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Por Nathália Larghi, Valor Investe — São Paulo


Na última terça-feira (28), o governo federal fechou um acordo com todos os partidos para taxar em 20% de imposto de importação as remessas internacionais de até US$ 50, que hoje são isentas. Será, portanto, que isso terá um efeito positivo nas varejistas brasileiras, que há muito vinham sofrendo com a concorrência de estrangeiras como Shein e AliExpress? Segundo analistas, a decisão deve favorecer companhias locais, mas, no longo prazo, é preciso ter cautela com os reflexos disso na economia e nos juros.

Segundo Julia Monteiro, analista da Mycap, em momentos de maior insegurança financeira, os consumidores tendem a optar por produtos de menos qualidade, mas que seguem alguma moda ou tendência, que é justamente o que pode ser facilmente encontrado em e-commerces como a Shein, que ganhou popularidade no Brasil nos últimos anos devido aos preços competitivos. Portanto, se as compras nessas companhias passam a ser taxadas, suas concorrentes locais voltam a ganhar mais força.

“A decisão deve afetar especialmente varejistas de moda. Em momentos de insegurança financeira, há efetivamente uma escolha por produtos de menor qualidade, mas mais de moda”, afirma a especialista. Para ela, ações como Lojas Renner, Marisa e Guararapes (dona da Riachuelo) devem se beneficiar da decisão.

É importante destacar que os impostos não sairão diretamente do bolso dos consumidores. As lojas estrangeiras que serão taxas. No entanto, elas podem optar por "repassar" esse custo aos consumidores a fim de não perder suas margens, o que pode levar a um aumento do preço dos produtos anunciados nelas. Assim, as brasileiras podem voltar a ganhar competitividade.

Segundo a analista, varejistas como Americanas e Magazine Luiza também devem se beneficiar da decisão, justamente porque companhias como a Shopee e outras estrangeiras passaram a concorrer na venda de outros itens além do vestuário.

Bruno Benassi, analista de ativos da Monte Bravo, concorda que varejistas de moda, como C&A e Renner, devem ser as mais impactadas positivamente neste primeiro momento. Para ele, a taxação tem como efeito positivo colocar as concorrentes para "jogar no mesmo nível" que as brasileiras.

"Eu acho que a taxação deve trazer um impacto positivo para as varejistas mais influenciadas por esses e-commerces internacionais, como Renner e C&A. Outras, voltadas para renda mais alta, como Arezzo, Soma, Vivara são menos impactadas", diz o especialista.

Benassi destaca que empresas como Shein e Shopee estudam trazer operações para o Brasil, o que pode elevar ainda mais o nível de concorrência. Segundo o especialista, essas companhias têm boas estratégias de marketing, especialmente em redes sociais, e de ofertas, que é algo que as brasileiras ainda estão desenvolvendo.

"Parece que eles sabem operar muito bem a parte de social, de ofertas, coisa que Renner e C&A, por exemplo, ainda sofrem, apesar de a C&A ter aprendido bastante nos últimos tempos", diz.

Para Fernando Siqueira, chefe de análises da Guide Investimentos, haverá um impacto, sim, nas ações. Mas que deve ser limitado. Isso porque, segundo o analista, a tese de que as empresas brasileiras perderam muito com a concorrência internacional foi perdendo força ao longo do tempo. Segundo o especialista, a disputa com as empresas estrangeiras atrapalhou, mas não foi o único fator que dificultou o bom desempenho do varejo nos últimos tempos.

"O impacto é positivo para as empresas varejistas brasileiras dado que estava tendo muita compra internacional por valores pequenos, no varejo de vestuário, mas também em pequenos produtos eletrônicos e tudo mais. Mas o impacto é um pouco limitado. Primeiro, porque as pessoas podem achar um jeito de burlarem um pouco isso, não declarando que é uma compra ou coisa desse tipo. E um outro fator é que vimos, ao longo do tempo, que outras coisas atrapalharam um pouco os resultados do varejo. Portanto, essa mudança vem em um momento em que esse assunto da concorrência não era a preocupação número um do setor", afirma.

