Lifestyle
Publicidade

Por Ruth Manus


“No fim das contas, a gente se sente grata. porque hoje as decepções doem menos” (Foto: Arte Iago Francisco) — Foto: Glamour
“No fim das contas, a gente se sente grata. porque hoje as decepções doem menos” (Foto: Arte Iago Francisco) — Foto: Glamour

Quando ouvi pela primeira vez a Ariana Grande cantando thank you, next (next), thank you, next (next), comecei a prestar alguma atenção na letra da música. Foi quando percebi que ela ia agradecendo, um a um, seus ex-namorados, por tudo o que aprendeu com cada um deles. Com um, aprendeu o que era amor, com outro o que era paciência, com outro o que era dor. E diz que se sente grata por tudo o que viveu e que agora podem vir os próximos.

Fiquei pensando sobre isso. Sobre quantos homens errados passam pelas nossas vidas e sobre o quanto nós demoramos para transformar mágoas em aprendizados. E não são só os ex-namorados ou ex-maridos – até porque muitas de nós não se relacionam afetivamente com homens. Mas falo aqui em “homem” de uma forma ampla: pode ser o ex-chefe, o chefe atual, pai, irmão, colega, primo.

Com a primeira paixão de escola, aprendemos que, via de regra, aquele menino por quem estávamos apaixonadas gostava de outra garota. E, normalmente, ela tinha o cabelo mais comprido, o corpo mais curvilíneo e uma mochila mais cara que a nossa. E com esse cara a gente aprende que nem sempre a gente vai gostar da pessoa certa. E que gostar de alguém não significa que esse alguém seja legal. E que muitos meninos tendem a ligar mais para o tamanho do peito do que para o tamanho do amor que tem lá dentro. E que, às vezes, eles são assim até os 80 anos de idade.

Com o primeiro chefe, aprendemos que há homens que berram. Há homens que precisam do berro para se sentirem seguros. E que nós podemos nos sujeitar a esses berros ou não. E que isso vai determinar boa parte do nosso caminho. Já com um colega de trabalho aprendemos que também há caras legais. Que ouvem o que você diz, te levam a sério e são bons amigos. Aprendemos que nem todos são tão errados assim.

Com aquele cara por quem nos apaixonamos aos 22, aprendemos a não buscar a pessoa que nos provoca mil arrepios, coração disparado, ansiedades e angústias. Aprendemos que o cara que nos faz andar na corda bamba não é o cara que nos faz bem. E que é bom gostar de alguém que nos faça ser a nossa melhor versão e não a nossa versão histérica e apavorada.

Algumas aprenderam com um pai ausente que mães são incríveis criaturas ambivalentes, que têm uma força descomunal. E que não, isso não é natural nem fácil para elas. Outras, com pais presentes, porém machistas, aprenderam que a luta começa cedo e dentro de casa. E as que tiveram um pai presente e bacana, aprenderam o quão difícil é encontrar um exemplar desses para ser pai dos seus filhos.

Algumas aprenderam com um irmão que não coloca seu prato na pia nem suas meias no cesto de roupa suja que não queriam viver com um homem assim quando adultas. Não mesmo. E com o primo que bebe e briga, aprenderam que não querem caminhar ao lado de quem provoca medo e insegurança.

E aí, no fim das contas, a gente se sente grata. Porque hoje as decepções doem menos. Os gritos já não dão medo. A ansiedade já não tem graça. A ausência nos fortalece e os tropeços nos tornam seletivas. Obrigada. Foi por causa desses erros que nos tornamos as mulheres que somos hoje. Thank you, next!

Arte Iago Francisco
Fotos: Getty Images e divulgação

Mais recente Próxima A pedido da filha de três anos, pai cria boneca de cabelos cacheados
Mais de Glamour