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Por Por Bruna Cambraia (@cambr4ia)


Posso afirmar com convicção: não tem muito tempo que eu assimilei que as pessoas também poderiam me enxergar. Isso tem cara de papo ultrapassado, né? Mas o entendimento do meu real lugar ser diferente daquele que querem me colocar ainda é muito novo, tão novo quanto eu, nascida em 1995. Digo isso porque a data de hoje, 25 de julho, dia Internacional da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha, só existe porque 3 anos antes do meu nascimento, 1992, aconteceu o 1º Encontro de Mulheres Negras da América Latina e do Caribe, em Santo Domingo, na República Dominicana: uma reunião de um grupo de mulheres ativistas não brancas que estavam cansadas de buscar por um lugar representativo dentro do feminismo branco e eurocêntrico sem obter nenhum sucesso.

Dia 25 de julho é Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha (Foto: Natalia Iashnova) — Foto: Glamour
Dia 25 de julho é Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha (Foto: Natalia Iashnova) — Foto: Glamour

Resultado do encontro? Mais de 300 mulheres negras, latino-americanas e caribenhas de diversas partes do mundo criando a RMAAD, Rede de Mulheres Afro-latino-americanas, Afro-caribenhas e da Diáspora, como nos conta Bianca Santana em Continuo Preta: a vida de Sueli Carneiro (Companhia das Letras, R$ 60), biografia da filósofa, escritora e ativista antirracista do movimento social negro brasileiro. Depois disso, o grupo pressionou a Organização das Nações Unidas (ONU) a entender o combate às opressões de raça e gênero como uma pauta tão relevante quanto as outras.

Quase 30 anos se passaram, mas a situação não está diferente nem a nível mundial, nem a nível nacional. Seguimos buscando nossos direitos e estamos passos consideráveis atrás das mulheres brancas: enquanto elas reivindicam igualdade salarial, nós ainda lutamos pelo reconhecimento dentro de condições mínimas de humanidade. Dados que comprovam que somos o grupo mais vulnerável são os levantados pelo Atlas da Violência (2018), que mostra que no intervalo de 2008 a 2018, atos violentos contra mulheres negras no Brasil aumentaram 12,4%, enquanto o número em relação às brancas teve diminuição de 11,7%.

No Atlas da Violência de 2020, outro dado é contrastante quando comparamos a realidade das mulheres negras com a das brancas no Brasil: para cada branca vítima de homicídio, o número para mulheres negras é de 1,8, quase o dobro, o que dá motivo de sobra para pensar em formas de contribuir na luta antirracista e feminista preta para somar e combater verdadeiramente o que dizima tantas vidas todos os dias.

Tereza de Benguela e a lei nº 12.987/2014

No Brasil, o dia Internacional da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha é também o da Mulher Negra e de Tereza de Benguela, líder quilombola e símbolo de resistência preta – e feminina. Em 2014, a data foi formalizada por meio da lei nº 12.987, sancionada pela então presidenta Dilma Rousseff (PT).

Tereza de Benguela (Foto: Reprodução/Instagram) — Foto: Glamour
Tereza de Benguela (Foto: Reprodução/Instagram) — Foto: Glamour

Tereza de Benguela viveu no século 18 e se tornou rainha do quilombo Quariterê, no Mato Grosso, e governou como ninguém. Criou um sistema de parlamento para reunir outros líderes que decidiriam sobre a administração do quilombo e se mostrou uma grande ativista colocando ações em prática para alimentar e cuidar de seu povo.

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