Cultura

Por Paula Jacob (@pjaycob)

Alguma vez na vida você já deve ter pensado "e se eu tivesse feito aquela coisa e não essa, que me trouxe até aqui?". Como seria a vida? O que teria sido de si (e dos que estão à sua volta)? Nesse entremeio de tempos, Celine Song faz a sua estreia em um longa-metragem com o sensívelVidas Passadas, concorrente ao Oscar 2024. Vale dizer que só de um filme como este estar na lista de melhores do ano indica uma possível mudança na indústria – tal qual foi Aftersun ano passado, representado pela atuação impecável de Paul Mescal na categoria de Melhor Ator.

Na narrativa, uma história com muitas referências autobiográficas se abre diante dos olhos do espectador. Nora Moon Seung-ah (Greta Lee) é coreana, filha de pais artistas, que imigra de Seul para o Canadá aos 12 anos de idade. Ali, ela cria uma vida que não nos é mostrada, mas intuída, até se mudar para Nova York para estudar – ela quer ser escritora. A diretora, de 36 anos, também é coreana-canadense e mudou-se para a América na mesma idade que a personagem.

Para trás, ficaram não só o costume da língua e o acesso a pratos típicos da cultura, como também o seu melhor amigo de infância e primeiro amor, Hae Sung (Teo Yoo). Doze anos se passaram até eles se reencontrarem virtualmente, graças a um post do Facebook. O carinho cultivado do passado reascende e eles criam uma relação bonita de cumplicidade, com ligações via FaceTime para contar um para o outro como foi o dia. A distância, os ruídos tecnológicos da época e a falta de dinheiro para poderem visitar um ao outro restringe o contato apenas intermediado por uma tela.

Cena de 'Vidas Passadas' — Foto: Cortesia A24
Cena de 'Vidas Passadas' — Foto: Cortesia A24

Nora, que já estava há muito tempo vivendo como norte-americana, só conversava em coreano com a sua mãe e, agora, com Hae Sung. O sotaque arranhado é notado pelo amigo, mas a prática coloca ela de volta nessa frequência. Porém, a não definição dessa relação somada a impossibilidade no curto prazo de se encontrarem pessoalmente deixa a protagonista aflita. Ela, então, toma a decisão de encerrar o que quer que fosse aquilo entre eles, deixando o pseudo-amigo-possível-namorado-crush-de-infância devastado – e nós também, diga-se.

Cena de 'Vidas Passadas' — Foto: Coleção Everett / Cordon Press / Divulgação
Cena de 'Vidas Passadas' — Foto: Coleção Everett / Cordon Press / Divulgação

O tempo cura muitas coisas, e também nos faz refletir sobre os ciclos da vida. Nora parte para uma residência artística numa região longe dos altos prédios nova-iorquinos, e encontra na paisagem idílica o também escritor Arthur (John Magaro). Se identificam, se amam, se casam e ficam juntos por mais 12 anos no tempo do filme. Não sabemos muito bem detalhes da vida familiar deles, temos indícios dos rumos das carreiras, e isso é interessante porque deixa o foco de Vidas Passadas totalmente voltado para o que não foi e o que é. Eles têm certa estabilidade financeira, têm projetos que deram certo e são próximos dos parentes.

Cena de 'Vidas Passadas' — Foto: Cortesia A24
Cena de 'Vidas Passadas' — Foto: Cortesia A24

O amor e cumplicidade de Nora e Arthur é admirável. Eles driblam as burocracias da vida adulta com afeto, mas quando elas aparecem, também não fogem das respectivas responsabilidades. E essas estruturas são colocadas em xeque, ou possivelmente em xeque, quando Hae Sung finalmente decide ir para Nova York encontrar a amiga. São dez dias de chuva em uma cidade cheia de coisas para conhecer, e os únicos momentos de sol, ele passa com ela em atividades corriqueiras como ir ao parque.

Arthur sabe de tudo e dá espaço para eles, está interessado em permanecer ali para o que a companheira precisar. Nora e Hae se entendem depois de tantos encontros e desencontros – qualquer semelhança com o filme de Sofia Coppola não é tão mera coincidência assim. E apesar de termos sido criados por comédias românticas que nos dão a falsa sensação de que “se largar tudo, vai dar certo”, Celine Song opta por outro caminho: sua protagonista sabe dos ciclos que encerrou, da vida que escolheu ter do outro lado do mundo, em outra língua, em outro fuso, com outro homem.

Cena de 'Vidas Passadas' — Foto: Divulgação
Cena de 'Vidas Passadas' — Foto: Divulgação

Mesmo ainda sonhando em coreano – na cena mais linda do filme –, ela está ali no agora porque tudo a levou para aquilo. E ela não tem arrependimentos e nem hesitações. É uma mulher contemporânea dona da sua visão, do seu destino. Em um ótimo diálogo com o marido, ela diz para ele, meio inseguro, “Você me conhece, acha que vou perder meus ensaios por causa de homem”. Em qualquer comédia romântica dos anos 2000, ela teria, sim, largado tudo para viver uma incerteza. Não que a gente não possa sonhar ou ter como possibilidade, às vezes, deixar muita coisa para trás e se jogar no desconhecido. Mas, aqui, no contexto do filme, não fazia sentido.

Além da história simples abordada de um jeito delicado, e da montagem que traz cenas lentas, silêncios importantes e diálogos certeiros, destaco também os personagens masculinos, que fogem dos estereótipos “másculos” tão propagados pelo cinema. Eles carregam uma sensibilidade admirável, sem medo de serem vulneráveis ou de assumirem os próprios desejos.

Vidas Passadas é emocionante porque trabalha nas fronteiras da linguagem, da tradução dos corpos e sentimentos. Para um, ela é a que fica; para o outro, a que vai embora. Escolhas trazem essas dualidades e viver é estar cheio delas. Que bom que existem os ciclos para nos ajudar a compreender o que foi, o que é e o que será de nós enquanto pessoas.

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