• Beatriz Gatti*
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Imaginação transforma prédio em nave espacial em filme “Edifício Gagarine” (Foto: Divulgação)

Imaginação transforma prédio em nave espacial em filme “Edifício Gagarine” (Foto: Divulgação)

Construído na década de 1960 nos arredores de Paris, na França, o enorme conjunto habitacional Cité Gagarine abrigou seus moradores por décadas em mais de 300 apartamentos — até ser demolido em 2020. Homenagem direta ao primeiro homem a viajar ao espaço e orbitar a Terra, o russo Iuri Gagarin, o prédio inspirou o filme Edifício Gagarine, que conta a história de um xará do cosmonauta: o jovem Youri, cujo maior sonho é também viajar para fora da Terra.

Prevista para estrear em 26 de agosto no Brasil, a produção de ficção incorpora a realidade no ponto central da trama, que é a luta dos moradores para impedir a demolição do Gagarine. Junto a seus amigos Diana e Houssan, Youri começa a empreitada de salvar o lugar no qual seus desejos são realizados a partir de sua imaginação.

Na visão dos diretores Fanny Liatard e Jérémy Trouilh, o filme retrata um diálogo ininterrupto entre o adolescente e o prédio, cujo nome, por sua vez, teria servido de inspiração para batizar a criança que nasceu lá.

De acordo com os cineastas, o desaparecimento do Gagarine destruiria os sonhos e as memórias de Youri, além de fazê-lo sentir a perda de sua comunidade. “Para ele, o Gagarine não é uma utopia ultrapassada, é o seu presente e o solo do seu futuro. Sair significa perder tudo: abandonar sua família e seu mundo imaginário, então ele assume a resistência”, revelam Liatard e Trouilh, em comunicado enviado à imprensa e ao qual GALILEU teve acesso antecipado.

O aspirante a astronauta Youri luta contra a demolição do prédio onde mora (Foto: Divulgação)

O aspirante a astronauta Youri luta contra a demolição do prédio onde mora (Foto: Divulgação)

A ideia do longa surgiu a partir de uma experiência real de captação de imagens e relatos que tinham como objetivo estudar a demolição do Gagarine — que de fato começou a se consumar em 2019. “Fomos imediatamente atraídos pelo lugar e pelas pessoas”, contam os diretores. “Desde nossa primeira visita, pensamos em fazer um filme; nunca tínhamos feito ficção, mas era evidente que era por aí que tínhamos de começar.”

E deu certo. Edifício Gagarine foi exibido em mais de 25 festivais, incluindo a seleção oficial de Cannes em 2020. Embora demolido, o Gagarine permanece na lembrança e nos registros audiovisuais. “Tentamos mostrar que o prédio é importante, mas no final o que resta são as pessoas. A relação com o lugar perdura, aconteça o que acontecer”, concluem os cineastas.

Ícone comunista

Se em abril de 1961 Iuri Gagarin estava ocupado demais em uma missão inédita que o enviaria ao espaço, dois anos depois o cosmonauta soviético conseguiu comparecer à inauguração do prédio que o homenageava. O Cité Gagarine foi construído como um símbolo comunista francês na época.

O Cité Gagarine foi construído na década de 60 e teve sua demolição concluída em 2020 (Foto: Divulgação)

O Cité Gagarine foi construído na década de 60 e teve sua demolição concluída em 2020 (Foto: Divulgação)

A trajetória do russo foi meteórica. Formado como cadete pela Força Aérea Soviética, Gagarin já acumulava 265 horas de voo quando a sonda Luna 3 foi lançada, em outubro de 1959. Foi nessa ocasião que ele demonstrou interesse na exploração espacial. Meses depois, seria aprovado para fazer parte do programa espacial soviético.

Em menos de um ano, o cosmonauta foi lançado ao espaço em uma aeronave esférica que percorreu, de forma automática, a órbita do nosso planeta em 108 minutos e a incríveis 28 mil quilômetros por hora.

Apesar de Gagarin ter pousado a 320 quilômetros de distância do local previsto, a missão foi concluída com sucesso e deu mais combustível para a corrida espacial travada entre a União Soviética e os Estados Unidos, que até chegaram a mandar o primeiro astronauta ao espaço em 1961, mas sem que ele completasse a órbita.

Assista ao trailer de Edifício Gagarine: