![Harry Styles no Festival Internacional de Cinema de Veneza — Foto: Getty Images](https://cdn.statically.io/img/s2-vogue.glbimg.com/NwoZUj76_2sDpbz7YSk-CM-9ABw=/0x0:1124x1511/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_5dfbcf92c1a84b20a5da5024d398ff2f/internal_photos/bs/2022/o/D/u9H9y4StGmrHi6rXw2Bg/harry-styles-no-festival-internacional-de-cinema-de-veneza.jpg)
Protagonistas na definição de tendências e desejos de consumo desde sempre, as passarelas agora ensaiam sintonia fina com um mundo de influências da nova e onipresente cultura digital. Hoje parece longínquo o tempo em que as grandes marcas indicavam o que devia acontecer na moda e na indústria fast-fashion, com diretores criativos determinando as tendências – logo disseminadas pelas etiquetas de grande público. Todo esse crédito e autoridade ficaram para trás por causa do digital, que passou a ditar códigos aos quais as maisons tentam se adaptar. Por isso, elas reforçam cada vez mais suas equipes comerciais e analisam o mercado com interesse e precisão. E já não se satisfazem só com as propostas de estilo do “gênio criativo” de seus estilistas. São eles, aliás, que devem, obrigatoriamente, respeitar os planos de coleções ditados pelos merchandisers e especialistas em imagem de marca.
![Julianne Moore no Festival Internacional de Cinema de Veneza — Foto: Getty Images](https://cdn.statically.io/img/s2-vogue.glbimg.com/c0FNRt0KV2uukyoG9hYAkJAsol8=/0x0:1232x1932/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_5dfbcf92c1a84b20a5da5024d398ff2f/internal_photos/bs/2022/9/9/AjVTHhSx2kEwbYuBHaxg/julianne-moore-no-festival-internacional-de-cinema-de-veneza.jpg)
Nessas condições, para manter-se relevantes, comentadas e em evidência, as grifes de luxo não só promovem desfiles audaciosos, autênticas demonstrações de poder, como definem uma quantidade surpreendente de estratégias. O campeão delas tem sido Demna Gvasalia, diretor criativo da Balenciaga. Como poucos, ele sabe lidar com as convenções da moda com irônicos e até surreais comentários sociais. Quando apresentou, no ano passado, o verão 2022, com uma cena épica para “sensacionalizar” a volta dos desfiles presenciais pós-pandemia, conseguiu materializar evento inédito, simulando um mix de estreia de filme com tapete vermelho-festa, repleto de celebridades e modelos, numa “confusão” intencional. O espaço para a entrada de convidados, a maioria vestindo Balenciaga, era uma extensão do cenário em que acontecia, quase ao mesmo tempo, o desfile. Ao vivo, câmeras de TV mostravam, em zoom, rostos, roupas, sapatos, bolsas e joias, enquanto os paparazzi gritavam ordens, indicando os melhores ângulos. Tudo transmitido online, para o mundo e para quem estava in loco. Nenhuma distinção entre o que era desfile de moda, parada de celebridades, showbiz e interesses digitais. Isto porque a Balenciaga tem tantos seguidores nas redes que, na visão de Demna, a marca está se transformando em algo muito próximo ao espetáculo. “É mais como música e cinema. Gosto de explorar essas fronteiras”, diz ele.
![Timothée Chalamet no Festival Internacional de Cinema de Veneza — Foto: Getty Images](https://cdn.statically.io/img/s2-vogue.glbimg.com/XMt94_wchEQLXk9k3oNxotg-ruk=/0x0:1059x1630/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_5dfbcf92c1a84b20a5da5024d398ff2f/internal_photos/bs/2022/l/B/YVWAVSQK2KTVY7IN3VBQ/vg528-pg54-55-coluna-constanza-4.jpg)
Ultramidiatizados, os verdadeiros red carpets também são populares e animados influenciadores de tendências. Um dos mais glamorosos, e o meu favorito, é o Festival Internacional de Cinema de Veneza, conhecido por dar aos criadores liberdade artística. Ele parece estimular a criatividade até nos looks. Celebridades de primeira grandeza não apenas promovem seus novos filmes, mas proporcionam momentos de estilo, exibindo notáveis criações do prêt-à-porter e da alta-costura.
![Jodie Turner-Smith no Festival Internacional de Cinema de Veneza, pelos red carpets propriamente ditos ou na passarela informal na qual se transformou a chegada ao festival — Foto: Getty Images](https://cdn.statically.io/img/s2-vogue.glbimg.com/CMift0kpl380X-0PzEb-brRQlmU=/0x0:1059x1691/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_5dfbcf92c1a84b20a5da5024d398ff2f/internal_photos/bs/2022/V/B/AEft3BRnuZRXABGqAhgA/vg528-pg54-55-coluna-constanza-5.jpg)
Assim, todos conectados, impossível não se deixar seduzir e influenciar pela imagem do ator Timothée Chalamet – estrela de Bones & All, filme de Luca Guadagnino – vestindo calças e frente única de seda vermelha, criação de seu amigo Haider Ackermann. Entretanto, este ano, a grande novidade foi que, além da rubra passarela oficial onde puderam ser admiradas roupas de gala, uma outra, nova, mais casual, aconteceu. Convidados célebres chegando no aeroporto ou em lanchas em Veneza foram amplamente mostrados, evidenciando o requinte especial e o glamour da montação de ocasião. De Julianne Moore, presidente do júri do festival, de estilo casual chique – blazer, bolsas e mocassins Gucci – ao incrível visual de Jodie Turner-Smith com seu duas-peças esvoaçante-semitransparente nos tons amarelo/ rosa, mais duas bolsas Gucci, chegando para promover White Noise, filme de Noah Baumbach, que abriu o festival. Ou o total look Gucci do superdiscutido Harry Styles, que está em Don’t Worry Darling, dirigido por sua neonamorada Olivia Wilde. Diante de tantas imagens, difícil não perguntar: desfile espontâneo ou estratégico? Na verdade, tanto faz. O que conta é que tudo será muito visto, divulgado, reconhecido, inclusive digitalmente. E que ficção e realidade seguem lado a lado nesses novos tempos.