“Ela tem duas bolsas Fendi e um Lexus prata” é uma frase que muitos fãs de clássicos da cultura pop vão reconhecer. Ela é parte da introdução de Regina George, a loira popular por quem toda a escola é apaixonada na comédia adolescente Mean Girls (2004).
Ironicamente, são modelos da Louis Vuitton que acompanham a “abelha-rainha do ensino médio” durante o longa. Mas a menção às bolsas Fendi não foi à toa. Na época em que o filme estreou, o acessório – ou melhor, a Baguette – era um must-have no guarda-roupa de qualquer fashionista que queria estar minimente atualizada.
Carrie Bradshaw, de Sex & The City, que o diga. A personagem de Sarah Jessica Parker foi protagonista de uma das cenas mais icônicas relacionadas à it-bag dos anos 2000. Em um episódio da 3ª temporada, ela corrige um ladrão, em pleno assalto, que sua bolsa é, na verdade, “uma Baguette!”.
It-bag, bolsa icônica ou must-have fashionista: são todos sinônimos para a Baguette da Fendi. A bolsa, inclusive, nasceu para ser todos eles. Silvia Venturini Fendi, a terceira geração da família italiana, criou a bolsa em 1997 esperando justamente que ela fosse uma companhia cotidiana das mulheres: prática, leve e fácil de carregar debaixo do braço, como os franceses fazem com as baguetes.
Silvia não idealizou o item sozinha. Contou com o time de designers da casa que, na época, incluía Pierpaolo Piccioli e Maria Grazia Chiuri, hoje diretores-criativos na Valentino e Dior. A inspiração para o acessório foram as bolsas vintage, das décadas de 1920 e 1930, que sua avó, Adele Casagrande, que participou da fundação da Fendi em 1925, colecionava.
No final dos anos 90, a moda era sobre inovação. Tom Ford, Alexander McQueen, John Galliano estavam revolucionando na passarela e o sucesso de Karl Lagerfeld (que também estava na Fendi desde 1963) na Chanel e Gianni Versace só crescia. Ainda assim, não era o melhor dos tempos para o surgimento de acessórios icônicos que fossem modernos na essência.
Com exceção da Vela, a mochila de nylon lançada por Miuccia Prada em 1984, as it-bags entravam quase todas no padrão da elegância clássica. Era o caso dos ícones da Hermès, a Kelly (1977) e a Birkin (1984), a Lady Dior (1995) e a 2.55 e 11.12 da Chanel. É verdade que, desde os anos 70, também havia a Jackie, da Gucci, um modelo hoje considerado “cool”, mas esse twist veio apenas em 1999, com Tom Ford.
A bolsa Baguette era diferente de tudo e, por isso, foi um sucesso. A demanda na Europa foi tão grande que a Fendi lançou um conceito inédito do universo fashion: a lista de espera. Essa inovação, comum na moda hoje, é mais uma entre os vários pioneirismos da marca ao longo de seu existência.
Em 1977, por exemplo, a casa italiana foi a primeira a lançar um fashion film, chamado Histoire d’Eau, décadas antes do formato se popularizar entre as grandes marcas durante a pandemia, em que desfiles presenciais se tornaram inviáveis.
A explicação para o status icônico da Baguette está na sua constante inovação. Desde seu lançamento, o item já foi lançado em centenas de edições e reedições.
Os dois F’s espelhados que formam o monograma da marca (criado em 1965 por Karl Lagerfeld) também são constantemente reinventados, aumento o frescor do acessório. Em 2021, nasceu o FF Vertigo, uma versão psicodélica do motivo clássico, criada pela artista nova-iorquina Sarah Coleman.
Foi na temporada de outono-inverno de 2019/2020 em que acessório finalmente quebrou as barreiras de gênero, entrando para os desfiles masculinos da Fendi.
O momento mais significante da Baguette nas passarelas masculinas, até agora, foi na coleção de outono 2022. Nela, o acessório apareceu pela primeira vez com a estampa O’Lock, outra edição do monograma, inspirada nas joias criadas por Delfina Delettrez Fendi, filha de Silvia.
O recente revival dos anos 2000 pode explicar o fascínio das novas gerações com a bolsa Baguette. A Saddle, da Dior, criada por John Galliano em 1999, também é uma das it-bags do Y2K que voltou a ser queridinha. Depois de praticamente desaparecer das passarelas em 2003, foi finalmente resgatada por Maria Grazia Chiuri no outono de 2018.
Esse não foi o caso da Baguette, que nunca deixou de aparecer nos shows da Fendi. Pelo contrário, a marca nunca esqueceu seu ícone. Em 2012, a casa italiana celebrou o aniversário de 15 anos da bolsa com a Baguettemania, um movimento internacional que começou em Paris. Na ocasião, foi publicado um livro luxuoso sobre o acessório e a inaugurada uma pop-up store na descolada (agora já fechada) loja Colette.
O evento foi reproduzido em Londres, Milão, Los Angeles e Tóquio, e chegou ao Brasil em 2013, junto com a inauguração da primeira loja no país e cinco modelos da bolsa Baguette customizados por cinco artistas brasileiros.
Em 2019, a Fendi lançou a campanha #BaguetteFriendsForever, com uma série de nove vídeos com personalidades estilosas celebrando o comeback da bolsa. Entre elas, a supermodelo Winnie Harlow protagonizou um episódio em que encontra uma Baguette amarela, batizada de FendiFrenesia. O item se tratava de uma edição limitada da bolsa criada pelo perfumista Francis Kurkdjian (o nome por trás do Le Mâle, de Jean-Paul Gaultier) com um couro aromatizado.
A mesma campanha trouxe um episódio com uma participação especial da própria Sarah Jessica Parker, com a edição icônica em paetês roxos da Baguette, o mesmo design que protagonizou a cena do assalto Sex & The City, em 2000. O modelo foi novamente relançado em 2022, por mais de R$ 20 mil, para celebrar a estreia de And Just Like That, a continuação da série dos anos 90. Para combinar, também foi criada uma edição-limitada em rosa, em parceria com a atriz.
No ano anterior, a Baguette já tinha sido o foco de outra campanha, The Baguette Walk. Filmada em Paris, ela apresentou ao mundo a Baguette 1997, uma revisitação do modelo original lançada na coleção cápsula de verão 2021.
Rastrear a trajetória completa da bolsa Baguette é uma tarefa quase impossível. Com centenas de versões limitadas, perfumadas, clássicas, básicas ou luxuosas, esse acessório traz todo o estilo e versatilidade que esperamos e amamos em uma it-bag.