Um novo estudo conduzido por Brigitte Schoenemann, do Instituto de Zoologia da Universidade de Colônia, na Alemanha, e por Euan Clarkson, da Universidade de Edimburgo, na Escócia, concluiu que artrópodes marinhos pré-históricos tinham mais olhos do que se pensava. Isso porque os trilobitas, artrópodes da era Paleozoica, possuíam olhos compostos e ocelos (um olho único e primitivo na testa do animal, também chamados de mediano).
Em geral, ocelos são típicos de todos os artrópodes, porém, essa estrutura ainda não havia sido observada em registros de trilobitas, apesar de 150 anos de pesquisa.
“O número original de olhos medianos é dois, que os aracnídeos atuais e muito conservadores ainda têm. Na filogenética, artrópodes muito primitivos (por exemplo, Cindarella eucalla, do Cambriano inferior, na China) possuem quatro. Animais modernos, como insetos e crustáceos, têm apenas três”, explica Schoenemann, em nota.
Publicado em 8 de março no periódico Scientific Reports, o ocelo foi descoberto enquanto Schoenemann e Clarkson examinavam a cabeça de um espécime do trilobita Aulacopleura koninckii.
Ao analisarem de perto, a dupla encontrou três manchas ovais escuras, quase imperceptíveis, minúsculas e de formato quase idêntico, na frente da cabeça. Elas apresentavam um contorno suave e uma cor marrom escura uniforme. Eram paralelas entre si e se espalhavam até a parte inferior da cabeça.
"Essa aparência clara e regular distingue essa estrutura das formações aleatórias produzidas por decomposição ou fossilização e corresponde às esperadas relíquias de simples olhos medianos equipados com uma camada de pigmento", explica Schoenemann. "Mesmo que seja um único achado, ele suporta a suposição de que os trilobitas originalmente tinham olhos medianos."
Além do A. koninckii, os autores acharam no trilobita Cyclopyge sibilla, cujo habitat era o oceano livre, três olhos medianos em forma de taça na chamada glabela, região no meio da testa entre os grandes olhos compostos. Esses olhos aparentavam ter uma lente não muito diferente dos olhos humanos e, portanto, eram claramente mais diferenciados e provavelmente muito mais eficientes do que os da trilobita Aulacopleura koninckii, que habitava o fundo do mar.
A presença do "terceiro olho" era característica do estágio larval dos animais, onde os únicos olhos estavam localizados sob uma camada transparente da carapaça, que se tornou opaca durante o processo de fossilização. De acordo com os pesquisadores, esses dois pontos são os culpados para que os ocelos não fossem descobertos até agora.
A presença do ocelo no animal resolve o dilema do porquê os trilobitas não possuíam um "terceiro olho" igual aos outros artrópodes. Para além das duas espécies, os autores também detectaram olhos medianos em outros artrópodes de aproximadamente 500 milhões de anos, que não haviam sido catalogados. Conseguir identificar a presença de mais olhos é importante para a elaboração da árvore evolutiva dos artrópodes.