Vogue Repórter

Por Gisele Borges, em depoimento à Vogue

"Descobri o câncer de mama aos 32 anos, no auge da minha vida profissional. Eu era uma pessoa workaholic, não parava um minuto e fazia mil coisas ao mesmo tempo. Sistemática e organizada, sempre amei planejamento. Mas não planejei ter um câncer.

Em dezembro de 2018, em um autoexame durante o banho, senti uma mama mais endurecida que a outra. Acendi o alerta. Procurei um médico e os exames diagnosticaram cinco tumores: dois na mama, um com 6 e outro com 4 centímetros, dois na axila e um na mamária interna. O câncer era invasivo e já estava em estágio avançado. Meu chão se abriu.

Ao receber o diagnóstico é comum sentir a informação como se fosse uma “sentença de morte”, afinal, o câncer é uma doença que carrega muitos mitos. Decidi acolher meus sentimentos, deixei as lágrimas rolarem, e busquei a força que jamais imaginei ter. Me permiti sentir e viver aquele momento desafiador.

A consulta aconteceu no dia 21 de dezembro, faltavam apenas três dias para o Natal. Não foi o melhor Natal da minha vida, mas sem dúvida foi o mais importante, pois eu não sabia se estaria presente nos próximos. Cinco dias depois, fui internada para colocar um cateter, port-a-cath, um aparelho instalado sob a pele que conecta a uma veia para infusão de medicamentos. O réveillon também não foi o melhor e mais alegre, mas foi o que fiz minhas mais sinceras orações e agradecimentos.

Gisele Borges — Foto: Arquivo Pessoal
Gisele Borges — Foto: Arquivo Pessoal

No dia 2 de Janeiro de 2019 iniciei a quimioterapia. Estava bastante ansiosa e preocupada. Era tudo novo e isso me assustava. As enfermeiras iniciaram as medicações e junto ao meu esposo me deram todo o apoio emocional que eu precisava para vencer aquele momento. Aí começam os laços que foram necessários para o meu recomeço. Minha rede de apoio.

Quando iniciei o tratamento, após a primeira quimio, decidi raspar os cabelos. Gosto de falar sobre este tema com muito carinho e respeito a todas as pessoas que passam por isso, pois cada um reage de uma forma diferente a este momento e não existe certo e errado. Eu não queria ver meus cabelos caindo, então fui ao salão e pedi para raspar. Coloquei uma prótese capilar, muito semelhante ao meu cabelo, mas aos poucos a doença se fez presente em minha fisionomia. Além dos cabelos, perdi os cílios, sobrancelhas, engordei...

É dolorido se olhar no espelho e não se reconhecer, precisamos encontrar formas de nos sentir bem. Fui me reconstruindo, me aceitando e me amando, passei a me achar e me enxergar linda, me arrumar, me maquiar. Isso fez toda diferença para que aquele momento fosse mais leve. Aos poucos, as sessões de quimio já não traziam mais medo, e sim ânimo. Cada gotinha era de cura, e isso passou a me motivar.

Gisele Borges — Foto: Arquivo Pessoal
Gisele Borges — Foto: Arquivo Pessoal

Encerrei o protocolo de quimioterapias, e em julho fiz a cirurgia de retirada parcial da mama, esvaziamento axilar e retirada do tumor que estava na mamária interna. Eu estava calma, me lembro de pedir a Deus para cuidar de tudo e entreguei nas mãos dEle a minha vida. Meu médico foi incrível e extremamente cuidadoso, um anjo. E a cirurgia foi um sucesso.

Quando me levaram para o quarto, vi meus pais, meu esposo e um casal de amigos. Eles ficaram ali, me esperando, em oração. Descrevo e revivo a cena com lágrimas no rosto, um choro de alegria e vitória, já que aprendi que não existe sucesso ou conquistas que possam sobressair aquilo que realmente importa: nossa família e as pessoas que são presentes em nossas vidas, nossos laços.

Passado o período de repouso, iniciei a radioterapia em setembro, foram 30 sessões. Logo após, entrei em remissão, que é quando, após o tratamento, nenhuma célula neoplásica é detectada. Ou seja, é quando a doença está sob controle. Que alegria! É emocionante demais. Foi um dos momentos mais felizes da minha vida.

