Amor & Sexo
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Por Por Malu Pinheiro (@mariluisapp); Fotos Getty Images; Bruna Castanheira


Existe uma passiva e uma ativa? A tesoura funciona? A unha precisa estar sempre curta? O sexo entre duas mulheres é rodeado de dúvidas e, pior, referências estereotipadas que nada tem a ver com o que acontece de fato – culpa do pornô heteronormativo, claro!

“Existe uma imagem que não corresponde a realidade e isso é muito ruim. Vejo mulheres que vão começar a se relacionar com outras mulheres ficando muito angustiadas pela falta de referências [positivas]. O que a gente tem de referência midiática é essa cheia de clichês”, diz Marcela Mc Gowan, médica ginecologista e especialista em sexualidade feminina, para esclarecer os mitos e verdades que rodeiam o sexo lésbico. É com ela que seguimos para tirar as principais dúvidas sobre o assunto. Vem!

Sexo lésbico: Marcela Mc Gowan esclarece mitos e verdades sobre o assunto (Foto: Getty Images/EyeEm) — Foto: Glamour
Sexo lésbico: Marcela Mc Gowan esclarece mitos e verdades sobre o assunto (Foto: Getty Images/EyeEm) — Foto: Glamour

Sempre tem que ter uma ativa e uma passiva?

Mito. Marcela começa explicando que o conceito de atividade e passividade é algo heteronormativo, geralmente associado a gostar ou não de penetração – e não a tomar alguma atitude ou não. “Muitas mulheres vão para um relacionamento [lésbico] já com esse pensamento pronto, presas a um roteiro [estipulado], quando, na verdade, em qualquer tipo de sexo a gente deveria se abrir para compreender as possibilidades existentes”, reflete Marcela. É claro que dentro de uma relação, a mulher pode ter uma preferência maior por uma prática do que outra, mas não existe regra. "Tem gente que gosta, tem gente que não gosta."

Sexo lésbico precisa ter penetração?

Mito. A penetração é uma das diversas práticas sexuais que existem. “Como fomos ensinadas a buscar prazer nesse roteiro heteronormativo, a penetração acaba resumindo a prática do sexo – o que é totalmente errado”, explica Marcela. Precisamos sempre ter em mente que existem outras partes do corpo que proporcionam prazer.

Todo sexo lésbico precisa de cinta?

Mito. “A cinta é um recurso para quem gosta de penetração e, como não é todo mundo que gosta, ela não é essencial”, diz. Vale lembrar que a cinta é um acessório pensado para facilitar e deixar o momento mais confortável para quem curtir a prática.

Tem que estar sempre com as unhas curtas?

Verdade. Marcela explica que existem mulheres superhabilidosas e que conseguem fazer diversos movimentos com unhas alongadas, mas por uma questão de higiene o indicado é manter as unhas curtas. “O sexo lésbico envolve muito toque no genital e a unha mais comprida pode acabar machucando e criando micro escoriações. Além disso, por uma questão médica, quanto mais curta a unha for, menos resíduo você acumula ali e, consequentemente, menos chances de algum tipo de infecção ou contaminação”, explica.

Dá para explorar várias zonas erógenas?

Verdade. “Dá e dá para todo mundo, né?”, brinca Marcela. “As mulheres mais abertas, desprendidas de roteiros, acabam ganhando muito quando se envolvem com outras mulheres porque a relação é muito mais exploratória. O nosso corpo inteiro tem potencial orgástico e regiões para serem estimuladas – e não só no sexo lésbico. Quanto mais a gente se libertar, mais prazer e excitação a gente pode sentir.”

Sexo lésbico: Marcela Mc Gowan esclarece mitos e verdades sobre o assunto (Foto: Getty Images/EyeEm) — Foto: Glamour
Sexo lésbico: Marcela Mc Gowan esclarece mitos e verdades sobre o assunto (Foto: Getty Images/EyeEm) — Foto: Glamour

Existem regiões que dão mais prazer que outras?

Verdade. A afirmação é pessoal, mas cientificamente é comprovado que regiões com mais concentração nervosa apresentam mais sensibilidade. “Nuca, atrás da orelha, em dobras do corpo, embaixo do seio, virilha, atrás da perna, interior da coxa... Todas essas regiões costumam ser bastante prazerosas. É claro que depende da forma que a pessoa lida com o seu corpo. A axila, por exemplo, é bem sensível, mas se a mulher for encanada com essa parte muito provavelmente ela não sentirá prazer ali”, orienta Marcela.

Lésbicas não precisam usar camisinha?

