queda no tapete vermelho coincidiu com um cenário político cada vez mais tenso nos EUA. A proibição de viagem de Donald Trump fez com que vários participantes do Oscar 2017, incluindo Ruth Negga e Karlie Kloss, usassem laço azuis no tapete vermelho, em defesa da União Americana pelas Liberdades Civis. Enquanto isso, Emma Stone tinha um broche da Planned Parenthood preso em seu alta-costura Givenchy. A resistência ficou mais evidente no SAG Awards 2017, onde o ator de Big Bang Theory Simon Helberg andou pelo tapete vermelho com uma placa com os dizeres “Refugiados São Bem-Vindos”.

Emma stone (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue
Emma stone (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue

Foi com o #MeToo e Time’s Up, no entanto, que os protestos no tapete vermelho se transformaram, de não conformidade tácita a rebelião pura e simples. Uma horda de mulheres usando preto varreu a cerimônia do Globo de Ouro como um exército incontrolável, chamando atenção para a diferença salarial no tapete vermelho (Debra Messing criticou o E! por não pagar à apresentadora Catt Sadler o mesmo que seu colega masculino) e expondo a falta de diretoras mulheres no palco (Natalie Portman apresentou a categoria dizendo: “aqui estão os indicados, todos homens”). O BAFTA espelhou o dress code todo preto, enquanto o Grammy convidou astros a usar rosas brancas. Mas para o Oscar 2018, o movimento Time’s Up anunciou que não haveria dress code e não haveria chamada à luta sobre o tapete vermelho.

Ruth Negga (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue
Ruth Negga (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue

Algumas pessoas interpretaram o fato como se Hollywood estivesse de volta ao trabalho normal, mas as placas tectônicas já haviam se mexido. O comportamento para agradar as câmeras, como nos anos anteriores, não pareciam mais uma exigência. Na manhã seguinte da cerimônia do Oscar, a correspondente de Hollywood da Vanity Fair Nicole Sperling observou a palpável mudança. “Parecia que a cerimônia estava reduzida”, disse no podcast Little Gold Men da temporada de premiação da revista. “Muitas pessoas pularam o tapete vermelho este ano. Jordan Peele pulou, Sam Rockwell pulou – tiraram algumas fotos e foram escoltados diretamente ao show. Alguns RPs com quem falei disseram que eles simplesmente não viam mais valor naquilo. Não sei qual será o desenrolar disso, porque lá está aquele reluzente e atraente tapete vermelho de que as pessoas gostam, mas é algo de que precisamos? É uma parte progressiva de nossa sociedade?”.

Oscar de 1964 (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue
Oscar de 1964 (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue

As mulheres do Festival de Cinema de Cannes certamente pensavam que não. Em maio, a presidente do júri Cate Blanchett liderou um agrupamento no tapete vermelho de braços dados com 82 mulheres – uma para cada filme dirigido por mulheres a ter competido pelo principal prêmio do festival durante seus 71 anos, em comparação a 1.645 filmes dirigidos por homens. Apenas uma mulher, Jane Campion, já ganhou. Outras injustiças também foram trazidas à vista: 16 atrizes negras fizeram demonstrações contra o racismo na indústria cinematográfica francesa e foram co-autoras do livro com o título Black is Not My Job. Um minuto de silêncio foi feito em 15 de maio em memória dos 60 palestinos mortos por forças israelenses perto da fronteira entre Gaza e Israel, com a atriz Manal Issa carregando uma placa no tapete vermelho com os dizeres “Parem os ataques em Gaza”. Em uma exibição de Os Mortos e os Outros, um filme sobre a comunidade indígena Krahô, do norte do Brasil, cartazes exigiam melhor tratamento para com os nativos do país.

Ruth Negga (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue
Ruth Negga (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue

Entre o ativismo, a atriz Kristen Stewart, membro do júri, dominou as manchetes ao tirar seus sapatos Christian Louboutin na pré-estreia de Infiltrado na Klan, desafiando a política de apenas saltos de Cannes. “Há um dress code definitivamente apartado”, disse à The Hollywood Reporter. “As pessoas ficam chateadas se você não usar salto, mas não se pode mais pedir para fazerem isso. Se não pedir para que os caras usem saltos e um vestido, então não pode pedir a mim também”. Longe de gestos vazios, os protestos do festival causaram mudanças de regras. Uma nova carta por paridade entre gêneros foi assinada em Cannes e desde então foi adotada por outros grandes festivais de cinema, incluindo o de Veneza e de Toronto. O tapete vermelho de Cannes, que já foi território de caça para Weinstein, foi lentamente sendo retomado pelas mulheres.

Celine Dion (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue
Celine Dion (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue

“Estou animada com o progresso que estamos vendo”, diz Jennifer Siebel Newsom, fundadora do The Representation Project, cujo slogan #AskHerMore vem ganhando força no red carpet desde seu começo em 2014. “Estamos escutando mais perguntas às mulheres além do que estão usando, mas, isso posto, um próximo passo importante é ampliar outros diálogos críticos, como aqueles levantados pelo Time’s Up. Queremos trabalhar ao lado de organizações com o mesmo pensamento, com missão direcionada à representação diversa e equilibrada em relação ao gênero em Hollywood e outros setores”.

Cate Blanchett (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue
Cate Blanchett (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue

Então onde ficamos? O Festival de Cinema de Toronto e o Emmy se passaram em sua maior parte sem incidentes, ainda que tenha havido broches da Planned Parenthood, fitas da União Americana pelas Liberdades Civis e crachás com os dizeres “I am a voter”, apoiando as eleições americanas de midterm, que logo aconteceriam. Críticos temem uma diminuição de ritmo na próxima temporada de premiações, mas isso parece improvável. O Globo de Ouro acontece pouco após o aniversário de um ano do Time’s Up e novamente nenhuma mulher foi indicada na categoria de direção. A Marcha das Mulheres de 2019 cai em 19 de janeiro, bem entre o Critics’ Choice Awards e o Producers Guild of America Awards. Na semana passada, Kevin Hart saiu do papel de apresentador do Oscar três dias após ser designado, seguindo a polêmica sobre comentários tidos como homofóbicos. Hollywood está mais politicamente abundante do que nunca.

Joan Rivers e Melissa Rivers (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue
Joan Rivers e Melissa Rivers (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue

Por enquanto, o tapete vermelho sobreviveu, mas seu futuro depende de sua vontade de se adaptar aos tempos modernos. Stylists, para quem ele continua sendo um negócio lucrativo, estão alertas em relação a boicotes, mas reconhecem a necessidade de mudança. “É claro que é importante”, diz Elizabeth Saltzman, que veste Saoirse Ronan e Gwyneth Paltrow. “Mas talvez seja importante de uma forma diferente. Talvez agora possamos usar o tapete vermelho para mostrar pessoas como realmente são. Ele importa? Importa, se quisermos. É o negócio mais importante do mundo? Bem, é o meu negócio, então é muito importante para mim. Acho que há muito que podemos fazer com o tapete vermelho, então vamos fazê-lo em vez de desistir dele.” O tapete vermelho da próxima temporada irá seguir as palavras de Saltzman? Temos de esperar para ver.

Meryl Streep- e Ai Jen Poo (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue
Meryl Streep- e Ai Jen Poo (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue
Bjork no Oscar de 2001 (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue
Bjork no Oscar de 2001 (Foto: Getty Images) — Foto: Vogue

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