O processo de investimento é hierárquico. Primeiro é preciso se perguntar sobre o que se pretende fazer com o dinheiro e para quando, ainda nesta se deve ter um olhar para dentro em busca de entender qual perfil de risco. Na sequência, duas atividades mais técnicas têm seu lugar, a primeira é identificar as classes de ativos mais apropriadas e a segunda escolher quais ativos selecionar dentro de cada classe. Por fim, é chegada a hora de monitorar o investimento, de averiguar se os resultados alcançados estão dentro do planejado e fazer os ajustes necessários.
Os passos acima fazem parte de um típico processo de investimento, que começa com o cliente, passa pelo desenho de um asset allocation e do plano de investimentos, execução, até enfim desaguar no controle e avaliação.
A parte mais importante é a primeira, em que o investidor deve dispensar um tempo generoso para pensar na sua vida e preencher o questionário de Suitability. Todo o tempo investido nesta etapa é precioso, assim como em uma viagem de férias, se o destino não for bem traçado são quase nulas as chances de se atingir aquele prazer tão desejado.
Contudo, não basta definir para onde se vai, é preciso ter um mapa e saber quais ativos comprar é fundamental para o sucesso da empreitada, e aqui não tem segredo, é comprar barato para vender mais caro. Simples, pelo menos aqui no papel.
A questão é descobrir o que é um ativo barato, ou melhor, quando um ativo está barato. Que preço será esse que o tornaria uma pechincha? Porém, a verdade é que só saberemos se ele estava barato ou não na hora de vender.
Evitando aqui fazer uma discussão sobre qual seria o preço justo de um ativo por modelo X ou Y de avaliação, pela ótica do investidor o que vale é se ganhou ou perdeu dinheiro.
Sendo assim, cada um de nós tem uma ideia de preço, pode ser até que não tenha um valor exato mas, minimamente, deve existir algo do tipo “isto deve valorizar tanto” a ponto de fazer sentido adquirir o ativo para compor a carteira.
Fica claro, então, que no momento da decisão de compra o que temos é uma expectativa sobre o futuro que vai orientar a geração das estimativas sobre quais ativos tem maior ou menor potencial de valorização. Investimento é uma decisão sob incerteza e elas, as expectativas, exercem um papel fundamental na decisão de qualquer investidor. O jogo é olhar para o presente e apostar no futuro.
Nesse sentido, a deterioração dos preços dos ativos de risco no Brasil desde a última reunião do Copom, dias 7 e 8 de maio, conta uma história contundente sobre a percepção de risco e das expectativas.
Nestes pouco mais de 40 dias, o Ibovespa caiu em torno de 8% contra um aumento de cerca de 1,5% do MSCI EM (índice que mede a valorização média das Bolsas de países emergentes), já o dólar por aqui subiu perto de 5,4% contra uma valorização de pouco mais de 0,2% medida pelo DXY (cesta composta por divisas de vários países). Sobre o mercado de renda fixa, as taxas do Tesouro IPCA para 2035 alcançaram 6,4% contra 6,2%.
O derretimento das expectativas pode ser observado por meio do relatório Focus, a comparação entre o que antecedeu a reunião anterior (referente a 03/05) e o desta última sexta, dia 14/06. A inflação projetada para 2024 passou de 3,72% para 3,96% e a taxa Selic no final do ano de 9,63% para 10,50%, respetivamente.
A força das expectativas pode ser comprovada pela repercussão dos votos na reunião de maio do Copom. A despeito da decisão mais conservadora do Copom de reduzir a Selic em 0,25 ponto percentual, o mercado deu peso maior ao placar da reunião no qual todos os quatro indicados pelo atual Governo votaram por uma redução maior, de meio ponto percentual.
A percepção de que um novo Presidente do BC em 2025 indicado pelo atual Governo possa ser subserviente e repetir a dobradinha Alexandre Tombini e Dilma Rousseff, está na raiz dos calafrios dos agentes econômicos e ajudou a alimentar a onda de reprecificação dos ativos.
Ruídos, porém, não prosperam à toa. Assim como plantas precisam de bom solo, eles precisam de um ambiente degradado e repleto de desconfiança no qual cada fagulha pode virar fogo e, a depender dos ventos, um incêndio.
Neste quesito a mudança da meta fiscal, a insistência em promover o ajuste das contas públicas pelo lado da receita, as trapalhadas do Governo na articulação com o Congresso entre outros tantos erros na condução do executivo tem sido o principal fator de instabilidade.
Hoje estamos sob o domínio das expectativas. Nesse campo, o fato é menos importante que suas interpretações e qualquer sinal pode se transformar em ruído. Nesse ambiente em que o medo cresce passamos a dar mais valor a certeza, o que é ainda mais fácil com uma Selic de 10,50% ao ano.
A reversão deste cenário só será possível a partir de indicações claras do Governo que deverá caminhar no sentido da responsabilidade fiscal. Este, porém, talvez seja o problema, será que este é um valor para os que lá estão?
Próxima semana é para descansar! Até dia 03/07.
Hudson Bessa - Economista e sócio da HB Escola de Negócios
hudson@hbescoladenegocios.com
www.hbescoladenegocios.com