• CAGRI KILIC* | THE CONVERSATION
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Os rovers em Marte frequentemente encontram detritos – como este escudo térmico e a mola – de suas próprias missões ou de outras (Foto: Reprodução/NASA/JPL-Caltech)

Os rovers em Marte frequentemente encontram detritos – como este escudo térmico e a mola – de suas próprias missões ou de outras (Foto: Reprodução/NASA/JPL-Caltech)

As pessoas exploram a superfície de Marte há mais de 50 anos. De acordo com o Escritório das Nações Unidas para Assuntos Espaciais Exteriores, as nações enviaram 18 objetos feitos por humanos para Marte em 14 missões separadas. Muitas dessas missões ainda estão em andamento, mas durante as décadas de exploração marciana, a humanidade deixou para trás muitos detritos na superfície do Planeta Vermelho.

Sou um pesquisador pós-doutorando que estuda formas de rastrear Marte e os robôs lunares. Em meados de agosto de 2022, a Nasa confirmou que o robô Perseverance tinha avistado um pedaço de lixo lançado durante seu desembarque, desta vez um emaranhado de fios. E essa não é a primeira vez que os cientistas encontram lixo em Marte, já que há muito por lá.

Todas as naves espaciais que pousam em Marte ejetam equipamentos – como esta concha protetora – a caminho da superfície marciana (Foto: Reprodução/NASA/JPL-Caltech)

Todas as naves espaciais que pousam em Marte ejetam equipamentos – como esta concha protetora – a caminho da superfície marciana (Foto: Reprodução/NASA/JPL-Caltech)

De onde vêm os detritos?

Os detritos em Marte provêm de três fontes principais: equipamentos descartados, naves espaciais inativas e alguns destroços.

Toda missão na superfície marciana requer um módulo que proteja a nave espacial. Esse módulo inclui um escudo térmico para quando a nave passar pela atmosfera do planeta e um paraquedas e equipamentos de pouso para que ela possa pousar suavemente.

A nave descarta pedaços do módulo ao descer, e esses pedaços podem pousar em diferentes locais na superfície do planeta — pode haver um escudo térmico inferior em um lugar e um paraquedas em outro.

Quando esses destroços caem no chão, podem se quebrar em pedaços menores, como aconteceu durante a aterrissagem do rover Perseverance em 2021. Esses pequenos pedaços podem então ser soprados por causa dos ventos marcianos.

O rover Perseverance encontrou esse pedaço de rede em 12 de julho de 2022, mais de um ano após o pouso em Marte (Foto: Reprodução/NASA/JPL-Caltech)

O rover Perseverance encontrou esse pedaço de rede em 12 de julho de 2022, mais de um ano após o pouso em Marte (Foto: Reprodução/NASA/JPL-Caltech)

Ao longo dos anos, foram encontrados muitos lixos espalhados pelo vento — como o material de fios encontrado recentemente. No início do ano, em 13 de junho de 2022, Perseverance avistou uma grande manta térmica brilhante presa em algumas rochas a 2 km de onde o pousara. Além disso, tanto o rover Curiosity em 2012 quanto a sonda Opportunity em 2005 também encontraram detritos de seus veículos de pouso.

A sonda Schiaparelli da Agência Espacial Europeia caiu na superfície de Marte em 2016, como visto nestas fotos do local do acidente capturadas pelo Mars Reconnaissance Orbiter da NASA (Foto: Reprodução/NASA/JPL-Caltech/Univ. do Arizona)

A sonda Schiaparelli da Agência Espacial Europeia caiu na superfície de Marte em 2016, como visto nestas fotos do local do acidente capturadas pelo Mars Reconnaissance Orbiter da NASA (Foto: Reprodução/NASA/JPL-Caltech/Univ. do Arizona)

Veículos espaciais mortos e despedaçados

As nove naves espaciais inativas na superfície de Marte formam o próximo conjunto de detritos que será deixado no Planeta Vermelho. Essas naves são as sondas: Mars 3, Mars 6, Viking 1, Viking 2, o Rover Sojourner, o aterrissador anteriormente perdido Beagle 2, a nave Phoenix, o Rover Spirit e o veículo recentemente inativado Rover Opportunity. Essencialmente intactos, eles se classificam melhor como relíquias históricas do que lixo.

O desgaste afeta as máquinas na superfície marciana. Algumas partes das rodas de alumínio do Curiosity, por exemplo, se partiram e provavelmente estão espalhadas ao longo da trilha do rover. Parte do lixo é proposital, com Perseverance soltando uma broca na superfície em julho de 2021, permitindo que trocasse por uma nova broca para continuar coletando amostras.

As rodas do rover Curiosity sofreram danos ao longo dos anos, deixando para trás pequenos pedaços de alumínio (Foto: Reprodução/NASA/JPL-Caltech)

As rodas do rover Curiosity sofreram danos ao longo dos anos, deixando para trás pequenos pedaços de alumínio (Foto: Reprodução/NASA/JPL-Caltech)

As naves espaciais quebradas e seus pedaços são outra fonte significativa de lixo. Pelo menos duas naves espaciais caíram, e outras quatro perderam contato antes ou logo após o pouso. Descer com segurança até a superfície do planeta é a parte mais difícil de qualquer missão de aterrissagem em Marte — e nem sempre termina bem.

Quando você soma a massa de todas as naves espaciais que já foram enviadas a Marte, obtém cerca de 9,9 mil quilos. Subtraindo o peso da embarcação atualmente em operação na superfície — 2,8 mil quilos —, você fica com 7,1 mil quilos de destroços humanos em Marte.

Por que o lixo é importante?

Hoje, a principal preocupação dos cientistas em relação ao lixo em Marte é o risco que ele representa para as missões atuais e futuras. As equipes do Perseverance estão documentando todos os detritos que encontram e verificando se algum deles pode contaminar as amostras que o rover está coletando.

Os engenheiros da Nasa também consideraram se Perseverance poderia ficar preso nos destroços do pouso, mas concluíram que o risco é baixo.

A verdadeira razão pela qual os detritos em Marte são importantes é por causa de seu lugar na história. A nave espacial e suas peças são os primeiros marcos para a exploração planetária humana.

*Cagri Kilic é pesquisador de pós-doutorado em robótica na Universidade da Virgínia Ocidental, nos Estados Unidos.

O texto foi originalmente publicado em inglês no site The Conversation.