Desde junho deste ano, as discussões em torno do movimento antirracista têm se aprofundado cada vez mais, fazendo com que o público cobre de grandes empresas posicionamentos e ações efetivas para agir nessa luta tão necessária. Conglomerados de moda, beleza e tecnologia entraram na lista de mobilizações para fazer correções históricas e mudar o futuro daqui para frente. E a cultura, claro, não poderia ficar de fora. Pensando nesse cenário, na desigualdade no Brasil e nos números preocupantes causados pelo racismo estrutural do nosso País que a Companhia das Letras divulgou uma cartilha de diversidade na empresa.
A editora que, ao longo dos anos, foi agregando ao seu catálogo tantas outras, como a Penguin, Paralela, Zahar, Objetiva e mais, passa a ter uma consistência maior entre discurso, quadro de funcionários e oferta de livros escritos por autores negros. No comunicado oficial disparado pela equipe de comunicação, a Companhia das Letras frisa o quanto o mercado editorial não está livre do racismo, apontando para a maioria branca em todas as instâncias do processo de fazer um livro.
![Stop racism and stronger together seamless pattern. protests, protest, African Americans and white people against racism, protest banners and posters about Human Right of Black People in US (Foto: Getty Images/iStockphoto) — Foto: Glamour](https://cdn.statically.io/img/s2-glamour.glbimg.com/Ox_lCz9TVUjEQXUp9GJzUnUSS34=/0x0:607x607/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_ba3db981e6d14e54bb84be31c923b00c/internal_photos/bs/2021/s/6/FfBdrBSL2DieIwArkyZw/2020-07-30-companhia-das-letras-diversidade-autores-negros-01.jpg)
“Como o racismo estrutura todas as nossas relações, ele impacta também o ambiente editorial, onde não só a maior parte dos funcionários em postos de direção são brancos, como os catálogos são majoritariamente compostos por autores brancos e de origem europeia. Por isso é preciso tomar medidas práticas e propositivas, na esteira de outros setores, como as universidades públicas, que finalmente implementaram cotas, ações de reparação e de afirmação positiva para seu corpo discente e docente. A luta antirracista é um processo sem volta nesse país; não só nas instituições públicas, mas também no ambiente empresarial e privado. Nessa luta ainda devem ser incluídos outros grupos, como as populações LGBTQ+, indígenas e pessoas com deficiência, bem como suas intersecções”, pontua o comunicado.
Entre as ações, a contratação de Fernando Baldraia, doutor em história pela Universidade Livre de Berlim, com pós-doutorado pela mesma universidade no Mecila/Cebrap, que passa a integrar a equipe no recém-criado cargo de editor de diversidade, transversal a todos os selos. E também os criadores de conteúdo Ana Paula Xongani, empresária e apresentadora, e Samuel Gomes, escritor e palestrante, que passam a atuar como editores convidados do selo Paralela, também analisando o envio de originais para publicação. Há também um movimento de RH para levantar dois censos de quadro de funcionários, além da reformulação do processo de trainees e estágios, visando uma maior diversidade nas contratações.
Na parte editorial, destaque para a inclusão de intérpretes em libras para acompanhar todas as lives e conteúdos em vídeo produzidos pela editora. Sem contar o cuidado com a diversidade do catálogo oferecido tanto pela Companhia das Letras quanto por todos os selos que são da editora – são cerca de cem projetos editoriais. Como uma boa #MulherBacanaLê, você precisa ficar de olho nos lançamentos a seguir:
Enciclopédia negra, de Flávio Gomes, Jaime Lauriano e Lilia M. Schwarcz (Companhia das Letras)
O título visa ampliar a visibilidade das histórias de cerca de quinhentos negros e negras, apoiando-se na vasta produção historiográfica, antropológica e sociológica que se debruçou sobre a escravidão e o pós-abolição. Muitas dessas trajetórias foram invisibilizadas, por conta da violência com que são fundados e organizados os nossos arquivos, bem como as narrativas construídas e divulgadas; ainda mais quando se trata de mulheres negras e pessoas LGBTQI+ negras.
Por um feminismo afro-latino-americano, de Lélia Gonzalez (Zahar)
Com organização de Flavia Rios e Marcia Lima, o livro reúne em um só volume um panorama amplo da obra dessa pensadora negra tão múltipla quanto engajada. São textos produzidos entre 1979 e 1994, um período efervescente que marca os anseios democráticos do Brasil e de outros países da América Latina e do Caribe, das reivindicações por igualdade racial nos Estados Unidos e das guerras por independência dos países africanos.
![Multicultural crowd, group of people, flat vector illustration style. (Foto: Getty Images/iStockphoto) — Foto: Glamour](https://cdn.statically.io/img/s2-glamour.glbimg.com/hsI4GC3HknajrVFlIO1ZGjLKurY=/0x0:607x607/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_ba3db981e6d14e54bb84be31c923b00c/internal_photos/bs/2021/M/V/6HIPRATWKBQTRSCbiRtg/2020-07-30-companhia-das-letras-diversidade-autores-negros-03.jpg)
Carolina Maria de Jesus (Companhia das Letras)
A obra de Carolina Maria de Jesus passará a ser publicada pela Companhia das Letras, supervisionada por um conselho editorial composto por seis mulheres: Vera Eunice de Jesus (filha de Carolina), Conceição Evaristo (escritora) e Amanda Crispim, Fernanda Felisberto, Fernanda Miranda e Raffaella Fernandez (pesquisadoras).
Guardei no armário, de Samuel Gomes (Paralela)
Relato de como um jovem nascido na periferia de São Paulo superou o racismo e a homofobia para lutar pelos próprios direitos — e de muitos outros como ele —, acompanhado de diversas entrevistas com personalidades LGBTQI+.
Ser mulher, de Letícia Lanz (Objetiva)
Letícia Lanz nasceu Geraldo Eustáquio de Souza e só aos cinquenta anos, depois de três décadas de casamento, virou Letícia Lanz. Casada, mãe de três filhos e três netos, ela é psicanalista e mestre em sociologia. No livro, escreve sobre sua trajetória, as relações familiares, a transição e os conflitos inerentes a ela.