Débora Falabella: "O teatro desempenha um papel crucial como plataforma para discutir questões sociais"

De acordo com a artista, a história da personagem é fascinante e traz à tona um debate importante sobre o sistema judicial e leis que interferem negativamente na vida de milhões de mulheres. "Uma advogada que dedicou sua vida ao sistema jurídico, acreditando nele plenamente, até que se vê do outro lado, como vítima. Ela é uma mulher corajosa, cuja jornada levanta questões profundas e pertinentes para os tempos atuais. Interpretá-la tem sido um grande desafio que me fez mergulhar em temas complexos."

Escrito por Suzie Miller, o texto conta com dezenas de montagens ao redor do mundo desde 2002, quando estreou em Londres, na Inglaterra. O sucesso da peça, inclusive, levou a autora a um paniel sobre o tema na assembleia da ONU sobre os direitos das mulheres vítimas de abuso, em janeiro.

Débora destaca que o teatro, historicamente, sempre teve um papel crucial como plataforma para discutir questões sociais e impulsionar mudanças. "O teatro tem sido um veículo poderoso para transmitir mensagens importantes, desde os tempos em que era apresentado para reis e cortes com propósitos específicos, até períodos mais controversos como durante ditaduras, quando peças foram censuradas devido ao seu conteúdo provocativo."

Confira mais do bate-papo com a atriz abaixo:

Vogue: Como você se sente ao assumir o primeiro solo de sua carreira em Prima Facie e dar vida à complexa personagem da advogada Tessa?

Débora Falabella: É uma conquista que me enche de orgulho. Este projeto foi um esforço pessoal significativo, realizado em colaboração com outros talentosos produtores e sob a direção da Yara de Novaes, minha parceira artística, em quem confio plenamente. Estar em cartaz e ver a peça alcançar um público amplo é incrível, mas também traz uma grande responsabilidade. Estar sozinha no palco, transmitindo um texto tão impactante por uma hora e meia, exige uma preparação intensa e uma disciplina rigorosa para manter a concentração e a entrega durante cada apresentação.

A personagem de Tessa é fascinante. Uma advogada que dedicou sua vida ao sistema jurídico, acreditando nele plenamente, até que se vê do outro lado, como vítima. Ela é uma mulher corajosa, cuja jornada levanta questões profundas e pertinentes para os tempos atuais. Interpretá-la tem sido um grande desafio que me fez mergulhar em temas complexos.

Vogue: Quais foram os aspectos mais gratificantes e desafiadores de trabalhar em um solo teatral, onde você está sozinha no palco durante toda a performance?

DF: É uma experiência única, muito diferente de tudo que já fiz. Um dos aspectos mais gratificantes é a conexão direta com o público. A interação é imediata e intensa, permitindo uma troca direta. Eu sempre gostei de estar em cena com outros atores, sempre gostei da troca. No entanto, percebi nesse solo que a troca direta com a plateia é uma experiência totalmente nova pra mim. A energia e a resposta do público são cruciais para a minha atuação, e me sinto genuinamente acompanhada mesmo estando sozinha em cena.

É importante ressaltar que, apesar de ser um solo, há uma equipe dedicada nos bastidores que desempenha um papel fundamental. Desde a direção firme e criativa da Yara até os artistas responsáveis pelo som, luz, cenário e figurino, cada elemento contribui para a construção do espetáculo. A colaboração e sintonia entre todos os envolvidos são essenciais para o sucesso da apresentação. Assim, embora eu esteja sozinha no palco, sei que faço parte de um trabalho coletivo e harmonioso, onde cada pessoa desempenha um papel crucial.

Vogue: Você está em cartaz há algumas semanas, como tem sido a recepção do público?

DF: Tem sido extremamente gratificante. A recepção do público tem sido excepcional, com uma repercussão significativa que resultou sessões lotadas. Embora ainda tenhamos ingressos disponíveis, temos esgotado consistentemente semanas antes de cada apresentação, demonstrando um grande interesse do público em assistir ao espetáculo.

Recebemos feedbacks maravilhosos de diversos espectadores, incluindo mulheres que se identificaram com as questões abordadas na peça, bem como de profissionais como advogados, juristas, psiquiatras e psicólogos. O diálogo e a interação com o público têm sido enriquecedores, e estamos felizes em ver a diversidade e o interesse dele.

Vogue: Como você vê o papel do teatro como uma plataforma para discutir questões sociais e promover mudanças?

DF: O teatro desempenha um papel crucial como plataforma para discutir questões sociais e impulsionar mudanças. Através da arte teatral, os indivíduos podem se identificar com personagens e situações que refletem a realidade social, levando a uma reflexão profunda e a um potencial de transformação interna. Historicamente, o teatro tem sido um veículo poderoso para transmitir mensagens importantes, desde os tempos em que era apresentado para reis e cortes com propósitos específicos, até períodos mais controversos como durante ditaduras, quando peças foram censuradas devido ao seu conteúdo provocativo. A capacidade do teatro de conectar as pessoas emocionalmente com as questões sociais em jogo é fundamental para gerar empatia, conscientização e ação. Ao acompanhar a história de uma personagem e se envolver com ela, o público pode se ver confrontado com dilemas e realidades sociais, incentivando reflexões e debates que podem levar a mudanças.

Vogue: Em que aspectos você se identifica com a personagem de Tessa e como isso influenciou sua interpretação?

DF: Tessa é uma mulher corajosa que enfrentou todos os desafios para se dedicar à profissão que ama. Eu me identifico com muitas das características dela, especialmente no que diz respeito à determinação e paixão pelo que faço. No entanto, a maior conexão que sinto com Tessa está relacionada ao tema abordado na peça. É um assunto que me interessa profundamente e que considero extremamente relevante para os dias atuais, especialmente sob a perspectiva feminina. A possibilidade de dar voz a essa história e contribuir para a discussão desse tema tão importante é, sem dúvida, minha maior fonte de inspiração e motivação.

Vogue: Como você descreveria o impacto global de Prima Facie, que chegou a levar a autora para um painel na ONU sobre o tema?

DF: A peça levantou questionamentos importantes sobre a maneira como o sistema judiciário trata mulheres vítimas de agressão sexual, estimulando debates e reflexões não apenas entre profissionais da área jurídica, mas também entre a sociedade em geral. Em Londres, a presença de juízes e estudantes de direito na plateia evidencia a relevância do tema abordado.

No Brasil, renomadas figuras femininas, como Raquel Dodge e Andréa Pachá, têm se engajado em discussões acerca da importância de Prima Facie para o sistema judiciário e para as mulheres que enfrentaram situações semelhantes. Tivemos até um debate com elas depois de uma das apresentações.

Prima Facie fica em cartaz no Rio de Janeiro até domingo (30.06). R. do Russel, 804 - Glória, Rio de Janeiro. Telefone: (21) 3553-3557

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