Biologia

Por Agência Bori

Estudo publicado na terça (27) na revista Journal of Applied Ecology revela que a expansão das instalações de barragens nos estados do sul do Brasil aumenta o risco de extinção do cágado-rajado, espécie de cágado de água doce endêmica da Mata Atlântica e dos Pampas, na América do Sul.

No pior cenário previsto, o cágado-rajado perderá quase 35% em distribuição geográfica, apontam pesquisadores das universidades federais dos estados de Goiás, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, da UNESP de Rio Claro e de organizações do terceiro setor.

Os autores criaram modelos de nicho ecológico que correlacionam os registros de ocorrência da espécie Phrynops williams com as variáveis ambientais que descrevem clima, topografia, solo e uso do solo a fim de mapear as prováveis áreas de bacia hidrográfica habitadas pelo réptil. Depois, esses modelos foram sobrepostos aos dados de projetos hidrelétricos da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).

Para avaliar o impacto das barragens localizadas em regiões com presença do cágado-rajado, os pesquisadores levaram em consideração dois critérios: a perda de área de provável habitat da espécie e a quebra de conectividade entre as populações de cágado-rajado que se distribuem ao longo dos rios.

O trabalho revela o padrão geral dos impactos cumulativos dos empreendimentos sobre a distribuição da espécie. Segundo os autores, os resultados têm alto potencial de aplicação para subsidiar tomadas de decisão relacionadas à expansão da matriz hidrelétrica. “Acredito que a publicação deste estudo é uma importante contribuição para a conservação do cágado-rajado”, explica André Regolin, biológo e um dos autores do trabalho.

De acordo com o estudo, as grandes usinas hidrelétricas têm os maiores impactos no cenário atual. No entanto, há ainda um alto número de pequenas centrais hidrelétricas planejadas que, se construídas, aumentarão mais de 50% da área impactada por este tipo de empreendimento, porque são projetadas para regiões consideradas pelos pesquisadores como sendo de alta e moderada prioridade de conservação.

Frente à ameaça, o estudo sugere que o status de conservação da espécie seja alterado para “Vulnerável” no Brasil. Nos países vizinhos, como Argentina, Paraguai e Uruguai, o estudo revela que o risco de extinção é ainda maior, onde a espécie está classificada como “Em Perigo”.

As usinas hidrelétricas são a principal fonte de energia elétrica no país e poder prever como afetam determinada espécie possibilita pensar também sobre alternativas de instalação de menor impacto, o que pode subsidiar a tomada de decisão do poder público. “A análise de conectividade dá para direcionar onde é mais impactante. É uma visão mais global do que se tem projetado para toda a área de vida da espécie, um dado muito mais refinado. Foge de análises pontuais, que é o que a gente tem até o momento”, afirma Tobias Kunz, biólogo e também autor do estudo.

A metodologia utilizada pelos pesquisadores, afirmam, pode ser replicada para estudos com outros animais. “Seria pertinente no futuro elaborarmos um índice de viabilidade ambiental desses empreendimentos, nos quais não se considera só uma espécie, mas várias”, acredita Regolin.

Como próximos passos, os autores sugerem a possibilidade de estudar o design das barragens para identificação das que oferecem maior impacto. Além disso, apontam a necessidade de desenvolvimento de novos métodos para amostragem da espécie, processo necessário para o licenciamento de cada barragem e que não é viável em sua metodologia tradicional, além da colaboração conjunta com órgãos ambientais. “Existem diversas lacunas de conhecimento sobre o cágado-rajado e será necessário investimento em pesquisa de ponta para poder avançar com propostas concretas para sua conservação”, conclui Regolin.

Mais recente Próxima Sistemas parecidos com CRISPR em animais podem editar o genoma humano
Mais de Galileu

Cientistas observaram região acima da Grande Mancha Vermelha com o telescópio James Webb, revelando arcos escuros e pontos brilhantes na atmosfera superior do planeta

Formas estranhas e brilhantes na atmosfera de Júpiter surpreendem astrônomos

Yoshiharu Watanabe faz polinização cruzada de trevos da espécie "Trifolium repens L." em seu jardim na cidade japonesa de Nasushiobara

Japonês cultiva trevo recorde de 63 folhas e entra para o Guinness

Especialista detalha quais são as desvantagens do IMC e apresenta estudo que defende o BRI como sendo mais eficaz na avaliação de saúde

Devemos abandonar o IMC e adotar o Índice de Redondeza Corporal (BRI)?

Consumidores de cigarro eletrônico apresentam índices de nicotina no organismo equivalentes a fumar 20 cigarros convencionais por dia, alertam cardiologistas

Como o cigarro (inclusive o eletrônico) reduz a expectativa de vida

Artefatos representam as agulhas de pedra mais antigas que se tem registro até hoje. Seu uso para confecção de roupas e tendas para abrigo, no entanto, é contestado

Agulhas de pedra mais antigas da história vêm do Tibete e têm 9 mil anos

Cofundador da Endiatx engoliu durante palestra da TED um aparelho controlado por um controle de PlayStation 5 que exibiu imagens em tempo real de seu esôfago e estômago; assista

Homem ingere robô "engolível" e transmite interior de seu corpo para público

Pesquisadores coletaram amostras do campo hidrotérmico em profundidades de mais de 3 mil metros na Dorsal de Knipovich, na costa do arquipélago de Svalbard

Com mais de 300ºC, campo de fontes hidrotermais é achado no Mar da Noruega

Além de poder acompanhar a trajetória das aves em tempo real, o estudo também identificou as variáveis oceanográficas que podem influenciar na conservação dessas espécies

6 mil km: projeto acompanha migração de pinguim "Messi" da Patagônia até o Brasil

Estudo é passo inicial para que enzimas produzidas pelo Trichoderma harzianum sejam usadas para degradar biofilmes orais

Substância secretada por fungos tem potencial para combater causa da cárie dental

Lista traz seleção de seis modelos do clássico brinquedo, em diferentes tipos de formatos, cores e preços; valores partem de R$ 29, mas podem chegar a R$ 182

Ioiô: 5 modelos profissionais para resgatar a brincadeira retrô