Gisele Borges — Foto: Arquivo Pessoal
Gisele Borges — Foto: Arquivo Pessoal

Quando chegou o momento de retomar a rotina, senti ansiedade e frio na barriga. Eu não era mais a mesma pessoa, transformações aconteceram no meu físico, na minha mente e no meu coração. Apesar de fortalecida, voltar não foi uma tarefa simples. Contei com a terapia, vivi um processo de autoconhecimento que me ajudou a compreender melhor meus limites e conflitos e a encarar os desafios com mais leveza. Aos pouquinhos, as coisas foram se encaixando e fui encontrando a melhor forma de colocar o trem da vida de volta aos trilhos e seguir a viagem de maneira bem mais leve e consciente do que antes.

Não planejei fazer uma pausa de quase um ano na carreira, não planejei quimioterapias, cirurgias, radioterapias etc. Não escolhi passar por isso. Mas acredito muito que aquilo que não podemos mudar, precisamos escolher como lidar. Achei que não fosse conseguir, achei que não viveria muito tempo, mas aos poucos também percebi que não somos o que nos aconteceu, e sim, o que escolhemos nos tornar.

Eu escolho me tornar um pouquinho melhor todos os dias. Não é fácil passar por um câncer e não podemos romantizar isto, mas existe muita vida durante e após esse processo. Passei a entender que o importante não é o quanto tempo temos de vida, mas sim quanta vida existe em nosso tempo, e entender isso foi fundamental para trilhar esse caminho de maneira mais leve.

Neste período turbulento, tive três grandes reflexões. Pensei sobre o que fiz da minha vida até aquele momento, e foi incrível perceber que haviam vários temas a equilibrar e muitos sonhos a realizar. Depois, pensei em como me planejaria para o futuro. Entendi que não tenho o controle de tudo, e não precisamos ter, está tudo bem em lidar com imprevistos e precisar reprogramar as coisas, pois há aprendizado em cada etapa.

Por último, pensei no que eu gostaria de fazer hoje, caso eu não estivesse mais aqui amanhã, esta foi a minha virada de chave, entendi que a vida é agora, e que nunca temos o dia de amanhã garantido, independentemente de ter câncer ou não. Isso me fez ver a vida com outros olhos, valorizar aquilo que habitualmente chamamos de pequenas coisas, e que, na esmagadora maioria dos casos são aquelas que precisamos para viver bem e felizes.

Sou privilegiada por tantas pessoas incríveis no meu caminho. Meus pais, meu esposo, meus amigos, familiares, médicos, enfermeiros, nutricionistas, terapeutas, fisioterapeutas, técnicos, entre tantos outros agentes do bem. Todos, marcaram a minha vida e estiveram comigo em tudo e para tudo. Me emociona falar sobre eles, quanto cuidado, acolhimento e carinho, desde o diagnóstico, quando contamos para meus pais e amigos mais próximos até o final do tratamento quando resolvi fazer uma festa pra comemorar meus 33 anos, comemorar a nova vida que ganhei e comemorar por ter pessoas tão especiais ao meu lado.

Gisele Borges — Foto: Arquivo Pessoal
Gisele Borges — Foto: Arquivo Pessoal

Falando em pessoas especiais, fiz tantos amigos durante o tratamento, conheci pessoas no hospital, nas redes sociais e tenho contato com todos até hoje. Eles são presentes que o processo do câncer me trouxe, e carinhosamente nos chamamos de “oncofriends”. Durante todo este processo aprendi que não precisamos ser fortes o tempo todo, que está tudo bem em mostrarmos e reconhecermos nossa vulnerabilidade e que ser acolhido pelas pessoas que nos amam, aquece o coração e deixa tudo mais leve.

Voltei a trabalhar, a estudar, a buscar coisas novas e a colocar em prática meu propósito de vida, que é fazer a diferença na vida das pessoas, e isso se concretiza também através da minha página “Amigos da Quimio” no Instagram. Um espaço de muito amor, onde conto “Histórias Que Curam”, relatos sobre as experiências de quem enfrentou ou está enfrentando o câncer. Uma forma de levar esperança e fé a milhares de pessoas. Na página, também compartilho informações de qualidade sobre o câncer, desenvolvo, participo e apoio vários projetos que lutam pela nossa causa, além disso, como empreendedora social também levo educação em saúde pra dentro de empresas através de palestras e projetos.

Me sinto feliz, completa. Encontrei minha identidade e propósito."

Gisele Borges — Foto: Arquivo Pessoal
Gisele Borges — Foto: Arquivo Pessoal
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