Com arquitetura pitoresca e natureza exuberante, Chiloé é um destino alternativo no norte da Patagônia chilena

Ocupado pelos espanhóis a partir de 1558, Chiloé significa “lugar de gaivotas” em mapudungun, língua falada pelos indígenas mapuches. Ali viviam, além deles, os povos indígenas huilliches, cuncos e os chonos. Privilegiado pelo isolamento geográfico, Chiloé é uma das regiões chilenas que mais conseguiram preservar a cultura dos povos originários e as áreas naturais. A província é na verdade formada por mais de 40 ilhas. A principal e maior ilha, a Ilha Grande de Chiloé, possui mais de 8.000 km² – é a segunda maior ilha da América do Sul, depois de Tierra del Fuego.

Mas chegar a Chiloé não é tão difícil quanto pode parecer. Saindo de São Paulo com destino direto a Santiago, de lá, apenas um voo de escala para Castro, capital da ilha, que conta comum único voo de ida e volta por dia. Ao desembarcar no aeroporto de Gamboa, nosso time foi recebido com sorrisos fartos e amenities com água e frutas desidratadas pelas mãos da equipe do Tierra Chiloé, hotel-butique que serviu como nosso QG, e nos acompanhou no deslocamento do aeroporto até o hotel, que levou em média 30 minutos.

Aberto em 2012, o hotel logo entrou para a hot list dos melhores novos lugares para conhecer em 2013 da Condé Nast Traveler. Em 2014, o até então Hotel Refugia foi repaginado e reinaugurado sob a chancela do grupo de hotéis de luxo Tierra, que comanda outros dois, um na Patagônia austral e outro no Atacama. Com apenas 24 quartos, o Tierra Chiloé é o destino para uma estadia repleta de encontros com a história local e a paisagem do oceano Pacífico, que serve como um quadro natural para todos os apartamentos.

A gastronomia é um dos destaques do Tierra Chiloé, que nasceu inspirado na natureza, inserido numa cultura intimamente ligada às tradições e festas ancestrais locais. A região é povoada por comunidades e famílias que se reúnem em diferentes épocas do ano com o propósito de fazer uma minga, que para nós se caracteriza como um trabalho comunitário para conseguir, por exemplo, a colheita sazonal e a preparação de maçãs, a chich (bebida fermentada originalmente produzida pelos povos indígenas da América Latina), além de conservas e o vinagre de cidra, outro hit gastronômico local.

“Há todo um estilo de vida associado a essas tradições que têm a ver com a preservação dos alimentos e a segurança alimentar. Essas famílias são, por assim dizer, seminômades porque se deslocam com base numa espécie selvagem que se recolhe na natureza”, diz Diego Nintzel, diretor de marketing do Tierra. “Então, os chilotes, como são apelidados os chiloés, aprendem a ler a paisagem, trabalham levando em consideração as marés, o clima e, com essa sabedoria que se aprende de geração em geração, há um respeito principalmente com o meio ambiente”, completa.

Com farta diversidade de fauna e flora, Chiloé se destaca pela grande riqueza e abundância de ingredientes frescos, oriundos do mar e da terra. Do mar, aproveitam- se o peixe, o marisco e as algas; já da terra, os ingredientes colhidos da própria horta e de agricultores locais, como o alho chilote e a batata nativa, com mais de 286 variedades na ilha. E também a carne, criada a partir das tradições associadas à pequena pecuária. Destacam-se ainda o mel proveniente das aromáticas matas nativas onde vivem as abelhas, os mais de 45 tipos de maçãs, ingrediente principal das sidras feitas por lá, e outras frutas nativas como a murtilla.

O cardápio do hotel oferece uma experiência gastronômica inspirada nos costumes e tradições locais, sempre pensando em contar uma história por meio de aromas, sabores e conhecimentos. Entre seus pratos principais, está o curanto, cozimento tradicional em cova com pedras quentes, peixes, carnes e frutos do mar, dispostos em camadas sobre pedras quentes e envoltos em folhas gigantes de nalca. A sobremesa com chocolate amargo e recheio com alho preto chilote pode soar excêntrica, mas é uma combinação de sabores única.

Para se aconchegar e evitar as baixas temperaturas que acometem a região até mesmo no verão, o bar do hotel é um refúgio. O protagonista do menu é um coquetel autoral de pisco chileno e o já citado mel local Ulmo, encontrado somente naquela região da Patagônia sul. A carta de vinhos oferece rótulos chilenos que harmonizam comas refeições servidas no bar e também como conforto das lareiras, dispostas dentro e fora do hotel.

Com serviços focados em bem-estar, o spa do hotel conta com piscina exterior aquecida e piscina interior, sauna úmida e seca, e um menu com diferentes massagens e tratamentos feitos com produtos artesanais de diversos tipos, e amenities assinados pela Austral Organics, marca chilena de cosméticos naturais e orgânicos.

É imprescindível fazer o banho de bosque, prática que surgiu nos anos 1980 no Japão, a partir de um estudo realizado por cientistas que constataram que pessoas que frequentam bosques regularmente tinham níveis de estresse baixos. Os da região de Chiloé e do extremo sul da Patagônia são ideais para essa experiência. “Fazer um banho de bosque na chegada é a melhor coisa para desacelerar e iniciar uma desintoxicação do ritmo acelerado que a maioria de nós leva no dia a dia”, enfatiza Nintzel.

Para quem leva um lifestyle mais aventureiro, há experiências ao ar livre e atividades como stand-up paddle e caiaque, onde é possível avistar golfinhos e aves locais. Dá para passear a cavalo pela costa, visitar a capital Castro por meio da embarcação Williche do hotel e conhecer o colorido mercado Yumbel, a Igreja de São Francisco de Castro (declarada Monumento Histórico Nacional e que faz parte da lista do Patrimônio da Humanidade pela Unesco) e os palafitos coloridos à beira-mar, um clássico cartão-postal chileno. E, antes da despedida, vale visitar Sandra, uma acolhedora senhora da comunidade Williche, uma ótima anfitriã apaixonada por partilhar a sua cultura e que convida os presentes a terem contato e saberem como funciona uma típica fazenda da região. @tierrahotels