Viajar sozinha nos dias de hoje: escolha ou necessidade? Quando e em qual circunstância foi a última vez que você desbravou destinos apenas na presença da sua companhia? Para as mulheres viajantes, sem dúvidas esta virada de chave de se permitir experiências no lugar solo, é um exercício de liberdade desafiador, que mexe com os nossos instintos. Não vivenciar esta prática ou abortar a missão antes mesmo dela começar pelo receio de um mundo que nem sempre é gentil com o feminino desacompanhado, também é totalmente compreensível. Mas devo dizer que para além do medo que nos aprisiona, existe um mundo muito maior, que liberta na sua imensidão, nos ajuda a potencializar o nosso repertório, a expandir a consciência e a colecionar memórias impagáveis.
Inicialmente, no meu caso, ser uma lonely traveler não era uma opção. Mas mesmo diante das limitações financeiras e de agenda de parceiros afetivos e amigos, eu sempre tive um desejo insaciável de atender aos anseios da minha curiosidade pelo mundo. Por isso, me desafiei a cruzar fronteiras em busca de conhecer novos lugares, aumentar a quantidade de carimbos no passaporte e, sobretudo, viver. E assim realizei meu primeiro intercâmbio em 2009 para Montreal e estudei francês in loco; anos depois fiz de Londres minha morada de verão para também me dedicar aos estudos de moda e comunicação; planejei férias de trabalho em Nova York; escapes em Salvador com aquela velha e clássica reserva de mesa para uma pessoa e o medo de ser julgada; uma road-trip pela Costa Verde do litoral RJ-SP; me joguei na Bienal de Veneza no pós-pandemia; entre tantas outras experiências que me conectaram às minhas mais variadas versões em todos estes destinos e me deixando mais próxima de mim mesma.
![Luiza Brasil na Bienal de Veneza — Foto: Arquivo pessoal](https://cdn.statically.io/img/s2-vogue.glbimg.com/etYZYOeQBHCK7d4oEG47qYTGYQk=/0x0:3024x4032/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_5dfbcf92c1a84b20a5da5024d398ff2f/internal_photos/bs/2024/q/C/qGFFKiRCuY0eilyNBQ3Q/img-9682.jpg)
Viajar é oportunidade, disponibilidade e a lei natural dos encontros: com o destino escolhido e com você mesma. A gente deixa e recebe um tanto e, por isso, o que mais importa é vivermos com inteireza o momento, não nos apegarmos de maneira culposa a quem não está naquele instante conosco e nos apropriarmos do respeito e acolhimento seja com nossas vontades, seja com os nossos limites.
Atingir a solitude do viajante é a forma mais genuína de exercitar a nossa inteligência cultural. Nos dá senso de autocuidado, noções de sociabilidade, educação financeira, respeito às diferenças e, sobretudo, um autoconhecimento valioso que ao longo dos anos torna-se inegociável.
![Luiza Brasil em viagem à Patagônia — Foto: Arquivo pessoal](https://cdn.statically.io/img/s2-vogue.glbimg.com/sjGO9wIszJ-Lc78_V-yT9ED_MpE=/0x0:3024x4032/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_5dfbcf92c1a84b20a5da5024d398ff2f/internal_photos/bs/2024/G/n/s9MrHBQXCshgNpcaQsHg/viagem-para-patagonia.jpg)
Porém, diante de todas as belezas e maravilhas do mundo, nem sempre mulheres viajantes podem mostrar como são, mas vão sendo como podem. Infelizmente, não dá para romantizar sobre o quanto ainda estamos em um espaço violento para nós que queremos jogar o nosso corpo por aí. Nos últimos tempos acompanhamos com tristeza, revolta e o sentimento de extrema vulnerabilidade o caso da artista venezuelana Julieta Hernández, também conhecida como palhaça Jujuba, que viajava pelo Brasil em uma bicicleta, até ser morta no interior do Amazonas, após ficar 14 dias desaparecida. Daqui, cabe a nós coletivamente cobrarmos das autoridades que crimes como esses não fiquem impunes.
No entanto, de uma perspectiva mais individual, assumirmos alguns cuidados básicos para que não fiquemos totalmente expostas é essencial. Planeje a sua viagem: pesquise a fundo o seu destino, e entenda se existem nuances que possam ser menos seguras para o público viajante feminino. Talvez isso não seja o impeditivo da experiência, mas com conhecimento, é possível se blindar dos apuros. Outra dica imprescindível é: compartilhe com pessoas de confiança a sua localização, mesmo que elas não estejam contigo. Isso te dará rastreabilidade. Dates e saídas com desconhecidos? Sempre em lugares públicos!
Sim, existe uma parte chata para amantes de bons registros de viagem como eu: quem vai tirar as fotos ou fazer aquele vídeo? Haja tripés, timers (e senso estético) para dar conta. Mas nada que a proatividade e a boa e velha "cara de pau" de pedir para um desconhecido fazer suas mídias não resolvam!
![Luiza Brasil vivendo o Carnaval de Barbados — Foto: Arquivo pessoal](https://cdn.statically.io/img/s2-vogue.glbimg.com/k9IyslgxP1U-dLul2H-ARNuy81Q=/0x0:1440x1799/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_5dfbcf92c1a84b20a5da5024d398ff2f/internal_photos/bs/2024/l/Y/fPeOWdRJuz0ckHY1HDTg/carnaval-em-barbados-acervo-pessoal.jpg)
Ah, não é pelo simples fato que você vai viajar sozinha, que irá permanecer solitária ao longo de toda sua viagem: permita-se conhecer e trocar com pessoas! Riscar o mapa com régua e compasso também te dá a possibilidade de fazer grandes amigos ao longo da jornada. No meu caso, um exemplo inesquecível foi durante o Crop Over, o carnaval de Barbados, onde tive a oportunidade de conhecer Rorrey Fenty, irmão de ninguém menos que a Rihanna, e acabei por ser convidadas para eventos e festas produzidas por ele. Em uma delas, não é que a empresária e eterna diva pop apareceu?
![Rihanna em Barbados — Foto: Arquivo pessoal](https://cdn.statically.io/img/s2-vogue.glbimg.com/mfuwcO1pVWHl_AXYPKLxmBCfACo=/0x0:750x949/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_5dfbcf92c1a84b20a5da5024d398ff2f/internal_photos/bs/2024/j/J/kXxUeQSQyahoEmVaFFew/rihanna-barbados.jpg)
Que o medo, a insegurança e o julgamento alheio não nos paralisem de viver um dos exercícios mais saborosos da nossa liberdade: conhecer as dores e delícias deste mistério fascinante que é o planeta!
Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Vogue Brasil.