Gastar Bem

Por Isabel Filgueiras e Beatriz Pacheco, Valor Investe — São Paulo


Antes dos 30 anos, Whindersson Nunes Batista, o rapaz engraçado, de sotaque forte do sertão se tornou multimilionário por conta própria, sem herança ou auxílio financeiro da família. Natural de Palmeiras do Piauí, município em que mais da metade das famílias têm renda per capita mensal de apenas meio salário mínimo, ele prosperou e hoje emprega uma equipe que recebe mais de R$ 500 mil por mês, entre contratados pessoais e funcionários de suas empresas.

O dinheiro veio primeiro da internet. Com vídeos no YouTube, foi se monetizando, se tornando conhecido, famoso, cobiçado pelas empresas e fãs. Como consequência vieram os shows de comédia, a renda com publicidade e as participações em eventos. Depois se aventurou pela música e pelo boxe, onde ganha mais alguns milhões por luta. Recentemente, lançou uma série no Mercado Play com seus causos em parceria com a artista de animação Rafaela Tuma. Ela desenha. Ele narra e amplia sua audiência.

"Eu sei que tem um público de crianças que não deveria estar assistindo meus vídeos, porque eu falo alguns palavrões e tudo mais. Então, eu acho legal que tenha um projeto como esse, em que eles possam se divertir comigo, mas que os pais tenham essa segurança de que eles podem assistir o conteúdo e que está tudo bem", diz.

Apesar de admitir que não entende muito de mercado financeiro, Whindersson diz que tem um pensamento de longo prazo. Mas no caso dele, é voltado para a preservação de sua imagem e da responsabilidade com seu público. O comediante chegou recusar uma oferta milionária para uma empresa de apostas.

"Eu recusei a proposta porque eu penso muito no futuro e quando algo me cheira meio estranho, eu penso no desenrolar das coisas no futuro e se isso pode trazer algum tipo de problema pra mim ou pra quem consome, então eu preferi não participar", afirma.

Whindersson Nunes, criador de conteúdo — Foto: Divulgação
Whindersson Nunes, criador de conteúdo — Foto: Divulgação

Confira a entrevista que o artista deu ao Valor Investe:

Você tem um perfil mais gastador ou poupador?

Whindersson: Depende muito de qual gasto você está dizendo. Eu gosto de gastar com viagem, eu gosto de conhecer o mundo e entender as novas culturas e as coisas que acontecem, porque são como são... e gosto de ajudar pessoas, geralmente com coisas relacionadas à saúde ou a um problema financeiro crítico. Hoje eu estou aprendendo a poupar mais, eu já tive a minha época de gastar, mas hoje eu gasto menos.

O que vale mais que dinheiro pra você?

Whindersson: Eu acho que é a paz. Acho que o dinheiro não compra a paz. Pode até comprar em alguns momentos, mas é momentâneo. Então eu acho que se o dinheiro for tirar a minha paz, eu prefiro a paz.

Se você pudesse trocar todo o seu dinheiro por uma coisa impossível, qualquer pedido no mundo, o que você iria desejar?

Whindersson: Eu trocaria por mais tempo ou algo que pudesse fazer o meu tempo ser melhor aproveitado. O teletransporte é muito bom, porque aí você não perde tanto tempo indo até o lugar que você quer ir. Se para ter um superpoder, que seja uma coisa que possa fazer meu tempo ser mais valorizado.

Atualmente, de onde vem a maior parte das suas receitas?

Whindersson: Quando eu estou lutando boxe é boxe, quando estou fazendo comédia é comédia. Música é o que menos me dá dinheiro, mas também é o que eu menos faço. No final, acaba vindo daquilo em que eu esteja trabalhando no momento. Não está muito relacionado nenhum dos negócios que eu tenho, porque isso não me dá tanto dinheiro por fora.

Já daria para se aposentar agora com o que tem guardado?

Whindersson: Com certeza, porque eu não sou alguém muito gastador, eu gasto com o meu trabalho. Se eu quero trabalhar, se eu quero fazer uma produção maior, eu preciso investir mais, então eu preciso gastar mais. Mas se eu quiser parar e ficar de boa, e também sem produzir muito, ou produzindo com coisas com um orçamento mais baixo, dá sim.

De quanto seria sua renda, mês a mês?

Whindersson: Eu gostava de falar de dinheiro quando dava uma ideia de prosperidade. Assim, sabe, de que estava crescendo, de que estava funcionando. Mas hoje como eu já tenho estabilidade e as coisas são como são no Brasil, você dizer que no mês que você ganhou pouco, você ganhou mais do que uma pessoa trabalhadora ganharia em um ano todo, eu não me sinto bem em ficar dizendo valores, não. Não me sinto legal em dizer valores. O que posso abrir é que tenho uma folha de pagamento de funcionários. Entre funcionários próximos e funcionários das empresas, somam-se mais de meio milhão de reais mensais.

