• Vívian Sotocórno
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Natalie Klein, CIO da NK Store, posa ao lado de Alexandre Sá, novo CEO, na loja da NK nos Jardins, em São Paulo. O endereço tem projeto arquitetônico do Estúdio Tupi, decidido em votação interna entre os próprios funcionários (Foto: Bel Lafer)

Natalie Klein, CIO da NK Store, posa ao lado de Alexandre Sá, novo CEO, na loja da NK nos Jardins, em São Paulo. O endereço tem projeto arquitetônico do Estúdio Tupi, decidido em votação interna entre os próprios funcionários (Foto: Bel Lafer)

Se o comentário que rolou no início da pandemia é que ela “revelaria” o melhor e o pior de cada um, a NK Store foi uma das empresas que ganharam ainda mais admiração na indústria ao ter uma lupa apontada para a cultura que vem desenvolvendo ao longo dos últimos 24 anos – focada em pessoas e preocupada com a cadeia. Em março passado, por exemplo, foi notícia ao ser uma das primeiras lojas a fechar as portas (por decisão própria, antes da quarentena ser oficialmente anunciada) e ao procurar estratégias para enfrentar os meses seguintes dentro da própria casa. Foi formado um comitê de gerenciamento de crise que envolveu igualmente todos os funcionários que se voluntariaram, em um case de integração e transparência. “Uma das grandes lições da pandemia é que muitas das respostas já estão dentro de uma empresa, não é preciso procurar externamente”, diz a fundadora Natalie Klein.

Ao longo do último um ano e meio, se destacou ainda por iniciativas como um banco de tecidos que disponibilizou (e segue disponibilizando) o acervo da NK para pequenas grifes e oficinas parceiras por preços especiais. “É importante que outras marcas vejam a NK como uma aliada, um player que se importa. Elas precisam continuar existindo para que a NK também possa continuar existindo, temos que pensar no ecossistema”, afirma Natalie. Também lançou o projeto NK Upcycling, no qual a loja comprou de volta de suas clientes itens antigos da marca própria da NK e os ressignificou em parcerias com etiquetas e estilistas como À La Garçonne, Gustavo Silvestre e Eduardo Caires, colocando as novas peças únicas novamente à venda. “Uma marca deveria se preocupar com o destino final dos itens que vende, precisamos ter responsabilidade com o pós-uso e engajar e educar o cliente nessa circularidade”, completa a fundadora.

Agora, o próximo passo de Natalie Klein é trazer um novo CEO, o carioca Alexandre Sá, enquanto passa a responder como CIO (chief inspiration officer), ficando próxima às áreas de curadoria, branding, inovação e cultura. Em um momento de entender que o time precisa ser reforçado para alcançar novos desafios, a configuração é inspirada nas duplas de grandes maisons, compostas por CEOs e diretores criativos. “Faz parte do meu processo de desenvolvimento saber que tem hora que não dá para dar conta de tudo, e de ter excelência em todas as áreas. De tempos em tempos, é importante ressignificar, repensar, olhar novos caminhos”, diz Natalie, que nas últimas duas décadas esteve no comando da gestão, que passa pelo contábil, RH e TI.

Enquanto Alexandre tocará o dia a dia da operação, com foco específico em expansão, Natalie quer olhar para a frente e imaginar onde a NK estará em cinco ou dez anos. “Acho que é uma composição saudável. Quando as casas de luxo crescem, elas costumam ter o CEO que trilha o caminho de expansão, enquanto o criativo pensa na filosofia e na estrutura de marca. Se a gente tivesse que dividir uma linha muito simples, eu sou o ‘quê’, Alexandre é o ‘como’.”

Também é de responsabilidade de Natalie a liderança de um comitê fundado no início do ano e pensado para estimular transformações. “Ele é formado por alguns membros do conselho da própria NK e também outros executivos que chamamos de tempos em tempos, que estão de olho no futuro do consumo, das marcas, da relação com a cadeia produtiva. Refletimos sobre qual é o legado que a NK quer deixar e como crescer sem perder a essência, o propósito e a razão de existir da NK.”

Atualmente com dois endereços, em São Paulo e no Rio, a multimarcas quer alcançar mulheres que ainda não tiveram uma experiência com a NK. “Nosso crescimento vai ser pautado via loja física, mas com o aporte de uma experiência digital. A NK obviamente não vai ser uma marca com muitas lojas pelo Brasil, mas também não cabem só duas, existe um meio do caminho”, diz Alexandre, que fala da possibilidade de inaugurar de dois a três novos pontos no próximo ano.

A expansão também deve acontecer via ampliação da linha de produto (a grife própria homônima hoje representa três quartos das vendas), extensão do portfólio de marcas internacionais e nacionais, e de parcerias e licenciamentos que estão sendo estudados. “E gostaria que, no futuro, a experiência digital seja muito próxima da experiência física, para que a cliente possa escolher o que for mais conveniente para ela naquele momento”, diz Alexandre.

Com uma carreira de duas décadas pautada por gestão de pessoas, processos e marcas, o carioca passou por Richards, Salinas, Grupo Arezzo&Co e Mr. Cat. “Alexandre é um cara de pessoas, e isso é critério número 1 para a NK. Todo resultado que a gente venha a ter é consequência do nosso processo de olhar para as pessoas verdadeiramente. Digo que quem está conosco na NK não ‘trabalha para a NK’, eles ‘são a NK’”, fala Natalie, que teve como uma das iniciativas internas durante a pandemia a implementação de uma plataforma na qual todos os funcionários que quisessem tivessem acesso à terapia. “A gente se sente corresponsável pela saúde dos funcionários e queremos que o ambiente de trabalho seja uma rede de apoio, de comunidade”, completa. “Há tempos já não cabe mais aquela liderança massacrante, que não troca, não escuta. Juntos vamos mais longe, juntos conseguimos perenizar uma marca e um negócio”, frisa Alexandre.

Discreta, low profile, uma das pessoas mais estudiosas, sensíveis e perspicazes da indústria, genuinamente preocupada com a cadeia e com seu papel na moda, Natalie fundou a NK Store aos 21 anos e fez dela a meca do luxo em clima mais quieto, sem a ostentação que muitas vezes se pressupõe desse mercado. “Olhar para as pessoas verdadeiramente” é um processo com a equipe e também com o consumidor. Preocupada em encantar para além da relação comercial, ela mantém, por exemplo, uma “caixinha” que os funcionários podem usar de livre escolha para surpreender um cliente – que pode ser desde presenteá-lo com um esmalte que gostou ao ver um colaborador usando até o caso de um vendedor que levou um novo vestido durante a madrugada a uma festa após sua cliente ter a peça que usava estragada. “Muitas das grandes marcas deixaram tudo muito padrão, queremos transcender um pouco a parte técnica e ver o lado humano, criar uma conexão genuína”, encerra Natalie.