Cultura

Por Laís Franklin (@laisfranklin)


Uzo Aduba (Foto: Divulgação/Fox Premium) — Foto: Vogue
Uzo Aduba (Foto: Divulgação/Fox Premium) — Foto: Vogue

Uzo Aduba marcou a indústria do entretenimento por sua personagem Suzanne Crazy Eyes, na série de drama Orange Is The New Black, hit de streams da Netflix. Com ela, despontou na carreira, ficou conhecida globalmente e arrematou cinco SAG Awards mais dois Emmy: de Melhor Atriz Convidada em Série de Comédia, em 2014, e de Melhor Atriz Coadjuvante em Série Dramática, em 2015. O terceiro - de Melhor Atriz Coadjuvante em Minissérie ou Filme para a Televisão - veio agora, por sua atuação brilhante na minissérie baseada em fatos reais Mrs. America, que acaba de estrear no canal FOX Premium 1 e que está disponível na íntegra no App da FOX para assinantes.

Uzo interpreta ninguém menos do que Shirley Chisholm, figura pouco conhecida por aqui, mas que revolucionou a politica estadunidense ao ser primeira afro-americana eleita para o Congresso, em 1968, e também a se candidatar à presidência. “Ser o primeiro em algo significa ter uma grande responsabilidade. Acho que Shirley entendeu muito bem e levou seu trabalho muito a sério porque sabia quem estava representando, sabia que sua voz era importante para sua comunidade", conta Uzo Aduba à Vogue Brasil, em mesa redonda com exclusividade no Brasil, via Zoom. "Imagino o peso que ela carregava como uma negra que naquela época lutava pela igualdade. Seu legado abriu as portas para que muitas outras mulheres pudessem sonhar com uma carreira na política”, explica ela,

Criada por Dahvi Waller, a mesma de Mad Men, Mrs. America mostra com primor os dois lados da moeda da disputa política que dividiu os anos 70: a segunda onda feminista nos anos 1970, que buscava ratificar a Emenda de Igualdade de Direitos (ERA, de Equal Rights Amendment), um anexo da constituição que garante a igualdade de direitos legais entre sexos; e o levante de oposição chamado STOP ERA, liderado por donas de casa da ala conservadora-cristã do partido republicano. A trama é toda amarrada pelo ponto de vista de Phyllis Schlafly. A advogada, interpretada por Cate Blanchett (que estrela e produz Mrs. America), julgava a emenda como um perigo às normas e que culminaria em "mães de família" precisando se alistar e servir o exército americano.

Ou seja, de um lado, temos Gloria Steinem, Shirley Chisholm e Bella Abzug querendo ampliar os direitos de igualdade de gênero e, de outro, há o movimento contrário de mulheres como Alice Macray (Sarah Paulson) liderado por Phyllis, que buscava brecar a ERA sob o pretexto de que o único lugar possível para mulher seria o que envolvesse cuidar das tarefas domésticas e dos membros da família (leia-se heteronormativa). "Uma das razões pelas quais estava animada para contar essa história do ponto de vista de Phyllis Schlafly era porque eu realmente sinto que nós, como progressistas, precisamos saber o que estamos enfrentando. Nós precisamos entender quão fortes são os movimentos, de contra-revolução e como eles têm o poder de nos atrasar por muitos, muitos anos", defende Dahvi. Confira abaixo o papo completo da mesa redonda com Uzo Aduba e Dahvi Waller sobre os pontos altos da série, bem como a importância dela em 2020, em tempos de Black Lives Matter e ano de eleições nos EUA:

Uzo, No final do seu discurso do Emmy 2020 você disse: "Vamos mudar o mundo!". Quão diferente você acha que o mundo seria se Shirley Chisholm tivesse vencido as eleições presidenciais naquela época e para você qual é o legado dela?
UZO ADUBA: Olha, posso dizer que muitas da guerras culturais de hoje existem por uma falta de representatividade. Ser a primeira significa ter uma grande responsabilidade. Acho que Shirley entendeu isso muito bem e levou seu trabalho muito a sério porque sabia quem estava representando, sabia que sua voz era importante para sua comunidade. Imagino o peso que ela carregava como uma negra que naquela época lutava pela igualdade.

Mrs América tenta mostrar como chegamos aqui, o quão longe ou não chegamos e como chegamos até aqui. Vamos dar uma olhada neste ano eleitoral aqui nos Estados Unidos onde temos uma mulher negra (Kamala Harris), candidata ao Vice-presidência, e demorou quase 50 anos, desde Shirley Chisholm, para essa indicação acontecer. O legado dela abriu portas para tantas mulheres pudessem sonhar com uma carreira na política, como Geraldine Ferraro, Hilary Clinton ou Sarah Palin. Essas mulheres não existem sem aquele primeiro passo, elas não existiriam sem Shirley, especialmente em se tratando de mulheres negras.

Uzo Aduba (Foto: Divulgação/Fox Premium) — Foto: Vogue
Uzo Aduba (Foto: Divulgação/Fox Premium) — Foto: Vogue


A série está chegando agora ao Brasil, mas teve sua estreia em abril nos EUA, e muitas coisas aconteceram desde então, especialmente dentro do movimento Black Lives Matter, vocês acham que isso mudou a forma como o público se conecta com as histórias contadas em Mrs. América?
DAHVI WALLER: Este é um programa sobre ativismo popular, e agora que estamos
vendo este incrível ativismo de base sábio e inspirador hoje com Black Lives
Matter, acho que a história da Mrs. América acabou ficando ainda mais atual. Porque é
realmente sobre como as pessoas se unem para efetuar mudanças, e como é desafiador realmente fazer com que algo significativo mude, aconteça. Tenho esperança de que realmente veremos uma mudança duradoura em nossa sociedade a partir desse protesto.

UZO ADUBA: É bom ver agora neste movimento de Black Lives Matter que a mudança não acontece da noite para o dia, o que é algo que Dahvi disse aqui. Black Lives Matters não começou nesta primavera. Mas levou algum tempo para o mundo reconhecê-los enquanto ativistas e dar a legitimidade que eles merecem. E eu acho que esses paralelos existem na Sra. América também. Levou tempo para as mulheres, para o movimento feminista florescer, legitimar as questões das mulheres, as demandas das mulheres. Então, acho que é emocionante ver isso na tela.

DAHVI WALLER: Uma das razões pelas quais eu estava animada para contar essa história do ponto de vista de Phyllis Schlafly era porque eu realmente sinto que nós, como progressistas, precisamos saber o que estamos enfrentando. Nós precisamos entender quão fortes são os movimentos de reação, de contra-revolução e como eles têm o poder de nos atrasar por muitos, muitos anos.

Cena de Mrs. America (Foto: Divulgação / Fox) — Foto: Vogue
Cena de Mrs. America (Foto: Divulgação / Fox) — Foto: Vogue

Dahvi, o quanto você acha que o papel das mulheres mudou dos Anos 70 para cá?
DAHVI WALLER: Mudou muito e não mudou nada, acredito. As mulheres têm muito mais oportunidades hoje. Você sabe, nos anos 70, talvez houvesse apenas algumas mulheres escrevendo na TV, hoje onde você sabe em 30% e 35% nos EUA. Mas o mesmo sexismo no local de trabalho persiste. Acho que nós mulheres ainda lutamos para equilibrar carreira e vida doméstica.

Acabei de ler um artigo que durante a pandemia, onde há apenas aumento do trabalho doméstico porque todo mundo está em casa com as crianças. Cabe principalmente às mulheres cortar de volta ao horário de trabalho para cuidar das tarefas domésticas. Então dessa forma nós realmente não percorreu um longo caminho desde os anos 70. E uma das coisas que eu realmente queria fazer com o programa era mostrar tantas maneiras diferentes de ser mulher. Nós temos um conjunto incrível de todos os tipos de mulheres que não eram monolíticas.

Dahvi Waller, criadora de Mrs. America (Foto: Divulgação/Fox Premium) — Foto: Vogue
Dahvi Waller, criadora de Mrs. America (Foto: Divulgação/Fox Premium) — Foto: Vogue

Li que você passa muito tempo lendo jornal.com jornais para entrar na mente dessa mulher naquela época. Como foi essa experiência?
DAHVI WALLER: Eu era especialista em história na faculdade. Nunca tive medo de pesquisar. Para muitos escritores, a ideia de fazer dramas históricos é sempre assustadora, porque envolve muita pesquisa, especialmente neste período de tempo, abrangendo oito anos. Eu meio que adoto uma abordagem de pesquisa imersiva. Então eu quero, eu não quero qualquer coisa passe pelo filtro de biógrafos.

Queria realmente conseguir captar as vozes das mulheres daquela época. A maneira como elas falavam, por exemplo, era bem específica. Se você ler uma entrevista hoje com Gloria Steinem, ou qualquer ativista daquele tempo que ainda esteja viva, ela vai falar de uma maneira diferente da que falava nos anos 70. Então, quis ter essa perspectiva de época com precisão, gosto de ler seus escritos e entrevistas e a forma como a mídia escreveu sobre essas mulheres nos anos 70. É sempre divertido ler o tipo de coloquialismo e as gírias da época.

Cena de Mrs. America (Foto: Divulgação / Fox) — Foto: Vogue
Cena de Mrs. America (Foto: Divulgação / Fox) — Foto: Vogue

E como você conseguiu dar a eles protagonismo e equilibrar os dois lados da história?
DAHVI WALLER: Em termos de equilibrar todas as diferentes mulheres, li muito e muitas histórias orais de mulheres, não apenas daquelas famosas na linha de frente. Tinha lido um pequeno artigo sobre uma mulher chamada Dorothy, que era uma das filhas de vizinhos da Phyllis Schlafly e que acabou aderindo ao movimento. E então ela, junto com algumas outras mulheres com quem falei, que viveram naquela época e que foram Schlafly Eagles, se tornaram a base para uma personagem composta chamada Alice (Sarah Paulson). Queria Alice e Pamela fossem diferente de Phyllis. E Rosemary Thompson é outra personagem da vida real interpretada por Melanie Lynskey. Eu li o livro dela e o jeito que ela escreve é tão diferente da maneira como Phyllis escreve. Ela tem um aspecto muito mais emocional e uma abordagem menos analítica, de modo que formam a base da escrita para Rosemary, personagem de Thompson.

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