Após dois dias de perfuração na superfície do lado escuro da Lua, nesta terça- feira (4), o robô chinês Chang'e-6 voltou a decolar em direção ao espaço. Armazenando cerca de 2kg de amostras de rochas, a nave agora espera o encontro com o seu orbitador para continuar sua viagem de volta para a Terra.
Desde domingo (2), a sonda da Administração Espacial Nacional da China (CNSA) estava aterrissada na bacia do Polo Sul-Aitken (SPA), onde autonomamente recolheu solo e regolito lunar. Chang'e-6 possui dois métodos de coleta: uma broca para recuperar o material sob a superfície e um braço robótico para os exemplares dispostos acima da superfície.
À Nature, Chunlai Li, designer-chefe adjunto da missão nos Observatórios Astronômicos Nacionais em Pequim, afirmou que “o processo de amostragem decorreu muito bem”. Depois de recolher as rochas, o módulo ainda desfraldou uma bandeira da China – a primeira a ser exibida no lado escuro do astro.
O local preciso de pouso de Chang'e-6 é 41,63 graus sul e 153,99 graus oeste, o que significa que as amostras consistirão principalmente de basaltos com uma idade estimada em 2,4 milhões de anos. Se concluída com sucesso, a missão será responsável por permitir as primeiras avaliações de amostras recuperadas do lado oculto da Lua.
Acredita-se que este lado da Lua – chamado de “escuro” por não ser possível de visualizar da Terra, não pela ausência de raios solares – é uma grande promessa para a investigação do astro. Isso porque as suas crateras são menos cobertas por fluxos de lava antigos.
“Obter datas e informações de composição das muitas centenas de fragmentos amostrados pela broca e escavadeira Chang'e-6 é como ter um baú cheio de partes críticas da história lunar”, observa o geólogo planetário Jim Head, da Universidade Brown, também para a revista Nature. “Muito provavelmente, as descobertas vão revolucionar a nossa visão sobre a Lua.”
Próximos passos
Nos próximos dias, Chang'e-6 enfrentará uma das partes mais complicadas de toda a missão: o encontro e o acoplamento do ascensor com o orbitador e a transferência das amostras. “São dois robôs orbitando a Lua separadamente a 5.900km/h, que precisam se tocar suavemente, sem colidir um com o outro”, explica o astrônomo Jonathan McDowell, do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica.
Tendo a missão começado no dia 3 de maio, a viagem de volta para casa deve durar mais três semanas. Espera-se que a cápsula de retorno perfure a atmosfera da Terra e pouse nas pastagens da Mongólia, no norte da China, por volta de 25 de junho.
Segundo o jornal britânico The Guardian, os planos para o “sonho espacial” da China foram acelerados sob o governo do presidente Xi Jinping. Investiu-se pesadamente no programa espacial, em uma série de empreendimentos ambiciosos ao longo da última década que tinham como objetivo aproximar o país das potências mundiais do setor, os Estados Unidos e a Rússia.
Desde então, a China já tem alcançado conquistas notáveis, tais como: a construção da estação espacial Tiangong (o “palácio celestial”), os pousos de veículos robóticos em Marte, a exploração do lado escuro da Lua, a produção de imagens espaciais inéditas e a identificação de novos minerais.