Beleza
Por , em colaboração para a Vogue

Quando olhamos para as tendências de tempos passados, é quase impossível separá-las do contexto social de suas épocas. O surgimento das minissaias em 1960 não nos deixa mentir: ele estava intrinsecamente ligado ao movimento de libertação feminina daquela década. Hoje, o laço é o grande acessório da vez, ocupando um papel central na moda e na beleza nesse último ano – mas a sua história remonta a cenários bem anteriores aos virais do TikTok. Cottagecore, balletcore, regencycore, coquettecore: as estéticas populares trazem o resgate de símbolos associados aos estereótipos de feminilidade. Mas será que ainda faz sentido reduzi-los a isso?

Juju Bonjour usa vestido ÃO, tênis Onitsuka Tiger, meias Lupo e laços feitos com fitas de cetim — Foto: Maria Magalhães
Juju Bonjour usa vestido ÃO, tênis Onitsuka Tiger, meias Lupo e laços feitos com fitas de cetim — Foto: Maria Magalhães
Versace verão 2024 — Foto: Spotlight
Versace verão 2024 — Foto: Spotlight
Chanel alta-costura Verão 2024  — Foto: Spotlight
Chanel alta-costura Verão 2024 — Foto: Spotlight

O próprio estilo coquette, que deu o impulso principal para o retorno do acessório, já propõe um outro olhar sobre o rococó e os elementos românticos. Das camisolas de seda aos corsets, o visual não soa nem ingênuo, nem construído para agradar o olhar masculino. Segundo Carol Siq, professora doutora em história da moda na Universidade Estadual de Maringá (UEM), a busca pelo laço (que cresceu exponencialmente nos últimos meses, segundo o Google Trends) pode ser interpretada como uma ferramenta para compreendermos o momento de revisão da ordem vigente perpetuada por séculos, que afeta não só a moda, mas também questões comportamentais e de gênero. “É algo típico das viradas de séculos nos últimos 300 anos”, explica a acadêmica. “A ideia do laço como um ícone do estilo bibelô ainda está enraizada no imaginário coletivo. Mas temos visto outras formas de pensar esse símbolo do feminino: se, antes, o enfeite estava atrelado a uma feminilidade dócil, limitante e até submissa, agora, parece ampliar a voz da mulher que é dona das próprias escolhas.”

Nem sempre é simples datar oficialmente o início de uma tendência, porém, é seguro afirmar que o acessório teve um grande boom durante a temporada de inverno 2023. Uma das imagens mais marcantes: a das modelos com laços longos colados nas bochechas para a passarela de Simone Rocha, com beleza assinada pelo maquiador australiano Thomas de Kluyver e tranças nagôs esculturais feitas pela hairstylist jamaicana Cyndia Harvey. Poucos dias antes, o enfeite já havia sido eleito pela marca Sandy Liang como destaque dos cabelos de seu desfile. A grife, aliás, pode ser considerada uma das responsáveis por trazer novas dimensões ao adereço. A etiqueta fundada em 2014 por Liang, designer nova-iorquina com ascendência chinesa, traz referências das personagens de anime e dos uniformes de colégios tradicionais. Junto a esses elementos, Liang adiciona camadas de streetwear, utilitarismo e modelagens sóbrias da alfaiataria. O resultado é cheio de frescor.

Não demorou para que o acessório começasse a dominar a cabeça de celebridades como Sarah Jessica Parker, Tessa Thompson, Jennifer Lopez e Lana Del Rey e invadisse o street style. Na semana de alta-costura verão 2024, que aconteceu no fim de janeiro em Paris, o laço se reafirmou como tendência: Chanel, Dior e Giambattista Valli apostaram no enfeite com abordagens e acabamentos diferentes. Grandes ou finos, de cetim ou seda, preto ou cor-de-rosa, na passarela tinham estilos para todos os gostos.

