Ibovespa derrete, renova mínima do ano e alcança menor patamar dos últimos 6 meses

• A carteira teórica mais famosa do Brasil encerrou o dia com recuo de 0,87%, aos 122.707 pontos. Na semana, acumula perdas de 1,3% e 2,55% no mês. De janeiro até o dia 29 de maio, a queda do índice foi de 8,55%.
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A política monetária dos Estados Unidos continua sendo a principal fonte de preocupação para os investidores. O aumento nos rendimentos dos títulos públicos norte-americanos pressionou as bolsas, aqui e no exterior, para baixo. Os ativos de risco de emergentes saem ainda mais prejudicados, por serem preteridos em detrimento da renda fixa de um país desenvolvido e de economia estável.

A curva de juros brasileira andou lado a lado com a americana, registrando aumento no prêmio de risco em contratos de curto, médio e longo prazo.

• As taxas de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 subiram de 10,38% para 10,42%. Prêmios em contratos de mais curto prazo estão mais ligados às expectativas de investidores para a Selic;
• Já para janeiro de 2034, saíram de 11,82% para 11,99%. Essas taxas mais longas costumam medir o tal do "risco fiscal", que é a capacidade de o governo manter as contas públicas em dia.
• Confira como ficaram os títulos do Tesouro Direto.

A maior atratividade da renda fixa nos Estados Unidos também gera uma corrida pelo dólar, já que vários investidores querem aproveitar a janela de oportunidade de investir por lá com taxas melhores.

• Dessa forma, a moeda se torna mais concorrido e se valoriza. Nesta quarta-feira, véspera do feriado de Corpus Christi, o dólar comercial ficou 1,07% mais caro que o real, rompendo a barreira de R$ 5,20. Na semana, a divida acumula valorização de 0,79% ante o real. No mês, subiu 0,30% e no ano, 7,33%.

Nesta tarde, foi divulgado o Livro Bege, documento que traz um panorama geral da economia dos Estados Unidos. Este compilado é publicado oito vezes ao ano, contemplando as visões de empresários e líderes regionais dos 12 distritos em que o banco central americano está presente.

Apesar de não trazer grandes surpresas, o relatório tampouco serviu para aplacar a aversão ao risco. Pelo contrário, ele apontou para um avanço modesto da inflação e emprego, dois indicadores de preocupação para o Federal Reserve (BC dos EUA).

Um dia antes do feriado no Brasil, a bolsa teve mais uma vez um volume de negociações fraco, de apenas R$ 14 bilhões, ante a média de R$ 17 bilhões dos últimos 12 meses. Na segunda-feira, quando o mercado permaneceu fechado nos Estados Unidos, o giro foi o mais baixo em quase cinco anos, reduzido a R$ 7,4 bilhões.

Entre as forças locais, destacam-se os dados de emprego do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que mostram um mercado de trabalho mais forte do que se esperava. Foram criadas 240 mil vagas, contrariando a média das projeções do Valor Data que previa 214 mil novos postos de trabalho formal. O salário médio de admissão em abril ficou em R$ 2.126,16, valor acima da média de R$ 2.089,20 registrado em março. Ou seja, um aumento de 1% na média salarial.

O aumento na oferta de emprego e na renda dos trabalhadores é ponto de preocupação para o Banco Central. Se há mais pessoas empregadas, haverá mais dinheiro para gastar. Ou seja, o consumo aumenta, o que gera crescimento na demanda por produtos e pressão sobre o índice de preços.

A parte ruim dessa cadeia é que o aumento da inflação força o Banco Central a agir para controlar a subida de preços. A reação da autoridade é elevar os juros ou mantê-los altos por mais tempo. Para a bolsa, o cenário de taxas altas é prejudicial.

Um ambiente de taxas altas desestimula o consumo e os investimentos, reduzindo as margens das empresas. Além disso, o juro alto deixa a renda fixa mais rentável e acaba desencorajando os investidores a se arriscar na bolsa e enfrentar a sua volatilidade. É mais seguro e fácil apenas investir em títulos de renda fixa.

"Acredito que os investidores continuam aproveitando as taxas da renda fixa tendo em vista que os juros futuros continuam apontando para cima. Além disso, existe a possibilidade de que aqui no Brasil a Selic tenha somente mais um corte de 0,25 ponto percentual ou até mesmo se mantenha inalterada até o final de 2024", afirma Anderson Silva, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital.

Como se não bastasse a pressão internacional e local, a cena política também trouxe alerta. O governo divulgou um superávit de R$ 6,688 bilhões do setor público, o mais baixo para o período desde 2020. O saldo positivo de abril também não foi capaz de apagar o déficit registrado nos últimos 12 meses, que corresponde a 2,4% do PIB.

Quanto maior a dívida em relação ao PIB, menor é a confiança do investidor na capacidade de o governo brasileiro gerir as contas pública de modo saudável. Quando esses dados estão desfavoráveis, os juros de longo prazo e o dólar costumam subir e a bolsa, cair. Essa pode ser uma justificativa para a disparada dos juros dos contratos futuros na ponta mais longa da curva.

Diante da disparada dos juros, as varejistas brasileiras mal puderam respirar com a notícia de que o governo decidiu taxar as empresas estrangeiras em 20% em compras internacionais abaixo de US$ 50, até então isentas.

Apesar de a notícia ser positiva para o setor, ele também é um dos mais sensíveis a taxas de juros. Primeiramente porque se prejudica com o desestímulo ao consumo e segundo porque dependendo do crédito para realizar suas operações. Essas empresas também têm margens menores, que tendem a ser esmagadas com os juros mais altos, que elevam o endividamento das companhias.

Contudo, parte do setor de vestuário, que compete com a chinesa Shein, teve dia de alta, como Renner, Marisa e C&A (as duas últimas não fazem parte do Ibovespa). Soma e Guararapes (Riachuelo) não conseguiram operar em terreno positivo. Das 86 ações do Ibovespa, 70 tiveram queda e apenas 12 fecharam em alta.

• Vamos (VAMO3) ocupa vaga entre as maiores altas dentro Ibovespa

Entre os poucos destaques positivos, aparece a Locaweb (LWSA3), que recentemente apresentou uma melhora de 279% no resultado do primeiro trimestre de 2024, comparando com o mesmo período do ano passado. "Apesar da alta de hoje, o ativo teve uma queda de cerca de 17% desde a divulgação do resultado", afirma, Anderson Silva, da GT Capital.