Junior Lima faz 40 anos e reflete sobre aprendizados e maturidade: "As coisas ficam mais claras"

"É uma idade emblemática. A gente se percebe mais maduro, o mundo fica menos misterioso, as coisas ficam mais claras", diz ele à Vogue. A maturidade, conta, tira também a necessidade da aprovação externa. O Volume 2 vem com a leveza de quem aprendeu a se conhecer e saber do que gosta - e tem ao lado um público fiel. "Passei muito tempo fazendo um mergulho em mim e cavando as coisas que eu gostava e que eu queria. Agora é hora de mostrar", explica Junior. "É legal ver como as pessoas recebem, mas a minha opinião já era formada sobre aquilo. Tem um certo conforto que vem com a maturidade".

Em “Seus Planos”, com direção de João Monteiro, a figura de Junior representa a saudade que acompanha a protagonista em diferentes momentos de um relacionamento novo. Ele também é a personificação da música e de todos os gatilhos de sentimentos presentes nela.

Pai de Otto (6) e Lara (2), marido de Mônica, irmão de Sandy, filho de Xororó e Noely, e, claro, músico - Junior hoje sabe a importância de cada um de seus papéis e da companhia que foi (e ainda é) para uma geração que cresceu dos anos 80 para cá. "Passei por uma fase onde eu recebia o amor, mas eu já não percebia tanto. Estava anestesiado", lembra. Hoje, ressignificou a relação consigo, com o público e a música. Tanto que planeja em breve voltar aos palcos com sua própria turnê. É nele, o palco, onde se sente mais livre. "É uma adrenalina, como um salto de paraquedas que dura uma hora e meia. Estou morrendo de saudade".

A seguir, o bate-papo completo com Junior Lima:

VOGUE Você está completando 40 anos. Como avalia sua vida até aqui e o que representa essa idade para você?
Junior Lima Eu tendo a levar normalmente, mas é uma idade bem emblemática. É um momento que a gente se percebe mais maduro, que o mundo fica menos misterioso, as coisas ficam mais claras. Cheguei aos 40 tendo vivido as experiências da paternidade, tenho dois filhos, é o tipo de coisa muito transformadora e ajuda muito no processo de amadurecimento, eu acho que a gente se depara com questões novas na vida e às quais tem que refletir bastante. Me sinto em momento muito interessante, consigo dar o peso certo para as coisas. É uma das das vantagens de amadurecer.

Vogue Você passou por um processo de mergulhar em si mesmo, se conhecer. Qual principal entendimento teve sobre você?
JL Nos últimos anos pude me entender muito bem. Não só como como pessoa física, mas também como artista, como como profissional. O momento de lançar um trabalho solo é totalmente um reflexo dessa fase, de entender o artista que eu sou, o que que eu tenho que criar, o que quero falar... de me sentir feliz em fazer assim, sabe? É um momento muito precioso de eu me aceitar. Tive os meus conflitos em relação ao meu trabalho. Resolvi fazer um disco gigante com coisas só porque elas me interessam, porque que eu gosto realmente daquilo. Estou nesse momento.

Vogue No final do ano passado você lançou a primeira parte do álbum Solo. Passada essa fase, lançar a segunda traz mais tranquilidade?
JL Dá um alívio, mas eu acho que cada cada lançamento é o único, tem sempre uma expectativa de como aquilo vai bater para as pessoas, como vai ser recebido. Passei muito tempo fazendo um mergulho em mim e cavando as coisas que eu gostava e que eu queria. Agora é hora de mostrar. Acho que tem uma complexidade interessante. É como jogar para o mundo aquele aquele filho que você ficou cuidando há um tempão, passando gelzinho no cabelo e perfumando, sabe? Ao mesmo tempo, hoje em dia, até pelos meus 40 anos, vem uma tranquilidade. Estou muito satisfeito com o que estou fazendo, muito contente. É legal ver como as pessoas recebem, mas a minha opinião já era formada sobre aquilo. Tem um certo conforto aí que vem com a maturidade.

Vogue Como surgiu a ideia do clipe Seus Planos? Você participa também de toda a concepção?
JL Costumo participar bem ativamente e tenho uma equipe muito competente. O lance do clipe é ele (seu personagem) estar presente o tempo todo com um casal, em momentos meio até um pouco constrangedores, e aí tem o momento ali da revelação no final que retorna um pouco mais lúdico a ideia toda. Essa ideia é inspirada em um clipe que eu gosto muito de um artista francês, Sebastian, no qual tem essa brincadeira de você não entender muito bem quem é esse personagem. No final você percebe que ele representa a música. Peguei isso como como ideia inicial e tentei pensar como que daria para contar essa história gerando os conflitos próprios assim, que tem a ver com a letra da música. Estava todo mundo mais tendencioso a lançar outra música do álbum e eu queria essa. Aí um dia nas férias, quando estava com a cabeça mais mais livre no momento que botei as crianças para dormir, fiquei quieto à noite pensando. Então veio a ideia de ampliar esse clipe do Sebastian trazendo o contexto da música em si. Falei da ideia da cena de banheiro, de repente um momento em que eles estejam ali transando e 'como assim, o que esse cara está fazendo aí?' e fomos desenvolvendo.

