Redes sociais e Madonna: uma reflexão sobre o ódio online enfrentado por mulheres de sucesso

Em nova coluna de Vogue Negócios, a fundadora e CEO da Gestão Kairós, Liliane Rocha reflete sobre os ataques de ódio e violência que o show de Madonna, no Rio de Janeiro, gerou nas redes sociais

Por Liliane Rocha (@lilianerochaoficial)


Madonna Getty Images
audima

Mulheres proeminentes como você e Madonna têm muitas coisas em comum. Nós vencemos em uma estrutura de sociedade machista e patriarcal, palavras que sequer podem ser faladas sem gerar melindres e controvérsias. Uma estratégia brilhante de quem construiu os pilares de uma sociedade pautada no masculino, na qual o viés de gênero e raça segue pautando a escolha de quem está nos postos de poder. Segundo o Estudo Diversidade, Representatividade e Percepção - Censo Multissetorial da Gestão Kairós homens brancos são 60% da liderança, nível gerente acima, em grandes empresas. No Congresso Brasileiro, pelo menos 63% das cadeiras são ocupadas por homens brancos, de acordo com os dados do site da Câmara dos Deputados.

Ainda assim, muitas de nós, com garra, afinco, assertividade e coragem, hackeiam o sistema e chegam a lugares nos quais não esperavam que estivéssemos. Lideramos empresas, equipes, famílias, o showbiz. Quando finalmente chegamos lá por puro empenho e mérito, acreditamos que, finalmente, podemos seguir tranquilas, focadas no que nos propusemos. Afinal, se a sociedade é meritocrática e chegamos por merecimento, o que mais poderia nos acometer? Pois bem, neste momento, no apogeu, no pódio, descobrimos que a sociedade não é meritocrática coisa nenhuma.

Em matéria do Jornal da Tarde da TV Cultura, vimos o estudo recente “She Persisted Analysis of Gendered disinformation trends in Brazil”, baseado em dados extraídos das redes sociais entre 2019 e 2014. De acordo com o material publicado, a desinformação de gênero é prevalente, com informações falsas sendo disseminadas sobre mulheres em cargos de destaque e na mídia. No Brasil, o Twitter/X teve a maior porcentagem de ataques contra as mulheres, cerca de 61%, seguido pelo Youtube e Facebook, com 59% e 53% dos conteúdos, respectivamente, contendo ataques direcionados a mulheres.

Ou seja, aquela postagem de um momento de sucesso e realização que você fez recentemente, e que bombou nas redes sociais, muito possivelmente, fez com que você fosse alvo de críticas, haters e violência. E se algum homem da sua equipe fez exatamente a mesma postagem, não. Não importa se estamos falando da Liliane Rocha, de você que está lendo este texto ou da Madonna, que tem 40 anos de carreira, 65 de idade, e, no último dia 04 de maio no Rio de Janeiro, realizou um dos maiores shows já realizados em Copacabana.

Madonna — Foto: reprodução/instagarm

Ela foi celebrada e exaltada por milhares de pessoas, mas também acusada, notem a irracionalidade, de realizar rituais satânicos no palco, de estar velha demais, de se movimentar pouco e assim por diante. Se você for uma mulher negra, já sabe que o que estou relatando aqui pode se tornar ainda um pouco pior.

No estudo “Discurso de Ódio nas Redes Sociais”, Luiz Valério, após analisar 109 páginas de Facebook, 16 mil perfis de usuários e 224 artigos jornalísticos que abordaram dezenas de casos de racismo nas redes sociais brasileiras entre 2012 e 2016, constatou que 65% dos usuários que disseminam intolerância racial são homens na faixa de 20 a 25 anos. Já 81% das vítimas de discurso depreciativo nas redes sociais são mulheres negras entre 20 e 35 anos. A situação que atinge cotidianamente milhares de mulheres é tão complexa que demanda diálogos públicos e privados intensos para que possamos avançar na busca por soluções.

Onde começa e onde termina a responsabilidade do empresariado que lidera as redes sociais? Como sanções públicas podem prevenir, antever e endereçar crimes de ódio nas redes sociais? Como os meios de comunicação podem compartilhar e disseminar mais informações sobre este assunto? O que você deve fazer quando isso acontecer com você?

Abordar este tema sob a ótica de gênero e empoderamento feminino em posições de destaque é de suma importância. O que historicamente ocorre no mundo real agora é amplificado no mundo virtual, porém diálogos como este têm o poder de gerar impacto significativo. Cada mulher possui o direito inalienável de alcançar o sucesso e ocupar qualquer espaço que desejar, inclusive o topo.

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