Alguns dos fatores que vêm dificultando a vida das empresas desse segmento são o endividamento ainda elevado das famílias, que limita o poder de compra e, portanto, "atrapalha" as receitas das companhias, e a Selic ainda alta.

"Misturou preocupação com a renda, os juros altos, com problemas de crédito em alguns casos, como Americanas e Marisa, e até mesmo problemas com a operação financeira em outros, como Renner, Guararapes. No meio de tudo isso, ainda se falava da concorrência internacional. Hoje, a preocupação com a renda é menor, a economia está bem, o desemprego baixo e a preocupação com concorrência internacional também está menor. Então, a maior preocupação é com a Selic e, indiretamente, com os juros nos EUA. E em menor grau, preocupação com o clima. Por ter sido um trimestre quente, o varejo de vestuário está sofrendo", complementa.

A decisão, inclusive, pode trazer alguns outros efeitos no futuro que podem se refletir em um aumento não só da inflação como também dos juros. Segundo Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Way Investimentos, um aumento de impostos, no fim das contas, traz mais pressão inflacionária. Afinal de contas, é mais dinheiro circulando. E, segundo o especialista, isso pode ter um efeito na Selic e, no fim da linha, também nas varejistas.

Isso porque, caso a inflação aumente, é provável que os juros também fiquem em patamares elevados. E essas companhias são beneficiadas quando os juros estão menores. Primeiro, porque uma Selic reduzia incentiva mais o consumo (o que tem um reflexo positivo na receita dessas empresas).

Além disso, o setor do varejo costuma ser o que o mercado chama de mais “alavancado” (ou seja, mais endividado). Portanto, se os juros ficam maiores, os gastos com dívidas dessas companhias também crescem, o que afeta seus resultados financeiros e, no fim das contas, pode atrapalhar não só seus balanços como o desempenho de suas ações.

“As ações das varejistas podem subir nesse primeiro momento, mas não sei se será um movimento consistente. Aumento de impostos, no final, é inflacionário e, mais a frente, pode gerar pressão sobre a Selic, o que pode prejudicá-las”, afirma o especialista. “O cobertor está curto. O governo aumenta impostos para cobrir gastos, mas os juros altos trazem mais gastos, é um círculo vicioso que precisa ser interrompido”, diz.

Há quem acredite, inclusive, que a medida foi uma pressão por parte das próprias empresas brasileiras. Segundo Gabriel Meiram especialista e sócio da Valor Investimentos, uma ideia mais interessante seria melhorar os custos de produção internas e a produtividade das companhias locais.

"São medidas novas para problemas velhos. Ao invés da gente acertar o problema do custo Brasil e da produtividade para as empresas brasileiras, a gente taxa o que vem de fora. Era esperado, porque o governo precisa arrecadar, então agora é arcar com compras mais caras nas importações", diz.

Shopee apoiou medida

Apesar de a Shopee ser normalmente associada às vendas internacionais, a companhia apoiou a medida do governo. Isso porque, segundo a empresa, 90% das vendas da Shopee no país são de vendedores nacionais e mais de 85% dos produtos dos vendedores brasileiros são produzidos no Brasil.

Em nota, a companhia afirmou que "apoia a medida aprovada ontem pela Câmara dos Deputados que estabelece a alíquota de 20% de imposto de importação para produtos de até US$ 50 e a isonomia tributária".

"Nosso foco é local. Queremos desenvolver cada vez mais o empreendedorismo brasileiro e o ecossistema de ecommerce no país e acreditamos que a iniciativa trará muitos benefícios para o marketplace. Não haverá impacto para o consumidor que comprar de um dos nossos mais de 3 milhões de vendedores nacionais que representam 9 em cada 10 compras na Shopee no país", diz o comunicado. "Conectamos milhões de vendedores e consumidores em nosso marketplace seguro e acessível a todos. Temos investido fortemente na expansão de nossa malha logística que é 100% direcionada a atender as vendas dos lojistas nacionais. Atualmente, temos mais de 10 mil colaboradores em dois escritórios na cidade de São Paulo, 11 centros de distribuição, mais de 100 galpões logísticos, além de 2 mil pontos de coleta", completa.

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