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Por Sabrina Fidalgo (@sabrinafidalgoo)


Musa Michelle Mattiuzz — Foto: Divulgação
Musa Michelle Mattiuzz — Foto: Divulgação

Musa Michelle Mattiuzzi, 39 anos, abre a primeira entrevista da série sobre quatro artistas brasileiros radicados em Berlim, série essa anunciada nesta mesma coluna em setembro último, quando eu havia retornado de uma temporada de pesquisas na capital da Alemanha.

Natural de São Paulo, essa artista autointitulada "indisciplinar" é um dos grandes nomes da sua geração que nos últimos anos vem tomando para si espaços historicamente hegemônicos e desafiando os padrões eurocêntricos da narrativa vigente no embranquecido mundo da arte contemporânea. Seu trabalho é multifacetado e deriva da pesquisa e prática em obras que transitam por diversos meios de expressão,que vão da performance à escrita e manifestadas em fotografias e filmes.

“Ex-bancária, ex-recepcionista, ex-operadora de telemarketing, ex-auxiliar de serviços gerais, ex-cuidadora de crianças, ex-dançarina, ex-mulher, ex-atendente de corretora de seguros, ex-esposa, ex-aluna. Foi jubilada pela Universidade Federal da Bahia, por racismo institucional. Negra, escritora, performer, move-se com arte de modo indisciplinar”, assim começa sua mini-biografia no site do Prêmio Pipa (o mais relevante prêmio brasileiro de artes visuais), onde Mattiuzzi, naquele já longínquo ano de 2018, ficou em segundo lugar.

Musa Michelle Mattiuzzi  — Foto: Divulgação
Musa Michelle Mattiuzzi — Foto: Divulgação

A violência colonial é um tema constante de sua investigação poética. Suas obras apropriam-se e subvertem o lugar exótico atribuído ao corpo da mulher negra pelas narrativas imagéticas branco-cis-normativas, que transformam a sua imagem numa espécie de aberração, uma entidade dividida entre o maravilhoso e o abjeto. Atualmente Musa está interessada no "pensamento radical negro" e no estudo da obra da filósofa Denise Ferreira da Silva e do teórico cultural Fred Moten.

“Merci beaucoup, blanco!”

Conheci pessoalmente “la Mattiuzzi” no ano de 2018, no Parque Lage / Escola de Artes Visuais, durante a palestra-performance “Don’t touch this is art” que desembocou no encontro avassalador entre sua performance “Merci beaucoup, blanco!” e “Gordura trans”, de Miro Spinelli.

Em “Merci beaucoup, blanco!” Mattiuzzi se apresenta totalmente despida, de salto alto e é levada ao centro do espaço puxada por uma corrente presa ao pescoço. Em seu rosto ela utiliza uma mordaça, de sua boca escorre sangue. Na ação seguinte ela se pinta com uma tinta branca e cria imagens de seu corpo em movimento sobre um banco. A imagem de seu corpo negro, feminino e gordo em meio a flagelos num espaço de ação historicamente colonial causam um sem número de sensações e reações.

Musa em cena durante a performance 'Merci beaucoup, blanco!' — Foto: Divulgação
Musa em cena durante a performance 'Merci beaucoup, blanco!' — Foto: Divulgação

Desde então, sua potência criativa, seu jeito de se colocar em cena e sua inquietação desconcertante seguem ecoando profundamente em mim.

“Meu desejo é mudar as pessoas através da poesia performativa. Recriar fendas do tempo e escrever a história que a branquitude brasilera progressista insiste em apagar.” disse ela à época, às vésperas do show.

Hoje, “la Mattiuzzi” vive e trabalha em Berlim, e nessa pequena entrevista ela me conta como se deu a escolha de se radicar na cidade que ainda é conhecida como a meca de todos os artistas e pessoas de pensamento livre do mundo.

VOGUE: A quanto tempo você vive e trabalha em Berlim? Por que se mudou?
Musa Michelle Mattiuzzi: Curiosamente me mudei no dia 20 de Novembro de 2019. Tinha agenda para uma residência artística com o Coletivo Ayllu no Matadero Madrid (centro de artes contemporânea), então planejei a minha mudança para logo depois da residência. Em novembro completou 3 anos que me mudei para Berlim. Decidi fazer a migração porque estava frustrada com o cenário político brasileiro e já sabia, sou cidadã do mundo.

Como você descreveria a cena para artistas estrangeiros em Berlim? Há espaço?
Uma cena muito forte, pessoas do mundo todo. Há espaço e também há muita concorrência.

Me conta como tem sido os seus processos criativos?
No ano passado (2021) meu trabalho estava sendo desenvolvido numa residência centenária alemã na Itália, a Villa Romana, com uma bolsa de pesquisa do Instituto de História da Arte Max Planck em Firenze. Aqui em Berlin, atualmente tenho meu estúdio individual.

Como você descreveria a cena artística/cultural na cidade de Berlim?
Eu descreveria que a cena em Berlin é multicultural por conta da política de estado projetada no final dos anos 1980, são consequências importantes para a geração de estrangeiros que fazem parte da cena agora. O espaço discursivo de multiculturalidade está aqui, mas sabemos os problemas que enfrentamos para obter permissão de moradia e permanência.

O que você está fazendo agora e quais são seus próximos projetos?
Estive com a minha obra “Jardim da Abolição 2021-2022“ exposta no Brücke Museum em Berlim até 30 de outubro de 2022. E também finalizando a série de desenho abstrato inspirado no texto “1 (vida) ÷ 0 (negritude) = ∞ − ∞ ou ∞ / ∞ : sobre a matéria além da equação de valor” de Denise Ferreira da Silva que será exibida agora em dezembro. Além disso estou montando um filme inspirado no livro Perder a mãe de Saidiya Hartman para o ano que vem. Muitos projetos, afinal, como disse o mestre Gilberto Gil em 1984: o tempo é rei. Que assim seja!

Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Vogue Brasil.

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