A dança das cadeiras na direção criativa de algumas das marcas mais importantes da indústria do luxo me fez sentir saudades de Phoebe Philo, que faz uma tremenda falta na moda. Atemporal, o repertório da designer britânica parece-me ideal para um momento de exaustão dos excessos. Daí o atual interesse de insiders pela ideia de quiet luxury (um luxo mais tranquilo, em livre tradução), em que atributos de discrição, versatilidade e durabilidade, entre outros, fazem a maior diferença na hora de escolher a roupa e os acessórios.
Assim, em um mundo cada vez mais veloz e barulhento, o jeito minimalista e cool de Philo surge como referência para novas ambições luxuosas, mais serenas e contidas. Depois de uma longa ausência para se dedicar à família e à vida pessoal, a estilista já anunciou retorno com marca própria e deve voltar à cena em breve, o que é suficiente para criar expectativas entre suas fiéis “seguidoras” desde os tempos da Céline (na época com acento), entre 2008 e 2017.
Nesse período, Philo influenciou com palavras-chave que definiam seu estilo e que se mantêm inspiradoras como “soluções” para a vida contemporânea agora. Confiança, poder, despojamento, conforto e flerte constante com as vanguardas estruturavam o vocabulário. Para Philo, a ideia de “menos é mais” sempre foi essencial. E aplicável a tudo. Do discurso criativo à sobriedade com as mídias, em que é uma espécie de “Greta Garbo fashion” tamanha sua aversão a entrevistas. Além de estimular a curiosidade e a imaginação, funciona como certo tipo de elegância nos tempos atuais – de tanta exposição voluntária. Philo, que nem usa as redes digitais, sempre promoveu a beleza natural e a importância de um guarda-roupa cuidadosamente editado e livre de frivolidades descartáveis, em atitude que estimula uma conduta mais sustentável.
Citada como “a santa padroeira do design para o olhar feminino”, é bem provável que ninguém tenha definido a noção de elegância moderna e confortável com mais autoridade do que Philo. Por isso, tanta expectativa em relação ao retorno da designer, que não deve fazer nada parecido com o que fez no passado.
Na Chloé, por exemplo, onde esteve entre 2001 e 2006, a moda de Philo era sinônimo da “garota descolada” da época, com vestidos baby doll e sandálias de plataformas de cortiça. Nada a ver com o que faria depois na Celine, em que apresentou uma versão de “maturidade radical”, elevando instantaneamente o suéter de cashmere oversized marinho a objeto de desejo e bancando a tendência das Birkenstocks de luxo.
Se Philo confirmou sua volta, é porque tem algo a agregar com sua interpretação do mundo de hoje. E como todos que anseiam por comportamentos e imagens novos, estaremos atentamente assistindo ao retorno, ainda que discretamente triunfal.