• Redação Galileu
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Filme apresentado em Cannes mostra o mundo do ponto de vista de uma vaca (Foto: Reprodução/Festival de Cannes)

Filme apresentado em Cannes mostra o mundo do ponto de vista de uma vaca (Foto: Reprodução/Festival de Cannes)

Pelas vastas pastagens de uma fazenda de gado, Luma se alimenta, muge, trota, dá à luz e olha fixamente para as câmeras que a rodeiam. Ela é a protagonista de Cow, documentário dirigido pela premiada cineasta britânica Andrea Arnold, que conseguiu levar a rotina de uma vaca leiteira aos holofotes da programação de estreia do Festival de Cannes, cuja edição de 2021 acontece entre os dias 6 e 17 de julho.

Cow acompanha o dia a dia de Luma ao longo de um ano, mas foram necessários quase oito para que o filme fosse finalizado. Em um dos trechos divulgados pelo site do festival, é possível visualizar ao menos 15 vacas ao redor da protagonista — uma mastigando lentamente o capim e outras sentadas sobre a grama. Uma câmera quase colada à face de Luma mostra o animal levantando a cabeça em direção ao céu. Ela fareja o ar, pisca os olhos. Depois, desce a cabeça até o solo e fecha as pálpebras lentamente, como quem se prepara para tirar uma soneca após o almoço.

É assim a rotina das vacas leiteiras: acordar, comer, dar leite e parir, até o último de seus dias. A obra também registra os sacrifícios que a protagonista tem de fazer para produzir o volume de leite requisitado pela fazenda, o que leva a uma inflamação em seu tecido mamário. No pescoço, uma placa transforma a vaca em número: 201699.

“Normalmente, vemos as vacas como um rebanho. Eu queria ver uma vaca como um indivíduo”, afirmou Arnold na cerimônia de estreia do documentário, disponível no YouTube. “A ideia foi fazer com que as pessoas se envolvessem com uma consciência não humana”, disse a diretora do curta-metragem Wasp, que ganhou o Oscar em 2005.

Na sinopese da obra, a cineasta escreveu que o filme é uma tentativa de fazer com que o público veja "a beleza e os desafios" da vida das vacas leiteiras. "Não de uma forma romântica, mas de uma forma real. É um filme sobre a realidade de uma vaca leiteira e um reconhecimento por seu grande serviço para nós", diz o texto.

Primeira obra de não ficção de Arnold, o documentário também fez com que a cineasta lembrasse da relação que tinha com a natureza durante a infância, quando morava em uma propriedade rural cercada por áreas selvagens.

“Eu acho que todos nós crescemos com uma ideia bem romantizada da natureza, nós temos livros de histórias, e pinturas fantásticas, mas [o filme] foi uma tentativa de fazer o público se engajar com algo que estamos acostumados a ver de longe, e meio que pular dentro dessa pintura. Eu queria ver e mostrar como a realidade [de uma fazenda de gado] é”, disse Arnold.