Pela primeira vez, o mineral apatita (o tipo de fosfato mais comum) foi identificado em uma amostra de crosta dos primórdios da Lua. A presença do sólido sugere que a crosta inicial do satélite continha mais água do que se pensava.
A descoberta publicada na segunda-feira (15) na revista Nature Astronomy foi conduzida por uma equipe liderada por Tara Hayden, pós-doutoranda da Universidade de Western Ontário, no Canadá. Os resultados mostram que a crosta inicial da Lua foi consideravelmente enriquecida em água há mais de 4 bilhões de anos.
Hayden fez a descoberta enquanto realizava o doutorado na The Open University, na Inglaterra. Na época, ela analisou uma amostra de rocha para um colecionador e a identificou como um meteorito lunar. Além disso, a pesquisadora percebeu que o exemplar continha uma peça-chave de dados sobre a água na Lua.
"Tive muita sorte de o meteorito não apenas ter vindo da Lua, mas, notavelmente, ter apresentado uma química vital para nossa compreensão dos minerais portadores de água nesse satélite natural", recordou Hayden, em comunicado.
Mineral empolgante
O foco do estudo foi a detecção do mineral apatita, que contém elementos voláteis em sua estrutura. Esse sólido havia sido encontrado em todos os tipos de rocha lunar, exceto pedaços de vidro e anortositos ferroanos, que representam a crosta lunar inicial.
Os anortositos são conhecidos por serem incrivelmente antigos (datam entre 4,5 e 4,3 bilhões de anos atrás). Eles são o único tipo de rocha já registrado a ter se formado diretamente do Oceano de Magma Lunar, quando a Lua estava quase completamente derretida.
Para Hayden, os meteoritos lunares "estão revelando partes novas e empolgantes da evolução lunar e expandindo nosso conhecimento além das amostras coletadas durante as missões Apollo".
As coletas do Programa Apollo foram inicialmente consideradas "pobres em voláteis" ao retornarem à Terra; por isso, a Lua passou a ser descrita como muito seca. Isso mudou em 2008, quando Alberto Saal e outros pesquisadores descobriram quantidades significativas de água e outros voláteis em contas de vidro em amostras dessa missão da Nasa.
Mas essas amostragens não são tudo. "Sabemos a maior parte da história da água na Lua a partir das amostras da Apollo, mas acredita-se que elas representem apenas cerca de 5% de toda a superfície lunar", observa Hayden. "Até obtermos mais amostras nas próximas missões Artemis, as únicas outras amostras da superfície que temos são meteoritos".
Inclusive, a pesquisadora diz que o tempo da descoberta é perfeito, já que as missões Artemis da Nasa estão se preparando para lançamentos. Cientistas, incluindo o atual supervisor de Hayden, Gordon Osinski, estão desenvolvendo a programação e os objetivos da missão para os astronautas.
No ano passado, Osinski foi selecionado para a equipe de geologia da Nasa que está desenvolvendo o plano de ciência de superfície para a Artemis 3, a primeira missão tripulada de pouso lunar em mais de 50 anos. Ele se juntará aos colegas na sala de controle de missão no Johnson Space Center da agência espacial americana, em Houston, fornecendo suporte ao longo da jornada.
"As descobertas de Tara são super empolgantes e contribuirão para nossa estratégia de amostragem para a missão Artemis 3, onde esperamos identificar e amostrar algumas das crostas mais antigas da Lua", disse Osinski.