Sou daquelas que prefere viajar menos dias, mas ficar bem hospedada. Hotel, para mim, é parte fundamental da experiência. A gente pode visitar uma mesma cidade inúmeras vezes e ter vivências completamente distintas, seja pelo perfil da vizinhança ou pelo estilo do hotel e pelo tipo de público que ele atrai.
Na última semana de moda de Paris, fiquei no La Réserve, instalado numa casa lindíssima entre Avenue Montaigne e Faubourg Saint-Honoré, de frente para os jardins do Palais de l‘Élysée, a residência presidencial. E com vista para o Grand Palais e a Torre Eiffel. Não tem placa grande na fachada, não tem frege de taxistas e bell boys na porta, não tem confusão. Apenas uma icônica porta vermelha.
Tudo isso já era ótimo, mas o ouro é o que está dentro. Com cara e clima de casa, ele foi inaugurado em 2015 e se destaca pelo décor clássico exuberante assinado pelo designer Jacques Garcia e também pelo serviço suave e eficiente do staff, que inclui mordomos. Eu cheguei em cima da hora para um desfile e nem subi no quarto. Na volta, fui surpreendida pela gentileza de Charline, que tinha desfeito minha mala e arrumado o closet com metodologia e harmonia de dar inveja em Marie Kondo.
A mansão de estilo Haussmann foi residência até 1888 do meio-irmão de Napoleão, o duque de Morny, que hoje nomeia um dos espaços mais agradáveis do hotel: a biblioteca com 3.000 livros, muitos deles em edições originais. No dia a dia, ali pode-se tomar café da manhã, fazer uma reunião discreta ou saborear um drinque folheando algum volume. A cada seis meses, vira palco da cerimônia do Prêmio Literário Michel Reybier, criado em 2021 pelo empresário franco-suíço originalmente do ramo da gastronomia que migrou para a hotelaria com a coleção La Réserve – um portfólio de propriedades pequenas e superexclusivas.
Os 15 quartos e as 25 suítes nos transportam para a atmosfera do início do século 20, com tetos ornamentados, tecidos opulentos, antiguidades cuidadosamente garimpadas e muitas obras de arte – outra marca registrada do La Réserve. No subsolo, o spa tem uma piscina coberta, um haman, fitness center e salas de tratamentos feitos com produtos da marca suíça Nescens. E, agora, um spa dentro do spa focado em criar para o cabelo e o couro cabeludo uma rotina de cuidados como a do skincare, com protocolo Flora Lab.
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Tudo é impecável, inclusive o restaurante três estrelas Michelin Le Gabriel, comandado pelo chef Jérôme Banctel, que reinventa clássicos franceses com toques da Bretanha, sua região de origem. Mas gamei de vez, irremediavelmente, quando experimentei o dry martini no aconchego do bar Le Gaspard, preparado pelo barman Paul, comme il faut: praticamente gim puro, à l’américaine, como ele me ensinou. Não quero outra vida. @lareserveparis