Trajetória, representatividade e empreendedorismo: a jornada de Maria Gal

A conselheira administrativa e empresária Rachel Maia conversa com a artista que assume o compromisso com a diversidade na indústria audiovisual

Por Rachel Maia (@rachelomaia)


Maria Gal Pino Gomes / Divulgação
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No meu bate-papo de hoje, falo com a talentosa atriz e empreendedora Maria Gal (@mariagalreal), cuja trajetória única se entrelaça com a busca por representatividade e a construção de oportunidades. Desde os primeiros passos na infância até os desafios enfrentados na indústria do entretenimento, sua história inspiradora revela um compromisso inabalável com a diversidade e o empreendedorismo.

A trajetória de Maria Gal teve início em dois momentos distintos. O primeiro ocorreu durante sua infância, quando tinha entre 7 e 8 anos. Nessa fase, durante suas aulas de balé, ela descobriu sua afinidade pela improvisação. O segundo momento surgiu após sua formação no curso de Educação Artística com computação gráfica, quando deu os primeiros passos no teatro. “Comecei a fazer teatro no Teatro Vila Velha e junto ali com o Bando de Teatro Olodum. Então, o primeiro curso foi com Chica Carelli, atriz maravilhosa de Salvador. Depois, já emendo com Márcio Meirelles e aí começo a fazer parte de alguns espetáculos do teatro.”

Diante da lacuna de atores negros em cena, Maria Gal e alguns colegas, ao ingressarem na Escola de Arte Dramática (EAD) em São Paulo, decidiram fundar uma companhia de teatro exclusivamente composta por artistas negros em São Paulo. Essa iniciativa reflete o compromisso dela em ampliar a representatividade negra nas artes cênicas e enfrentar os desafios percebidos no cenário teatral da época.

O empreendedorismo entrou na vida de Maria Gal como resposta à falta de oportunidades. Maria Gal é uma mulher preta retinta nordestina que migrou primeiro para São Paulo e não tinha tantas oportunidades. Então, começou criando o grupo de teatro. Depois, quando migrou para o Rio de Janeiro, resolveu focar em audiovisual, que é mais complexo ainda. Assim, quando ela concentrou seus esforços no empreendedorismo no audiovisual, por meio da Move Maria, que é a sua produtora, foi porque, como ela mesma cita, “o telefone não tocava para mim. E quando tocava, eram para papéis estereotipados, papéis pequenos, e que algumas vezes me via até obrigada a fazer para pagar contas.” A produtora nasceu com o propósito de trazer protagonismo negro na frente e por trás das câmeras.

Ao falar sobre sua visão do mercado audiovisual, Maria Gal cita que está no momento de ganhar forças. “É importante situar que a gente está falando de um dos mercados mais importantes do Brasil, que emprega milhares de pessoas de forma direta e indireta. E que também vem mudando a passos lentos sua cultura em relação a diversidade, e em relação à representatividade na frente, e por trás das câmaras. Eu vejo que está no início de uma caminhada."

Ao discutir o cenário atual de representatividade na TV e no cinema, Maria Gal enfatiza a responsabilidade das grandes empresas em investir em produções lideradas por profissionais negros. Essa abordagem não apenas reflete a diversidade da sociedade, mas também atende a uma audiência cada vez mais diversificada.

Maria Gal — Foto: Arquivo pessoal

“É importantíssimo que as empresas se atentem a isso para investir nessas produções. A gente está falando de uma população que é 56% de pessoas negras e que querem se ver, obviamente, representadas dentro do lugar de fala delas. E que consomem, mais de um trilhão por ano e que obviamente querem se identificar nessas produções. E ao mesmo tempo a gente vê que é um mercado que tem profissionais negros extremamente talentosos, importantes e que muitas vezes falta investimento, falta oportunidade.”

E durante nossa conversa enriquecedora ela falou um pouco do que tem feito na Move Maria e seus próximos projetos. “Conciliar a carreira de atriz e empresária é uma loucura. Agora após a novela Amor Perfeito, na Globo, tenho 3 filmes para fazer, dois como atriz e um como apresentadora e produtora. Um é o Diário de Dona Lurdes, com a maravilhosa Regina Casé, que tem a Manuela Dias como autora. Estou filmando também o longa da Rosane Svartman e Clélia Bessa, com a Suzane Pires, que fala de um tema superimportante. E estamos começando a levantar uma produção da Move Maria, que aborda sobre a história da escravização no Brasil e sua estrutura racista, por uma perspectiva da nossa história no Rio de Janeiro. A gente vive num país que, infelizmente, ainda, mesmo quem estudou nas melhores escolas, desconhece muito sobre a nossa história. E o objetivo desta produção é letrar e conscientizar as pessoas a respeito do tema. Além disso, continuo apresentando meu programa sobre empreendedorismo para o canal do Sebrae.”

Neste fascinante percurso, Maria Gal não apenas moldou sua carreira como atriz, mas também emergiu como uma empreendedora visionária, enfrentando os desafios da indústria audiovisual brasileira com resiliência e propósito. Sua história ressoa como um testemunho inspirador da importância da representatividade e do empreendedorismo como motores de transformação em um cenário artístico em constante evolução.

Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Vogue Brasil.

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