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Por Por Paula Jacob (@pjaycob); Fotos Getty Images


Desde junho deste ano, as discussões em torno do movimento antirracista têm se aprofundado cada vez mais, fazendo com que o público cobre de grandes empresas posicionamentos e ações efetivas para agir nessa luta tão necessária. Conglomerados de moda, beleza e tecnologia entraram na lista de mobilizações para fazer correções históricas e mudar o futuro daqui para frente. E a cultura, claro, não poderia ficar de fora. Pensando nesse cenário, na desigualdade no Brasil e nos números preocupantes causados pelo racismo estrutural do nosso País que a Companhia das Letras divulgou uma cartilha de diversidade na empresa.

A editora que, ao longo dos anos, foi agregando ao seu catálogo tantas outras, como a Penguin, Paralela, Zahar, Objetiva e mais, passa a ter uma consistência maior entre discurso, quadro de funcionários e oferta de livros escritos por autores negros. No comunicado oficial disparado pela equipe de comunicação, a Companhia das Letras frisa o quanto o mercado editorial não está livre do racismo, apontando para a maioria branca em todas as instâncias do processo de fazer um livro.

Stop racism and stronger together seamless pattern. protests, protest,  African Americans and white people against racism, protest banners and posters about Human Right of Black People in US (Foto: Getty Images/iStockphoto) — Foto: Glamour
Stop racism and stronger together seamless pattern. protests, protest, African Americans and white people against racism, protest banners and posters about Human Right of Black People in US (Foto: Getty Images/iStockphoto) — Foto: Glamour


“Como o racismo estrutura todas as nossas relações, ele impacta também o ambiente editorial, onde não só a maior parte dos funcionários em postos de direção são brancos, como os catálogos são majoritariamente compostos por autores brancos e de origem europeia. Por isso é preciso tomar medidas práticas e propositivas, na esteira de outros setores, como as universidades públicas, que finalmente implementaram cotas, ações de reparação e de afirmação positiva para seu corpo discente e docente. A luta antirracista é um processo sem volta nesse país; não só nas instituições públicas, mas também no ambiente empresarial e privado. Nessa luta ainda devem ser incluídos outros grupos, como as populações LGBTQ+, indígenas e pessoas com deficiência, bem como suas intersecções”, pontua o comunicado.

Entre as ações, a contratação de Fernando Baldraia, doutor em história pela Universidade Livre de Berlim, com pós-doutorado pela mesma universidade no Mecila/Cebrap, que passa a integrar a equipe no recém-criado cargo de editor de diversidade, transversal a todos os selos. E também os criadores de conteúdo Ana Paula Xongani, empresária e apresentadora, e Samuel Gomes, escritor e palestrante, que passam a atuar como editores convidados do selo Paralela, também analisando o envio de originais para publicação. Há também um movimento de RH para levantar dois censos de quadro de funcionários, além da reformulação do processo de trainees e estágios, visando uma maior diversidade nas contratações.

Na parte editorial, destaque para a inclusão de intérpretes em libras para acompanhar todas as lives e conteúdos em vídeo produzidos pela editora. Sem contar o cuidado com a diversidade do catálogo oferecido tanto pela Companhia das Letras quanto por todos os selos que são da editora – são cerca de cem projetos editoriais. Como uma boa #MulherBacanaLê, você precisa ficar de olho nos lançamentos a seguir:

Enciclopédia negra, de Flávio Gomes, Jaime Lauriano e Lilia M. Schwarcz (Companhia das Letras)

O título visa ampliar a visibilidade das histórias de cerca de quinhentos negros e negras, apoiando-se na vasta produção historiográfica, antropológica e sociológica que se debruçou sobre a escravidão e o pós-abolição. Muitas dessas trajetórias foram invisibilizadas, por conta da violência com que são fundados e organizados os nossos arquivos, bem como as narrativas construídas e divulgadas; ainda mais quando se trata de mulheres negras e pessoas LGBTQI+ negras.

Por um feminismo afro-latino-americano, de Lélia Gonzalez (Zahar)

Com organização de Flavia Rios e Marcia Lima, o livro reúne em um só volume um panorama amplo da obra dessa pensadora negra tão múltipla quanto engajada. São textos produzidos entre 1979 e 1994, um período efervescente que marca os anseios democráticos do Brasil e de outros países da América Latina e do Caribe, das reivindicações por igualdade racial nos Estados Unidos e das guerras por independência dos países africanos.

Multicultural crowd, group of people, flat vector illustration style. (Foto: Getty Images/iStockphoto) — Foto: Glamour
Multicultural crowd, group of people, flat vector illustration style. (Foto: Getty Images/iStockphoto) — Foto: Glamour

Carolina Maria de Jesus (Companhia das Letras)

A obra de Carolina Maria de Jesus passará a ser publicada pela Companhia das Letras, supervisionada por um conselho editorial composto por seis mulheres: Vera Eunice de Jesus (filha de Carolina), Conceição Evaristo (escritora) e Amanda Crispim, Fernanda Felisberto, Fernanda Miranda e Raffaella Fernandez (pesquisadoras).

Guardei no armário, de Samuel Gomes (Paralela)

Relato de como um jovem nascido na periferia de São Paulo superou o racismo e a homofobia para lutar pelos próprios direitos — e de muitos outros como ele —, acompanhado de diversas entrevistas com personalidades LGBTQI+.

Ser mulher, de Letícia Lanz (Objetiva)

Letícia Lanz nasceu Geraldo Eustáquio de Souza e só aos cinquenta anos, depois de três décadas de casamento, virou Letícia Lanz. Casada, mãe de três filhos e três netos, ela é psicanalista e mestre em sociologia. No livro, escreve sobre sua trajetória, as relações familiares, a transição e os conflitos inerentes a ela.

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