Sandy Liang — Foto: Reprodução Instagram
Sandy Liang — Foto: Reprodução Instagram
Giambattista Valli — Foto: Reprodução Instagram
Giambattista Valli — Foto: Reprodução Instagram

Apesar de os primeiros registros históricos do laço como acessório datarem de 2.600 a 2.500 anos a.C. – com exemplares revestidos de ouro expostos no Metropolitan Museum of Art (MoMA), em Nova York –, foi só depois do século 18 que ganhou uma divisão marcada pelo gênero. Até então, o laço era usado majoritariamente por homens, para fazer as vezes de cinto ou amarrar as mangas de camisas. A mudança começou com um episódio curioso: na França dos anos 1680, a Marquesa de Fontange, considerada uma das amantes do rei Luís 14, perdeu seu chapéu enquanto andava a cavalo. Na época, uma mulher ser vista com o cabelo solto era considerado inapropriado. Assim, ela arrancou um laço do vestido e prendeu os fios. O rei gostou tanto do visual que o penteado logo virou febre. Algumas décadas depois, a rainha Maria Antonieta ajudou a transformar a peça em símbolo de status.

Para a beauty artist Vale Saig, o laço abre possibilidades para uma beleza mais divertida, que não se leva tão a sério. “Gosto de usar o acessório de maneiras não convencionais e em lugares menos óbvios. Podemos aplicá-lo na maquiagem, tanto em forma de adesivos quanto com um pincel, desenhando seu formato. O interessante é pensar fora da caixa”, compartilha. Nos cabelos, as opções também fogem cada vez mais do clássico. “Não se prenda ao tradicional laço no topo da cabeça. Espalhe pelos fios, brinque com diferentes tamanhos, quantidade e materiais no mesmo penteado. Quem usa trança pode até mesmo moldá-los com o próprio cabelo”, indica ela.

Longe de ser uma amarra, o laço parece representar, cada vez mais, uma reafirmação da individualidade. “É, em síntese, uma forma de declarar a liberdade sem precisar fugir da ideia de feminilidade, pois a convicção de que sejam duas coisas distintas está sendo superada”, destaca a professora Carol Siq, que completa: “É importante ter em mente que toda postura estética está atrelada a uma postura política, ora para reforçar o status quo, ora para ser disruptivo a ele. Se o poder simbólico que o laço representava já não é mais imperativo, é também porque a mulher tem hoje mais força social para afirmar seu ser feminino com menos medo, assim como para questioná-lo”.

STYLING: Juju Bonjour
ASSISTENTE DE STYLING: Valentina Steinle.

Mais recente Próxima Loiro mel, a nova cor de cabelo de Zendaya, promete bombar no outono 2024
Mais do Vogue

Primeira-dama cria iniciativa para direcionar recursos para pesquisas e políticas públicas para saúde feminina

Estrela da edição de agosto da Vogue América, Jill Biden sai em defesa das mulheres

Influenciadora publicou diversos cliques com amigos e ao lado do namorado, Pipo Marques

Mari Gonzalez abre álbum de fotos do mês de junho: "Teve de tudo um pouco"

Skatista publicou clique em frente ao espelho da academia

Letícia Bufoni posa com look fitness all red para iniciar rotina de treinos

O cinto em destaque virou acessório indispensável para a cantora - nos palcos e fora dele

Esse é o truque de styling favorito de Dua Lipa no momento

A lei passa a exigir que estabelecimentos com bebidas alcóolicas à venda tenham placas com a mensagem: “Kits de teste de drogas disponíveis aqui. Peça detalhes a um membro da equipe"

Nova lei da Califórnia exige que bares e baladas ofereçam dispositivos de teste de drogas

Os dois completaram em junho um ano de relacionamento

Maraisa e Fernando Mocó marcam a data do casamento

Influenciadora publicou novo vídeo em seu perfil do Instagram

Após briga com Arthur Aguiar, Maíra Cardi posta sobre respeito nas redes sociais

Apresentadora está visitando o país ao lado do marido e filho

Adriane Galisteu abre álbum de fotos de viagem ao Japão

Um ano após o fim do casamento com Tori Spelling, ele celebrou sua nova conquista. “Se você está lutando contra o vício, apenas se renda e peça ajuda”

Ator Dean McDermott festeja um ano de sobriedade: "Apenas se renda e peça ajuda"