Amor & Sexo
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Por Letícia Gicovate


Sexo (Foto: Nin Magazine) — Foto: Glamour
Sexo (Foto: Nin Magazine) — Foto: Glamour

Eu a chamava de “Helen Mirren”, uma senhorinha inglesa de 70 e poucos anos com um olhar que me media como uma rainha, e aquele sarcasmo fino que escapava entre um gole e outro de chá.

Ela estava impecável em um conjuntinho pálido, com um delicado colar de pérolas e óculos pendurados na ponta do nariz. Era um workshop de produção literária no interior da Inglaterra, eu estava preparada pra contos góticos, dramas históricos e a fina flor do humor britânico. Nada tinha me surpreendido até então.

Quando chegou sua vez de ler, respirou calmamente e começou com voz baixa, porém firme, em tom cordial.

De repente estávamos num beco sujo em Liverpool, era noite, um homem de capa escura espreitava moças inocentes enquanto apalpava o pau. Num quartinho, uma mulher lasciva amarrava outra na quina da cama, dedos e línguas se moviam entre cavernas úmidas e salgadas, corpos tremiam de frio e prazer.

Ela não movia um músculo do rosto durante a leitura, enquanto todas as outras moças da sala moviam alguns pelo corpo todo. “Oh fuck, Helen Mirren!”, quer dizer, “Uau Julia, posso reler?”

Na outra semana, cheguei com minha revista de arte erótica debaixo do braço, ela folheou cuidadosamente. Seu cabelo estava impecávelmente penteado dentro da gola do trench coat Mark & Spencer. “Me parece interessante”, ela me disse, “posso ficar?”.

Demorou algumas semanas pra ela responder meu convite pra publicar na Nin, e quando finalmente aceitou me disse que assinaria como Valerie Milward.

Sexo (Foto: Instagram/Reprodução) — Foto: Glamour
Sexo (Foto: Instagram/Reprodução) — Foto: Glamour

Valerie usava um casaco de pele fake de leopardo e contava histórias de um submundo por onde eu teria medo de andar. Era uma mulher da rua e uma voyeur astuta, livre e inconsequente, perseguindo aventuras e devorando homens, mulheres e o que mais cruzasse seu caminho, cometendo crimes e buscando prazer.

Alguns meses depois, decidi chama-la pra um café, queria lhe entregar a Terceira edição da revista. Foi quando pensei em jogar seu nome real no Google pela primeira vez.

Começaram então a pipocar imagens daquela senhorinha magra encarando a câmera com uma firmeza gigante, metida dentro de um terno chumbo rígido, recheado de medalhas, patches e brasões.

Recém-aposentada, ela havia sido por trinta anos a chefe de polícia do estado, autoridade máxima do Norte da Inglaterra; uma detetive temida e condecorada pela rainha Elizabeth.

Mas pra mim ela seria sempre a misteriosa Valerie. Valerie Milward.

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