Mito. Não é apenas o sexo com penetração que pode transmitir infecções sexualmente transmissíveis. “No sexo oral e, se for compartilhar vibrador ou objetos tem que usar camisinha também. Tudo que for proporcionar contato de mucosa com mucosa, seja da vulva ou da própria boca, pode transmitir doenças”, alerta a médica. O HPV, sífilis e gonorreia, por exemplo, são bastante transmissíveis pelo contato de mucosa.

A posição da tesoura, famosa scissoring, funciona?

Verdade. A posição é muito conhecida nos clichês pornográficos e, apesar de não ser algo essencial no sexo lésbico, ela funciona. “É um recurso que permite o contato da vulva com outra vulva, que pode ser prazeroso ou não. É algo bem pessoal. A tesoura também é só uma das posições, existem outras formas para se explorar esse contato. O sexo, em geral, é sobre ir encontrando e descobrindo o que funciona ou não para cada um.”

Sexo lésbico da mais prazer que o heteroafetivo?

Verdade – e cientificamente comprovado! “Temos pesquisas que mostram que mulheres homossexuais ou bissexuais tem mais orgasmos que mulheres heterossexuais”, introduz Marcela. “Mas acho que isso está muito mais relacionado àquele script que comentei no começo. É difícil generalizar: existe sexo bom e sexo ruim, e isso vale para relações hetero ou homoafetivas. A questão é o roteiro que tem a penetração como evento principal sendo que, pensando no prazer, ela não é o mais importante para a mulher. Se você ignora todos os outros estímulos, as mulheres heteros vão ter menos orgasmos”, diz.

Marcela ainda esclarece que não é um endeusamento de um tipo específico de relação – muito pelo contrário. “A verdade é que nem os homens sabem o que funcionam ou não, e aí é mais fácil seguir o roteiro básico mesmo. Por isso o sexo fica empobrecido. Como no sexo lésbico esse script não existe, a exploração é muito maior. Na verdade, todo o sexo do mundo deveria ser assim, né? A gente tem que aprender a ter um sexo personalizado, descobrir o que funciona ou não. Isso enriquece a prática e a chance de a gente ter prazer aumenta muito mais.”

É preciso desvencilhar o sexo da genitália?

Verdade. “Você pode até ter o prazer ali na genitália, mas o orgasmo vem com o acúmulo da excitação. São práticas e toques que vão aumentando a tensão até chegar ao pico do prazer, que amplifica o orgasmo. Tem a questão da antecipação também. Antes do toque óbvio, direto no genital, a gente vai criando expectativa até chegar ao pico do prazer. Isso tudo amplifica, deixa maior e mais intenso, o orgasmo”, explica.

Pode usar vibrador junto?

Verdade. Os acessórios, em geral, são muito amigos dos relacionamentos, não só do sexo lésbico. “Não é uma necessidade, mas o vibrador pode trazer muito prazer, sim! Eu, particularmente, gosto muito dos que são externos e que estimulam o clitóris, como os bullets e sugadores. Hoje, já existem vibradores feitos para serem usados na relação mesmo, em que cada uma das pontas tem um estimulador. Mas, se me perguntarem qual eu indico para começar eu investiria no bullet. É um modelo básico e muito surpreendente”, indica Marcela.

Marcela Mc Gowan box (Foto: Bruna Castanheira) — Foto: Glamour
Marcela Mc Gowan box (Foto: Bruna Castanheira) — Foto: Glamour

Depois de esclarecer todos esses mitos e verdades, Marcela conta que se sentiu muito insegura quando começou a se relacionar com outras mulheres. “Eu sou uma mulher bissexual, então já tinha referência anterior do sexo hetero. Mas, com uma mulher, eu não sabia o que fazer ou como agradar. O que me ajudou a passar por essa fase de insegurança foi lembrar do que eu gosto em mim. E, claro, muita conversa. Perguntar é a melhor forma de saber se isso agrada ou não”, conta.

Autoconhecimento, na verdade, é a melhor saída para qualquer tipo de sexo. “Ir sentido, tocando o corpo e ir construindo a sua sexualidade, para depois com o outro. Ah, e tem coisas que funcionam sempre, né? Estimular o clitóris, por exemplo”, brinca. “Ter noção do que você gosta em você mesma ajuda muito nesse momento de insegurança. Afinal, sexo não é só agradar alguém, é desfrutar dele também. Quanto mais prazer você tiver, mais segura você vai ficar. Autoconhecimento é muito importante pra vida sexual de qualquer um. E paciência, sexualidade é uma construção.” Falou e disse!

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