A Pinacoteca de São Paulo acaba de inaugurar neste último dia 18 de maio a mostra Cecilia Vicuña: Sonhar a água – uma retrospectiva do futuro, na Grande Galeria do edifício Pina Contemporânea. Primeira grande mostra da artista chilena no Brasil, a retrospectiva reúne cerca de 200 obras que abrangem os 60 anos de sua produção. Com curadoria de Miguel A. López, a mostra apresenta a ligação de Vicuña com as lutas populares, o respeito aos direitos humanos e a proteção ambiental. Entre os trabalhos em destaque na mostra da Pinacoteca estão a instalação Quipu menstrual (2006), criação site-specific para o museu, e a obra Fidel e Allende (1972), exposta apenas nessa etapa da itinerância.
Poeta, artista visual e ativista feminista, boa parte da produção de Cecilia Vicuña se volta para sua relação com seu país natal, a cordilheira dos Andes, as lutas feministas, a memória têxtil pré-colombiana e a emancipação das comunidades indígenas. Nascida e criada em Santiago, no Chile, a artista vive no exílio desde 1970, ano do golpe militar contra o presidente Salvador Allende. A artista é cofundadora do grupo “Artistas pela Democracia”, criado em Londres, em 1974. Em 2022 ganhou o Leão de Ouro da Bienal de Veneza pelo conjunto de sua obra. No mesmo ano, foi comissionada pela Tate Modern de ocupar o icônico espaço Turbine Hall.
Desde os anos 1960, a artista dedica-se a honrar o equilíbrio e a reciprocidade do mundo natural em um trabalho que valoriza a dimensão ritual, medicinal e curativa da arte. Sonhar a água foi originalmente organizada pelo Museu Nacional de Bellas Artes de Santiago do Chile e itinerou para o MALBA, em Buenos Aires, antes de chegar à São Paulo. O nome da exposição sugere um convite para mudarmos nossa relação com a terra. “Sem umidade não há humanidade”, nos lembra Vicuña.
![A artista Cecilia Vicuña e o curador Miguel López na instalação da obra 'Quipu menstrual, O sangue dos glaciais' — Foto: Reprodução / Instagram](https://cdn.statically.io/img/s2-vogue.glbimg.com/SrBJBLvBXe5XlB412I6fVOHXl7E=/0x0:1125x1110/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_5dfbcf92c1a84b20a5da5024d398ff2f/internal_photos/bs/2024/N/g/hyg6nvTq2QHOZAmC0UUQ/vicuna-e-curador.jpg)
O trabalho Quipu menstrual, O sangue dos glaciais, originalmente concebido pela artista em 2006, foi criado como uma ação ritual para a anulação de um projeto para extração de ouro por meio da destruição de três geleiras no norte do Chile. Adaptada especialmente para o espaço da Grande Galeria, a instalação é composta por nós de lã na cor vermelha e formam um bosque penetrável, no qual os visitantes são convidados a circularem em seu interior.
!['Leopardo fraternal II' (1970), de Cecilia Vicuña — Foto: Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-vogue.glbimg.com/xpBQMrp3C1dSSiQK42ENIjO3Irg=/0x0:1125x848/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_5dfbcf92c1a84b20a5da5024d398ff2f/internal_photos/bs/2024/v/d/9opXm5RAe2BHZGRVLsyQ/vicuna-2.jpg)
“O trabalho de Vicuña, que pode tomar a forma de poesia, pintura, escultura, colagem, desenho e muito mais, se conecta com a forte tradição de experimentação poética desenvolvida no Brasil desde os anos 1950, em que a poesia se converte em um motor de pensamento crítico e mobilização social”, comenta o curador Miguel López.
Pinacoteca Contemporânea: Avenida Tiradentes, 273, São Paulo; @pinacotecasp. Até 15.09.