Vogue Aliás, semana passada você 'causou' com a foto na banheira...
JL A gente sabia que ia dar pano pra manga (risos). Eu gosto de abraçar a piada, sabe? Vamos brincar com isso. Veio também a ideia de fazer tudo assumido, a foto "vazada", porque no fundo a gente sabe como é que funciona. Decidimos mostrar o cronograma e abrir logo o jogo, fazer essa brincadeira. Eu tenho uma base de fãs muito grande que me acompanha há muitos anos e está sempre ali presente para as coisas que eu lanço. Eles são muito muito engajados, faço muitas coisas pensando neles. Vira uma troca. Eu gosto de brincar porque é muito legal o carinho que eles têm, ficam fazendo mutirão para levantar os números, é muito bonitinho assim, dou o maior valor.

Vogue E como foi essa experiência com a nudez?
JL Não é o praxe, né do meu dia a dia assim, não é uma coisa que tomar mais acostumado a fazer mas assim faz parte do trabalho, eu também sou bastante profissional, então assim eu tenho é isso é isso sabe, tipo quero dar uma ideia partiu um pouco de mim assim, né a maneira como como foi contada a história aí veio muito deles, eu fui esperar assim, vamos assado, mas mas enfim faz parte assim, não dá uma oferta pela situação um pouco constrangedora com tapa sexo no sexo algumas pessoas ali e tal, mas é isso, né? Sou artista. Já já atuei bastante acima faz parte faz parte do trabalho, né?

Vogue Falando em zoeira, você fez um post recentemente brincando com comentários chatos que recebeu sobre a primeira parte do álbum. Como lida com críticas hoje em dia? Está mais fácil rir?
JL Ah, dá para rir de boa. Acho que a gente tem que saber de si mesmo. É saudável, temos que saber a hora de levar as coisas a sério e de rir. O mundo já é difícil, a vida já é pesada, se a gente for ficar pensando nisso... É um pouco da música "Foda-se", ela traz esse recado, né? Estou exercitando o que proponho nessa música que gravei do Dani Black.

Vogue Quais são os próximos passos?
JL Eu estou em um passo de cada vez. Vamos lançar Seus Planos e no dia seguinte eu começo a entender como vai ser o lançamento do restante. Será no mês seguinte e vamos lançar tudo de uma vez. Aí começo montar a turnê, para ficar completo. Estou com saudades de shows.

Vogue O que você sente quando está no palco? É uma relação completamente diferente do contato com o público pelas redes, né?
JL Completamente, quase o oposto. É a troca de verdade, né? Onde a coisa acontece. Cara, no show eu sinto quase como se fosse uma outra pessoa ali. É muito transformador, libertador. É um Junior que só sai quando está no palco. Me percebo muito diferente do meu jeito no dia a dia, eu sou muito mais expansivo no palco, é outra parada. Acho que é onde eu sou mais livre. É uma adrenalina, já comparei algumas vezes com um salto de paraquedas que dura uma hora e meia. Estou morrendo de saudade disso, eu amo muito.

Vogue Você se sente livre?
JL Sim e não. Não vou ficar reclamando da vida que tenho sendo que eu vivo no país que eu vivo, mas a gente perde muito também com a vida pública. Não me sinto livre, eu me sinto o mais livre que eu consigo. Me sinto mais livre quando eu estou viajando no exterior, não me sinto observado, sabe? Sou "mais um". A sensação é outra. Não tenho isso no meu dia a dia, por mais que eu esteja fora da mídia em alguns períodos. Então não, eu me sinto mais livre no palco.

Vogue Você é um cara que recebe muito carinho de milhões de pessoas há muitos anos, o que ficou muito claro na turnê com a sua irmã em 2019, por exemplo. Hoje sente que consegue receber todo esse amor?
JL Passei por uma fase onde eu recebia o amor, mas eu já não percebia tanto. Quando moleque, no auge de Sandy e Júnior, houve um momento em que eu já não me dava conta. Sabe quando você está muito tempo em um ambiente que tem um cheiro específico e de início você sente mas depois de um tempo nem percebe mais? Você vai acostumando com o cheiro e eu cresci vivendo exatamente isso. Não é que eu não tinha tesão, mas caiu num lugar meio que normal, eu já não entendia o quanto aquilo era surreal. Estava um pouco anestesiado. Mas isso passou porque fui em busca de outras experiências, fui fazer outros projetos totalmente diferentes e ter contato com outros públicos. Os anos foram passando e quando vi tinha me distanciado muito desse Júnior. 2019 foi muito especial porque eu me entendi muito mais, pude revisitar toda a minha história e entender a relevância do que a gente tinha construído juntos, da importância desse trabalho para toda uma geração de pessoas. Enfim, pude dimensionar melhor a nossa história assim e consequentemente a minha história individual.

Vogue Como isso se reflete em quem você é hoje?
JL Depois do término da dupla tudo se encaixou muito mais na minha cabeça. Embora eu tivesse tido projetos que eu tivesse tido oportunidade de tocar em estádio de novo. É muito diferente estar no lugar que eu estava ali como dupla com a minha irmã, que tem uma coisa especial de família. A gente tem uma relação muito massa com aquele público específico que estava ali. Ver eles não cantando, mas berrando palavra por palavra de cada música, muitas que eu tinha escrito... foi muito especial também porque eu me vi de novo nesse contexto pop. Foi muito reveladora para mim, pude entender que todos os projetos que eu tinha feito desde então foram pequenas faculdades de cada área, de cada gênero, de cada parte de produção, de instrumentação que fui construindo sozinho ali na minha vida, mas tudo isso foi fundamental para me tornar o artista de agora.