Terror, violência, mistério: 8 livros para ler em abril

Um dos lançamentos mais aguardados do primeiro semestre, o livro de Bora Chung foi finalista no International Booker Prize pela intensidade que a autora transita entre folclore, realismo mágico, horror e fantasia nos dez contos que o compõem. A escritora sul-coreana, promessa da literatura atual, fala sobre objetos malditos, vozes no escuro, gravidez em risco e outros temas assombrosos sem piedade. Seu interesse principal é uma investigação do feminino contemporâneo a partir de elementos surreais.

Neste romance de não-ficção, Camila Fabbri se coloca no centro de uma tragédia que marcou a Argentina: o incêndio na casa de shows República Cromañón. Foram mais de 1432 feridos e 194 mortos. A combinação de uma precariedade estrutural desses espaços culturais com a sede do público por apresentações de rock chabón cada vez mais cheias de pirotecnias fez com que um foguete atingisse o teto ainda na primeira música que a banda Callejeros performava. A escritora argentina estava lá, naquele 29 de dezembro de 2004, e relata, com alicerces no jornalismo investigativo e em entrevistas feitas com outros sobreviventes, a lembrança do ocorrido.

Entre os livros mais vendidos do país, o título de autoria dos psicanalistas Christian Dunker e Gilson Iannini coloca em discussão a relação complexa entre psicanálise e ciência, em resposta aos tempos de questionamento da eficácia analítica e também da busca incessante por fórmulas prontas que "resolvem" a vida. Aqui, eles argumentam de maneira bastante profunda sobre o pensamento autorreflexivo, a partir de Freud e Lacan, claro, mas também de críticas contundentes feitas pelos filósofos Ludwig Wittgenstein, Karl Popper e Adolf Grünbaum em oposição às contestações infundadas do campo. Não só comprovar que a psicanálise não é bobagem, como indica o título, o livro também defende a cientificidade da prática, que tem desdobramentos para além do meio.

Nova edição deste clássico de Marguerite Duras, com prefácio de ninguém menos que Jacques Lacan – um grande admirador da sua obra literária –, este romance cheio de enigmas desconcerta até os leitores mais atentos. Na história, a protagonista Lola Valérie Stein perde o seu véu social após ser abandonada pelo noivo, trocada por outra jovem mulher. A fantasia do amor e do que ele significava para ela além do afeto é trincada. Dez anos depois, ela revive a situação de um triângulo de abandono afetivo com a amiga e seu companheiro. Nessa narrativa que também aborda os limites da memória, Duras nos coloca na fronteira entre delírio e lucidez.

Seguindo nas investigações acerca da comunidade judaica, Michel Laub, autor de Diário da Queda (2011), apresenta um anti-herói em diálogo com seus familiares mais próximos num comportamento de juízos muito questionáveis acerca dos acontecimentos cotidianos. Corta a cena, anos depois, vagando em um hospital, o advogado protagonista é confrontado por vozes que revivem traumas seculares e dilemas da cultura diaspórica. Entre progressistas e conservadores, o autor nos coloca no centro das convicções militaristas, com ironias e uma visão humanista, do horror pós-pandêmico que vivemos, da apatia diante da morte e da normalização de guerras.

Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2023, Jon Fosse tem sua originalidade literária marcada, principalmente, por este livro, publicado originalmente em 1989. Seu típico (ou atípico) jeito frenético de mergulhar no fluxo de consciência dos personagens apresenta um homem solitário, em uma pequena cidade costeira da Noruega, que é tomado pela angústia de viver. O reencontro com um amigo de infância coloca em xeque aquilo que acreditava sobre relações familiares, amizades, ciúmes e amor – e o faz escrever sobre tudo isso. O tom de thriller deixa a experiência da leitura mais vertiginosa.

Uma história em quadrinhos diferente de tudo o que você possa imaginar. Este livro do italiano Miguel Vila explora as nuances dos desejos e da sexualidade humana a partir de quatro personagens repletos de inseguranças e hipocrisias. Ele foge de estereótipos para propor a discussão acerca das dinâmicas afetivas contemporâneas em conexão com o passado social.

“Se este livro tem algum sentido, é o de afirmar a necessidade do paradoxo. Qualquer pensador, qualquer crítico, qualquer artista afirmava (antes) sua retórica e sua poética na desobediência. Ou seja, na resistência a pensar de uma única maneira”, afirma a escritora argentina Ariana Harwicz sobre o próprio livro. Radicada na França, ela é autora dos romances difíceis A Débil Mental, Morra, Amor e Precoce, e nunca pareceu se interessar pela fuga de temáticas vistas como indigestas. Pelo contrário, sua obra, de ficção ou não, esmiúça dubiedades. Aqui, o ponto de partida bastante pessoal é um convite para a observação das artes a partir de uma lógica radical enquanto forma, conteúdo e interpretação.

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