Você investe? Em quê?

Whindersson: Eu invisto na participação das minhas empresas. Eu gosto de tentar de alguma forma aumentar o valor delas com o meu trabalho e meu tempo. Então essa é a forma que [o dinheiro] está rendendo para mim. Eu não compro muitos imóveis, apesar de ter alguns terrenos. E não me vejo como alguém que entende tanto sobre isso [mercado financeiro], mas eu sei que o terreno, o imóvel, é uma coisa que sempre é bom investir.

Você se vê como um pessoa rica?

Whindersson: Eu me vi como rico a partir do momento em que eu consegui fazer várias coisas em menos tempo. No geral, as pessoas precisam dedicar mais tempo para poder ter uma viagem de final de ano, ou dar um presente a alguém que ama. Pra mim, poder fazer isso mais rápido é sinal de riqueza. Entendi que eu realmente estava em um lugar de poder aquisitivo diferente, mas a partir daí comecei a tentar pegar consciência do que era isso para não me tornar um babaquinha.

Depois de sair da pobreza, tem algo que não mudou?

Whindersson: Eu acho que eu ainda não preciso de tantos talheres para comer. Com poucos talheres, eu já consigo me virar. Não preciso daquele tanto que colocam em cima das mesas.

Qual foi a compra mais satisfatória da sua vida?

Whindersson: Eu acho que tem coisas que te dão uma satisfação boa, como ter o primeiro carro. Porém não é coisa pra você correr atrás hoje, porque é mais uma conquista de “cheguei lá” do que um bem necessário mesmo. Eu já tive muito carro, hoje eu não tenho tantos carros. Então, eu acho que a compra mais satisfatória da minha vida, deve ter sido algo pros meus pais. Eu pude dar um presente pra o meu pai que foi muito marcante. Ele gostava muito de um Fusca que a gente teve há muito tempo e ele teve que vender por causa de um problema de saúde da minha irmã e aí eu comprei um, mandei refazer e dei pra ele. E ele hoje é muito feliz por isso.

E qual foi o dinheiro mais mal gasto?

Whindersson: Com certeza, também com carros. Eu entendo quem tem um carro de milhões, mas é só quando você tem muito dinheiro de sobra. Eu não tinha dinheiro de sobra quando eu comprei carros que eu achava bonito, que eu gostava. Eu não era estabilizado, então eu gastei muito sem poder.

Boxe: amor ou dinheiro? Quanto você ganha para participar de cada luta?

Whindersson: O boxe foi um plano. Eu gosto de chamar de investimento de habilidade. Isso é um termo que eu não sei se alguém já disse isso ou se eu criei. Mas eu tenho a teoria de que quando você investe em algo por cinco anos, que é mais ou menos o tanto que você investe na universidade, você consegue monetizar isso no final. Claro, não sendo uma coisa em que você precisa de conhecimento técnico, em que você precisa se graduar, como um médico, por exemplo, ou um engenheiro - pra isso você precisa de uma universidade. Mas ao final de muito tempo treinando, eu consegui fazer disso, além de amor, também dinheiro. E para participar de cada luta, alguns milhões de reais, com certeza.

Boxe é uma carreira que você deseja seguir? Se profissionalizar?

Whindersson: Não, boxe não é uma carreira em que eu pretenda me profissionalizar. Pra mim, tem sido um experimento de um método para ver se ele funcionaria. Funcionou muito mais do que eu pensava.

Já pensou em largar de vez a carreira de influenciador? Que caminho alternativo seguiria nesse caso?

Whindersson: Eu não acho que eu tenha uma carreira de influenciador. Eu sou um artista e eu faço vários tipos de arte. Isso atrai muito o público e consequentemente influencia pessoas. Mas eu sempre sigo por um caminho alternativo, sempre.

Você é sócio em quantos negócios? O que te faz se interessar em investir em algo?

Whindersson: Eu devo ser sócio hoje de uns dez negócios e o que me faz interessar em investir em algo é eu ver que vai fazer sentido para o futuro. Por exemplo, eu tenho participação em uma empresa de tecnologia, porque eu acho que o futuro é tecnológico. Eu tenho participação em empresa de agência de talentos e publicidade, porque existe uma coisa crescente com as redes sociais e as pessoas usando as redes sociais para trabalhar, então isso é o que me chama a atenção.

Você sabe diferenciar os verdadeiros amigos dos “amigos da onça” que só querem ser seu “parça”?

Whindersson: Com certeza, mas a gente vai aprendendo. Volta e meia a gente erra e demora para perceber. Então é vivendo e aprendendo.

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