• Maria Laura Neves
Atualizado em
Fotografada em seu escritório, em São Paulo, Passa usa vestido e camisa, ambos, Louis Vuitton (Foto: Helena Wolfenson)

Fotografada em seu escritório, em São Paulo, Passa usa vestido e camisa, ambos, Louis Vuitton (Foto: Helena Wolfenson)

"A influência é um fardo.” Todas as vezes que a empresária Ana Paula Passarelli conversa com um criador de conteúdo digital que pretende seguir carreira na internet, faz o alerta. “Muita gente não percebe a responsabilidade que é influenciar a tomada de decisão de alguém. Todo mundo acha que influência é ter uma vida boa e ganhar muito dinheiro. Não é um conto de fadas”, diz a fundadora da Brunch, uma agência que reúne 50 influenciadores que somam 120 milhões de visualizações por mês em diferentes plataformas.

Definir o poder de influência por um número, no entanto, não é exatamente o que ela defende ou acredita. Passa, como é conhecida, é responsável por alavancar a carreira de uma série de influenciadores que usam a internet não apenas para vender produtos. É um time de criadores que produz conteúdo para transformar a vida das pessoas com informação de qualidade e conhecimento. Além das pessoas físicas, os creators, ela ajuda marcas a encontrar propósito e um discurso para o mundo digital.

Dentre os seus agenciados estão Anne Carolina, a Anne Catadora, que dá dicas de reciclagem e discute a sustentabilidade em seus canais; Nathaly Dias, a Blogueira de Baixa Renda, que conversa com pessoas das classes C, D e E; Nathália Rodrigues, a Nath Finanças, que tem um consistente trabalho de educação financeira; Neli Pereira, mixologista, especialista em brasilidades e colunista da Vogue Brasil, entre outros. “Acredito em uma influência ressignificada, com um olhar para narrativas, proposta de valor e relevância. Tem que ser algo que construa legado e que não acumule somente seguidores”, afirma a empresária. Hoje, três anos depois da sua fundação, a Brunch tem, além dos 50 talentos, 15 funcionários e clientes como Bradesco, Itaú, Mercado Pago, Natura e Renner.

Nascida em Maringá, interior do Paraná, Passa é filha de mãe solo. “Minha mãe era camareira e sustentou a mim e ao meu irmão com salário e Bolsa Família.” Aos 16 anos, foi procurar emprego para ajudar na renda de casa. Todas as segundas-feiras dirigia-se à sede do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) da cidade em busca de uma vaga que nunca apareceu. Num determinado dia, deparou-se com uma propaganda de um curso de desenho de moda no Senac anunciado no local. Como era todo bancado pelo FAT, decidiu se inscrever. “Fiz muito exercício de controle de traço”, lembra. Os elogios da professora na conclusão do curso serviram como incentivo para seguir na área.

Cursou, então, moda em uma faculdade em Cianorte, perto da sua cidade natal. Logo começou a trabalhar na área, como modelista. Não durou muito tempo em nenhuma das empresas que a contratou. “Sempre fui muito questionadora. Tentava mudar a maneira de fazer as coisas em empresas muito tradicionais, com gestão familiar.” Foi em uma demissão que ouviu o feedback que mudaria sua vida. “Eu trabalhava na Emma Fiorezi, com a Ivone, que comanda a marca. No dia de me mandar embora, ela disse: ‘Você não é da modelagem, mas da comunicação’. Chorei muito, mas ela tinha razão.”

Depois de formada, Passa decidiu tentar a vida em São Paulo. Foi morar em uma república no bairro de Pinheiros, Zona Oeste da cidade. “A casa era tão cheia que dormia na garagem.” Começou a frilar para agências de publicidade até ser contratada pela FBiz, uma das mais renomadas do mercado. De lá, seguiu para a Dafiti, onde foi gerente de marketing e depois para a Morena Rosa, onde trabalhou com redes socias. “Um dia, meu chefe me chamou e disse que me demitiria e me contrataria como PJ. Decidi que era hora de mudar e sair de vez desse mercado de trabalho que insistia em me expulsar.”

Fora do mundo corporativo e em parceria com a jornalista Vivi Duarte, mergulhou de cabeça no Plano Feminino, negócio que Vivi fundou em 2010, convidando a amiga de adolescência a se tornar sócia em 2011. Prestaram consultoria para empresas ajudando a entender a força que temas como diversidade e feminismo teriam a partir de então. Em 2015, fundou a Digital Stars, uma agência, aí sim, focada em influência digital. “Mas não era o que queria para minha vida. A começar pelo nome, era uma influência que se valia só pelos números. Saí e fui estudar.”

Antes do nascimento da sua filha Emma, fez o contato com a primeira influenciadora da Brunch. Ali, ela aplicou o que acreditava. “Números são alcance e não efetividade da mensagem. Influência não é uma disciplina do marketing, mas da sociologia. Quando a gente deixa ela apenas a cargo da publicidade e do marketing, corremos riscos como o que vemos no Brasil hoje. As pessoas precisam de letramento, entenderem que estão sendo influenciadas. Isso é um perigo, inclusive para a democracia. É sobre isso que quero discutir quando falo de responsabilidade”, afirma. E seu trabalho é a prova de que a influência responsável resulta em números poderosos.

Styling: Sam Tavares
Beleza: Angel Moraes
Assistente de foto: Augusto Jordão
Produção de moda: Anne Carvalho
Tratamento de imagem: Chris Kehl