Tesouro Direto

Por Cris Almeida, Valor Investe — Rio


O mercado de títulos públicos reagiu à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), de interromper a trajetória de queda da Selic, taxa básica de juros, mantendo o patamar dos 10,5%. O ponto alto do encontro dos integrantes ontem (19) foi a unanimidade depois do "racha" da decisão anterior.

O que isso quer dizer? O mercado lê a decisão unânime como uma escolha técnica e não política depois das duras críticas do presidente Lula nos últimos dias. Vale lembrar que quatro dos nove integrantes do Copom foram indicados pelo atual governo e devem permanecer no colegiado no próximo ano. Destaque para o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, nome cotado para substituir o atual presidente, Roberto Campos Neto, a partir de 2025.

Resguardada a autonomia e credibilidade do BC, os juros futuros aliviaram em sua maioria hoje. Participantes do mercado exigiram menos prêmio com menos incertezas no horizonte, já que temiam uma nova decisão dividida e que pudesse ter efeitos adicionais nas expectativas de inflação.

Nem mesmo os comentários do presidente Lula no final da manhã mudaram esse cenário. Ele disse, em entrevista a uma rádio cearense, que foi uma "pena" o Copom ter interrompido o ciclo de cortes da taxa básica de juros do país. Para o presidente, quem perdeu com essa decisão, de manter a Selic em 10,5%, foi o "povo brasileiro". Lula acusou também o BC de "investir no sistema financeiro" e "nos especuladores que ganham dinheiro com juros".

Com isso, as taxas dos títulos do Tesouro Direto seguiam o mesmo ritmo de queda. O Tesouro IPCA 2029, o mais curto da modalidade, caía de 6,37% da sessão anterior para 6,31% de retorno real. Não muito distante do papel com vencimento em 2045, que pagou 6,33% ao final da sessão de hoje.

Entre os prefixados, o papel com prazo para 2031 oferecia 12,24%, abaixo dos 12,32% da sessão anterior.

Tá, mas eu compro ou não?

Apesar do recuo de hoje, os papéis seguem em patamares considerados atrativos para analistas de renda fixa. No caso dos atrelados à inflação, são recomendados para proteger a carteira do aumento de preços, além dos mais de 6% serem vistos como oportunidade pelos especialistas — para quem compra.

Os prefixados de curto prazo também são recomendados, com um pouco mais de cautela. Para quem já tem títulos públicos na carteira, antes mesmo das disparadas dos últimos dias, o melhor jeito de evitar perder dinheiro é manter o investimento até o vencimento.

Vale lembrar que as taxas e preços dos títulos são inversamente proporcionais. O que significa dizer que, tanto nos papéis prefixados quanto naqueles indexados ao IPCA, quanto maior a taxa, menor o preço e vice e versa. Quando as taxas sobem, portanto, apesar de ser uma boa notícia para quem vai investir — já que assegura rentabilidade maior se mantiver a aplicação até o vencimento, o valor de mercado dos papéis diminui, o que implica em perda temporária para quem possui os títulos na carteira.

Fechamento do Tesouro Direto nesta quinta (20)

Título Rentabilidade anual Investimento mínimo Preço Unitário Vencimento
TESOURO PREFIXADO 2027 11,59% R$ 30,32 R$ 758,23 01/01/2027
TESOURO PREFIXADO 2031 12,24% R$ 33,07 R$ 472,53 01/01/2031
TESOURO PREFIXADO com juros semestrais 2035 12,00% R$ 37,43 R$ 935,92 01/01/2035
TESOURO SELIC 2027 SELIC + 0,0860% R$ 149,50 R$ 14.950,78 01/03/2027
TESOURO SELIC 2029 SELIC + 0,1570% R$ 148,75 R$ 14.875,98 01/03/2029
TESOURO IPCA+ 2029 IPCA + 6,31% R$ 31,87 R$ 3.187,73 15/05/2029
TESOURO IPCA+ 2035 IPCA + 6,31% R$ 44,24 R$ 2.212,48 15/05/2035
TESOURO IPCA+ 2045 IPCA + 6,33% R$ 35,97 R$ 1.199,27 15/05/2045
TESOURO IPCA+ com juros semestrais 2035 IPCA + 6,31% R$ 42,28 R$ 4.228,94 15/05/2035
TESOURO IPCA+ com juros semestrais 2040 IPCA + 6,25% R$ 42,89 R$ 4.289,13 15/08/2040
TESOURO IPCA+ com juros semestrais 2055 IPCA + 6,30% R$ 41,67 R$ 4.167,54 15/05/2055
Sinal vermelho — Foto: Unsplash
Sinal vermelho — Foto: Unsplash
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