![A espécie está distribuída pela bacia Amazônica, ocorrendo em ambientes fluviais, lagos, lagunas, florestas alagadas, etc. — Foto: Canva/ CreativeCommons](https://cdn.statically.io/img/s2-vidadebicho.glbimg.com/5QWXXO7x3dEgFX4V-Uo3nPx867s=/0x0:1200x775/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fb623579cd474803aedbbbbae014af68/internal_photos/bs/2022/m/j/VHqRtiTeKsd39B38pV3g/2022-09-01-botos-cor-de-rosa-sao-envenenados-e-mortos-na-porrada-facada-e-tiro-vida-de-bicho.jpeg)
Protagonista de lendas e do folclore brasileiro, o boto-cor-de-rosa faz parte do imaginário da população. Entre os turistas e moradores do Norte do país, não há quem não tenha tirado um tempinho para vislumbrar o show de carisma desses bichos. Infelizmente, apesar de querida, a espécie corre sério risco de entrar em breve para lista de animais extintos.
Estima-se que a população amazônica de golfinhos diminui pela metade a cada 10 anos, entretanto, pela falta de dados e pesquisas, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), órgão responsável pelas classificações, não a considera oficialmente ameaçada. Ainda assim, autoridades brasileiras a categorizam como “vulnerável”.
Miriam Marmontel, pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, explica que um dos principais vilões por trás do cenário é a pesca de piracatinga. A carne dos botos, por ser bastante gordurosa e possuir odor forte, é usada como isca para os bagres.
Atualmente, graças à oratória interministerial, medida que proíbe a modalidade até 2023, os casos diminuíram, sobrando apenas os peixeiros que seguem realizando a pesca ilegalmente. Para se ter uma dimensão, calcula-se que cerca de 7 mil botos eram mortos por ano no Amazonas antes da intervenção.
![O nome da espécie, apesar de ser conhecida como "boto-cor-de-rosa", é, na verdade, "boto vermelho" — Foto: Canva/ CreativeCommons](https://cdn.statically.io/img/s2-vidadebicho.glbimg.com/jChMu3fU83f0Tjwx14WL02csRK0=/0x0:1200x775/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fb623579cd474803aedbbbbae014af68/internal_photos/bs/2022/x/a/XddQbMQy6tu89mzbLMzw/2022-09-01-botos-cor-de-rosa-sao-envenenados-e-mortos-na-porrada-facada-e-tiro-vida-de-bicho-1.jpeg)
As causas da ameaça
"Eles sofrem represália de alguns grupos por destruir os aparelhos. Já tivemos botos mortos na ‘porrada’, com tiro, envenenado e até vítima de facadas" - Gabriel Melo, pesquisador do grupo BioMA
Outro ponto citado pelos especialistas é a construção de barragens de usinas hidrelétricas, técnica que reduz a variabilidade genética da região, como já ocorreu nos rios Madeira e Tocantins, áreas onde a espécie se encontra mais vulnerável. Essa falta de diversidade aumenta a endogamia, isto é, a relação entre parentes, tornando-os indefesos contra catástrofes naturais e doenças e expostos à extinção.
Por fim, Gabriel cita um conceito que tem ganhado espaço no meio científico, o chamado efeito sinergético. Observando as transformações ambientais e sociais, especialistas procuram analisar de que forma a junção de várias ameaças afetam determinado animal. Por exemplo, os agrotóxicos, as mudanças climáticas e o mercúrio presente na água.
![Atualmente, a Iniciativa dos Botos da América do Sul (SARDI) trabalha na produção de material educativo sobre a espécie — Foto: Canva/ CreativeCommons](https://cdn.statically.io/img/s2-vidadebicho.glbimg.com/JJYG-FsfENi7-hQUDt-4Ah5rn6o=/0x0:1200x775/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fb623579cd474803aedbbbbae014af68/internal_photos/bs/2022/V/A/owllozReKIddqYL5cONA/2022-09-01-botos-cor-de-rosa-sao-envenenados-e-mortos-na-porrada-facada-e-tiro-vida-de-bicho-2.jpeg)
O papel dos turistas
Para contribuir com a tentativa de preservação dos botos da região, visitantes devem seguir alguns protocolos básicos. Isso porque, apesar de os golfinhos serem convidativos e fofos, comportamentos invasivos tornam a espécie mais vulnerável e dependente do contato humano.
“É preciso atenção para não atrapalhar suas atividades normais, como forrageamento ou cuidado com filhotes. Não devemos forçá-los a uma situação de ‘perseguição-e-fuga’. O trânsito de embarcações muito intenso por canais também pode afugentá-los e colocá-los em risco de atropelamento. Além disso, não é recomendado alimentá-los ou tentar nadar com eles. Assim, preservamos o comportamento natural das populações e garantimos a segurança dos bichos e humanos”, esclarece Miriam.
Na visão da especialista, turistas deveriam apreciar ao máximo a beleza e adaptabilidade destas espécies em seu ambiente natural. Em outras palavras, apreciar e observar sem interferir.
“Quanto mais as pessoas conhecerem das espécies, sua distribuição, suas necessidades e sua ecologia, mais serão sensibilizadas com o cuidado”, completa.