Lifestyle
Publicidade

Por Ruth Manus


Vítima é um substantivo feminino. A vítima. Mas parece que só na gramática, porque na vida real essa posição costuma pender mais para o lado dos homens do que das mulheres. Sobretudo quando falamos em relacionamentos, parece que elas são quase sempre as culpadas quando as coisas correm mal.

Nesse assunto, o primeiro estereótipo que encontramos é o da mulher “chata”. Trata-se de um adjetivo que resolveu sintetizar todos os medos, angústias, cansaços e problemas de uma mulher numa única palavra: chata. Quantas e quantas vezes ouvimos algum cara dizer que sua esposa é muito chata? Bem, talvez ela esteja sobrecarregada, deprimida, carente, ou, ainda, insegura. Não?

Traída ou pivô (Foto: Iago Francisco) — Foto: Glamour
Traída ou pivô (Foto: Iago Francisco) — Foto: Glamour

Também temos a dita “mulher neurótica”. Ou a “mulher maluca”. Ou a “mulher amarga”. Mas temos, principalmente, a “mulher descuidada”. Aquela que engordou depois de ser mãe ou que não tem tempo para pintar o cabelo ou fazer as unhas por causa da correria dos seus dias. Aquela que não parece uma angel da Victoria’s Secrets nas noites de terça-feira. Que horror, né? Não se fazem mais mulheres como antigamente.

Seja qual for o adjetivo mesquinho que dão a essas mulheres – chata, neurótica, maluca, amarga ou descuidada –, todas têm uma coisa em comum: o mundo resolveu que, uma vez que elas não são perfeitas, estão dando aos seus maridos ou namorados um justo motivo para traí-las. Ou seja, em tese, a culpa por uma eventual traição não será do homem, mas sim da mulher que “não foi boa o bastante” para ele.

Por causa dessa ideia absurda, milhares e milhares de mulheres vivem diariamente tensas e inseguras nos seus relacionamentos. Acham, talvez inconscientemente, que suas crises e suas supostas falhas (estou acima do peso/ chego muito tarde do trabalho/ passo muito tempo com as crianças/ tenho uma constante vontade de chorar) são meio caminho andado para uma traição. Como se os homens não tivessem a capacidade de entender, acolher ou aguentar uma maré ruim.

Na ponta oposta, temos um outro estereótipo: o da sedutora. Irresistível. Sexy. Destruidora de lares. Pivô de separações. Será mesmo que isso existe? E mais, alguém realmente acredita que homens sofrem de alguma espécie de anomalia que os impede de resistir a uma tentação qualquer que passe pelo caminho? Spoiler: não sofrem. Toda traição é uma escolha.

Em resumo, a crença na existência desses dois tipos de mulheres – a que, por ser imperfeita, “está pedindo para ser traída”, e a que, por ser interessante, “está destruindo lares” – faz automaticamente com que o homem nunca tenha culpa nenhuma quando trai. É ele quem faz a coisa errada e é ele quem é a vítima. Uma dupla vítima: da mulher chata e da mulher irresistível. Até quando vamos insistir nessa ideia absurda?

Não há problema algum em se apaixonar por outra pessoa. Assim como não há problema também em deixar de gostar de alguém. Mas trair – homem ou mulher – é sacanagem. É não ter coragem o bastante para sair pela porta da frente. E todos nós nos deparamos com pessoas interessantes, atrações curiosas no meio do caminho. Mas trata-se de uma escolha diária: essa aventura vale mais do que o compromisso que eu assumi com alguém que amo? Se valer, tudo bem. Pede a conta e vai embora. Mas pede a conta.

Jennifer Aniston era uma chata? E a Grazi Massafera? E a Hillary Clinton? E a Thais Fersoza? E a Débora Nascimento? E a Irina Shayk? Por outro lado, a Angelina Jolie é uma destruidora de lares? E a Isis Valverde? E a Monica Lewinsky? E a Paolla Oliveira? E a Marina Ruy Barbosa? E a Lady Gaga? Será mesmo que homens adultos e poderosos são tão frágeis e inconsequentes assim? Ninguém sabe, de fato, o que aconteceu em cada uma dessas histórias. E isso nem nos diz respeito. Mas uma coisa todos nós temos que saber: nenhum homem trai por culpa das mulheres. Esse fardo nós não temos que carregar. Entendido?

Mais recente Próxima Coachella 2019: confira o lineup do festival de música
Mais de Glamour