Não é nenhum segredo que os adolescentes têm um cheirinho um tanto particular - nada parecido com o das crianças pequenas. Mas um novo estudo parece ter descoberto o motivo para isso. Embora existam muitas semelhanças entre os químicos emitidos por esses dois grupos, as diferenças favorecem as crianças mais novas. As amostras de odor corporal delas apresentavam níveis mais elevados de um composto com fragrância floral. Os adolescentes, por outro lado, produziram um composto que cheirava a suor e urina e apresentavam níveis mais elevados de substâncias descritas como com cheiro de queijo, de mofo e “de cabra”.
Vale destacar que, segundo os autores do estudo, publicado na revista Communications Chemistry, na última quinta-feira (21), os resultados não provaram que os adolescentes cheiravam pior do que os bebês! Mas as diferenças observadas “podem contribuir para um odor corporal menos agradável nos adolescentes”, disse Diana Owsienko, que conduziu a pesquisa na Universidade de Erlangen-Nuremberg, na Alemanha.
O odor corporal é uma mistura complexa de substâncias químicas transportadas pelo ar. Muitas são produzidas quando o suor e o sebo, uma substância oleosa normalmente secretada pelos folículos capilares, são decompostos por micróbios da pele ou reagem com outros compostos no ar. De acordo com os pesquisadores, as diferenças no cheiro entre crianças e adolescentes provavelmente são resultados das mudanças na produção de suor e sebo provocadas pela puberdade.
Como foi feito o estudo?
O estudo foi baseado em amostras de 18 crianças pequenas de 3 anos ou menos e 18 adolescentes que já haviam passado pela puberdade. Para coletar amostras de odor corporal, os cientistas costuraram pequenos remendos de algodão nas axilas de camisetas e macacões que as crianças e adolescentes usaram durante uma noite.
Foi solicitado que os participantes não utilizassem nenhum produto de higiene perfumado nem comessem comidas com cheiros muito fortes - como cebola e alho - nas 48 horas anteriores. No laboratório, os cientistas extraíram e analisaram os compostos químicos presentes no algodão, reunindo amostras de várias crianças da mesma faixa etária.
Os pesquisadores descobriram que as amostras de odores de crianças pequenas continham a maioria dos mesmos compostos químicos que as de adolescentes. Mas havia dois compostos, ambos esteroides, presentes apenas nas amostras de adolescentes. Isso aconteceu porque as glândulas sudoríparas que secretam precursores desses compostos que os micróbios da pele convertem nos esteroides só se tornam ativas a partir da puberdade.
Como é o cheiro dos adolescentes?
Caracterizar cheiros é complicado. “Não existe um consenso global sobre como descrever os odores”, disse Helene Loos, investigadora de aromas e odores na Universidade de Erlangen-Nuremberg e uma das autoras do novo artigo. Mas, os especialistas em odores da universidade já haviam desenvolvido um vocabulário padrão para caracterizar os cheiros de diferentes compostos, com foco inicial nos aromas dos alimentos. “Agora também estendemos essa linguagem às substâncias presentes nos odores corporais”, disse Loos.
Ao analisarem o odor dos dois esteroides dos adolescentes, foi revelado que um deles cheirava a sândalo, uma planta com aroma amadeirado, e almíscar, uma substância de forte odor com aroma quente, amadeirado e terroso. O outro também tinha notas de almíscar, mas com a infeliz adição de aromas de suor e urina.
Além disso, os adolescentes apresentavam níveis mais elevados de compostos chamados ácidos carboxílicos, que estão contidos no sebo, que também têm sua produção aumentada durante a puberdade. Essa substância possui compostos com cheiro mofado, semelhante a queijo e cabra.
Assim, os pesquisadores concluíram que a combinação de dois esteroides com odor de almíscar com os níveis mais elevados de ácidos carboxílicos podem explicar porque o odor corporal dos adolescentes pode ser desagradável para algumas pessoas.