PetExpertise, com Ana Claudia Balda

Por Ana Claudia Balda

Ana Claudia Balda é médica-veterinária dermatologista, diretora da Escola de Medicina Veterinária da FMU e sócia-proprietária da clínica Derme for Pets.


A dermatofitose é uma infecção fúngica superficial, desencadeada na maior parte das vezes pelo Microsporum canis — fungos filamentosos (bolores) queratinofílicos, ou seja, que têm afinidade por pele, pelame e garras.

25% dos gatos são acometidos com a doença — Foto: Canva/ Creative Commoms
25% dos gatos são acometidos com a doença — Foto: Canva/ Creative Commoms

A transmissão se dá por contato direto ou por fômites. E é importante lembrar que 25% dos felinos são portadores desse fungo, ou seja, o transmitem sem apresentar lesões evidentes.

Animais jovens, idosos, cães da raça yorkshire e gatos persas costumam apresentar certa predisposição a infecções mais graves e complicadas. Pacientes mais velhos devem ser submetidos à investigação de doenças sistêmicas, uma vez que a imunossupressão pode explicar as infecções mais difíceis de tratar.

A dermatofitose é uma zoonose, portanto deve-se ter cuidado ao manipular esses pacientes, pois a transmissão se dá por contato direto com pele e pelame. Nos seres humanos, as lesões são pruriginosas, pois o fungo é zoofílico e está bastante adaptado aos animais e, por isso, desencadeia inflamação e hipersensibilidade nos tutores e médicos-veterinários que adquirem a infecção a partir dos bichos.

Identificação e diagnóstico

Geralmente, a dermatofitose não desencadeia prurido em cães e gatos, mas a alopecia está sempre presente. As lesões da doença têm conformação circular, escamas e crostas que se localizam, na maior parte das vezes, em região cefálica ou de membros.

Existem diversos exames complementares que auxiliam no diagnóstico, como lâmpada de Wood e o exame direto, mas o cultivo permite identificação de gênero e espécie, dados importantes para investigação do ambiente, os contactantes e para o tratamento a ser estabelecido.

Porém, o cultivo demora em torno de três a quatro semanas em resultados negativos, por isso, o perfil do paciente, histórico e lesões são fortemente considerados para estabelecimento da terapia, mas o cultivo é a confirmação do diagnóstico definitivo.

As lesões na pele devem servir de alerta aos tutores e médicos-veterinários — Foto: Canva/ Creative Commoms
As lesões na pele devem servir de alerta aos tutores e médicos-veterinários — Foto: Canva/ Creative Commoms

O pelame a ser colhido como material clínico é perilesional, pois a infecção é ativa na periferia da lesão, além da avulsão manual, é possível utilizar carpete ou escova de dentes esterilizados que são enviados pelos próprios laboratórios que realizam semeadura do pelame para cultura fúngica.

Definindo o tratamento

O tratamento deve ser baseado, sempre que possível, em banhos com xampus a base de antifúngicos e, quando a lesão for generalizada ou mesmo envolver muitos contactantes (principalmente gatis e canis), deve-se considerar a terapia sistêmica.

Há diversos antifúngicos disponíveis, porém normalmente opta-se pelo itraconazol, avaliando a segurança. Principalmente em animais muito jovens ou idosos, se possível solicitar atividade sérica das enzimas hepáticas prévia à introdução da medicação e realizar o monitoramento quinzenalmente durante toda terapia.

Os cuidados necessários

A higienização ambiental é de extrema importância para que haja resolução da infecção e para minimizar a reinfecção dos animais a partir do local onde ficam. O hipoclorito de sódio diluído em solução aquosa 1:10 é um desinfetante eficaz no controle ambiental de esporos.

Há ainda a vela de enilconazol, utilizada em baias de grandes animais, mas que em gatis e canis é bastante útil. Nesse caso, deve-se remover os animais do ambiente e calcular a área.

Os aparelhos a vapor são alternativas nos locais nos quais não se pode utilizar hipoclorito. A limpeza ambiental deve fazer parte da recomendação aos tutores para que haja sucesso da terapia instituída.

Até o próximo mês, pessoal!

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