Espaço

Por Redação Galileu

Proposta em 1975, a hipótese do "grande impacto" é a teoria mais aceita pela comunidade científica para explicar o surgimento da Lua, o único satélite natural da Terra. Acredita-se que sua formação tenha acontecido há 4,5 bilhões de anos, com a colisão de um astro do tamanho de Marte na então recém-formada superfície terrestre. Detalhes mais apurados sobre como esse evento aconteceu, entretanto, ainda são desconhecidos.

Em busca de mais informações, um grupo de pesquisadores do Laboratório Lunar e Planetário da Universidade do Arizona (LPL, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, descobriu que a Lua “virou de avesso” em sua origem. O achado, descrito em um artigo publicado no periódico Nature Geoscience na última segunda-feira (8), traz importantes dados sobre a evolução do interior lunar e possivelmente de planetas como a Terra e Marte.

De acordo com a hipótese do grande impacto, após a Terra ter sido atingida pelo astro misterioso, rochas derretidas foram jogadas no espaço. Esses pedaços então se agruparam, cobertos por um oceano global de magma que gradualmente foi se esfriando e solidificando, formando a crosta lunar. Seu interior, porém, estava totalmente fora de equilíbrio: a camada subjacente à superfície passava por uma instabilidade gravitacional com resquícios do oceano de magma.

Três visões da face visível: a vista da Terra (esquerda), regiões cobertas por fluxos vulcânicos ricos em titânio (centro) e padrão poligonal de anomalias de gravidade (direita) — Foto: Adrien Broquet/University of Arizona
Três visões da face visível: a vista da Terra (esquerda), regiões cobertas por fluxos vulcânicos ricos em titânio (centro) e padrão poligonal de anomalias de gravidade (direita) — Foto: Adrien Broquet/University of Arizona

Minerais densos, como a ilmenita, que é composta por titânio e ferro, estavam lá, fazendo com que essa faixa afundasse cada vez mais em direção ao núcleo. De uma forma ainda desconhecida pelos pesquisadores, esses materiais se misturaram com o manto, fundiram-se e emergiram novamente ao exterior na forma de fluxos de lava ricos em titânio. Isso explicaria a presença de rochas basálticas ricas nesse mineral na superfície lunar, cujas amostras foram recolhidas pela missão Apollo 11, em 1969.

“Nossa Lua literalmente virou do avesso”, crava Jeff Andrews-Hanna, coautor e professor associado da LPL, em comunicado. “Mas há poucas evidências físicas que possam esclarecer a sequência exata de eventos durante essa fase crítica da história lunar, e há muita discordância nos detalhes do que aconteceu – literalmente.”

Estudos anteriores conduzidos pela equipe apontaram que, possivelmente antes de afundar, essa densa camada migrou para o lado visível da Lua – que fica continuamente virado para a Terra – impulsionada por um impacto gigante no lado oposto.

Em seguida, ela submergiu formando uma cascata em direção ao interior lunar, deixando remanescentes para trás em uma espécie de padrão geométrico. Essa diferença de densidade seria responsável por determinadas anomalias gravitacionais previamente detectadas pela missão Gravity Recovery And Interior Laboratory (GRAIL), da Nasa, entre 2011 e 2012.

Os cientistas então realizaram simulações para testar essa hipótese. “Nossas análises mostram que os modelos e dados contam uma história notavelmente consistente”, diz Weigang Liang, também autor do artigo. "Os materiais de ilmenita migraram para o lado visível e afundaram no interior em cascatas semelhantes a lâminas, deixando para trás um vestígio que causa anomalias no campo gravitacional da Lua, como visto pelo GRAIL."

Além de confirmar a hipótese, também foi possível localizar esse evento no tempo. Estima-se que a camada rica em ilmenita tenha afundado antes de 4,2 bilhões de anos atrás, já que as anomalias de gravidade foram interrompidas pelas maiores e mais antigas bacias de impacto no lado visível – o que aponta que essas anomalias devem ter se formado mais cedo.

Embora as descobertas esclareçam importantes informações sobre a formação da crosta lunar, novas pesquisas que busquem explicar suas disparidades em diferentes localizações ainda são necessárias. “Os vestígios da evolução lunar inicial estão presentes abaixo da crosta hoje, o que é fascinante”, observa Adrian Broquet, do Centro Aeroespacial Alemão em Berlim, na Alemanha, e pesquisador associado da LPL. “Futuras missões, como uma rede sísmica, permitiriam uma melhor investigação da geometria destas estruturas.”

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