Produzida a partir de plantas naturais, como a quina-amarela, principalmente na região do Equador, a água inglesa é um tônico fitoterápico indicado para falta de apetite e sintomas de má digestão. Mas há quem afirme que ela também é uma poderoso aliada para ajudar a engravidar — será?
Segundo o ginecologista e obstetra Geraldo Caldeira, membro da FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia); da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH) e médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital e Maternidade Santa Joana (SP), não há evidências científicas sobre o assunto. "A água inglesa não tem relação nenhuma com a fertilidade. Algumas pessoas dizem que tomam para limpar o útero, mas isso é crença popular", pontuou. Ainda de acordo com o obstetra, também não há indicações de uso para aborto, limpeza do útero ou no pós-parto e a água inglesa é contraindicada durante a gestação.
![Água inglesa ajuda a engravidar? — Foto: Getty/ilustração figurativa](https://cdn.statically.io/img/s2-crescer.glbimg.com/51oTonXq7D_Lh013nL4fNgVaelU=/0x0:1474x974/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_19863d4200d245c3a2ff5b383f548bb6/internal_photos/bs/2023/o/H/8YGGe8TD2pzwMyKShExA/gettyimages-530459572.jpg)
Abaixo, a nutricionista materno-infantil Letícia Paiva Fontes, da Clínica Clinutri (SP), respondeu as principais dúvidas sobre a água inglesa. Confira:
Para que serve a água inglesa?
A água inglesa é uma solução que contém ervas medicinais e sua principal função é aliviar sintomas relacionados ao aparelho digestivo, como gases, má digestão, desconfortos e estimular o apetite, já que as propriedades das ervas atuam na mucosa do sistema digestivo, estimulando a produção do suco gástrico e, consequentemente, auxiliando na digestão.
É considerada um medicamento fitoterápico?
Sim, os fitoterápicos são produtos que usam componentes naturais de plantas, como folhas, raízes, flores e cascas para obter suas propriedades terapêuticas. Nesse contexto, a água inglesa é composta por uma mistura de ervas medicinais — como angélica, camomila, funcho, canela da china e quina-amarela, podendo variar conforme o fabricante —, que são consideradas benéficas para a saúde digestiva. Os medicamentos fitoterápicos são, muitas vezes, usados para tratar sintomas leves. Vale ressaltar que a eficácia desses produtos pode variar conforme organismo do cada indivíduo e que o uso deve ser feito com cautela, sob orientação de um profissional de saúde qualificado.
Qual a relação da água inglesa com a fertilidade?
Atualmente, não existem evidencias científicas que comprovem que a água inglesa tenha algum efeito positivo na fertilidade ou que possa auxiliar uma pessoa a engravidar. Se estiver com dificuldades para ter o tão sonhado positivo, a mulher deve procurar a orientação de um profissional de saúde especializado em reprodução humana e ter um trabalho multidisciplinar com um ginecologista, nutricionista ou nutrólogo. Eles podem avaliar o caso de forma abrangente, baseada em evidências, realizar exames, identificar fatores que estejam afetando a fertilidade e prescrever suplementações individualizadas, se necessário.
A água inglesa realmente promove uma limpeza no útero?
A água inglesa é conhecida também por auxiliar na cicatrização interna e no tratamento de algumas doenças, como a infecção urinária, por ser diurética, ajudando a eliminar substâncias nocivas mais rapidamente. Por conta disso, foi associada a afirmações de que promoveria uma “limpeza” do útero. No entanto, essas alegações são fundamentadas em tradições populares e não têm um embasamento científico. Não há evidências confiáveis que comprovem que a água inglesa ou qualquer outro produto natural seja eficaz na “limpeza” do útero. Além disso, a ideia de “limpeza” do útero é vaga e não é considerada um conceito médico.
Quais os riscos de tomar água inglesa na gestação?
O uso de água inglesa ou qualquer outro medicamento durante a gestação pode apresentar riscos potenciais para a mãe e o feto. Nunca tome um medicamento sem consultar o obstetra. Como muitos fitoterápicos ainda não foram estudados em gestantes, seus efeitos no feto são desconhecidos. Em relação à água inglesa, alguns dos possíveis efeitos nocivos são irritação gástrica — apesar de ser conhecida por seus benefícios na digestão, pode causar irritação na mucosa do estômago por conta da estimulação do suco gástrico. Além disso, o uso inadequado pode aumentar o risco de complicações na gravidez, como contrações uterinas prematuras.
No pós-parto, a água inglesa pode promover algum benefício?
No pós-parto, é comum algumas mulheres considerarem o uso de remédios fitoterápicos, como a água inglesa, na esperança de obter uma recuperação mais acelerada, como aliviar o inchaço. No entanto, devemos ser cautelosos ao considerar o uso de qualquer produto ou medicamento nesse período, principalmente se a mulher estiver amamentando. O uso de fitoterápicos não são recomendados durante a gestação e amamentação, pois não há estudos científicos que comprovem a segurança e eficácia desses produtos. O pós-parto é um período sensível e muito importante, por isso devemos focar nos cuidados necessários tanto para as mães quanto para os bebês, como descanso adequado, alimentação saudável, hidratação e acompanhamento médico e nutricional regular.
Água inglesa pode ajudar a fazer a "menstruação descer"?
Não. Em algumas culturas, acredita-se que a água inglesa possa ser usada para estimular a menstruação, mas é um mito criado a partir de crenças populares, provavelmente por conta de seus efeitos relaxantes, diminuindo a ansiedade, desconfortos abdominais e cólicas. Esse tipo de confusão entre crenças populares e embasamentos científicos é muito comum, porém é necessário entender que, atualmente, não há nenhum estudo que comprove a relação da água inglesa com alterações no ciclo menstrual.
Existem contraindicações a respeito do uso da água inglesa?
A água inglesa é contraindicada para pessoas com inflamação aguda acompanhada de febre ou vermelhidão na face. Também não é recomendada para pessoas com epilepsia, irritação nervosa, irritação vascular ou hemorragia ativa; pessoas com úlceras estomacais ou intestinais, disenteria amebiana, gastrite, síndrome do intestino irritável, colite ulcerosa, doença de Crohn, doença de Parkinson, problemas no fígado ou indigestão hipoescretora. O produto ainda é contraindicado para menores de 12 anos, mulheres grávidas ou amamentando.
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