Saúde & bem-estar
 

Por Bruna Alves


Nos últimos anos, o número de pessoas com sífilis tem aumentado bastante, inclusive, em gestantes e recém-nascidos, embora seja uma doença curável, com um tratamento simples – à base de injeções medicamentosas – por um curto período.

Causada pela bactéria Treponema pallidum, a sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) fácil de ser detectada – basta fazer um simples exame de sangue, que o médico solicita na primeira consulta do pré-natal e depois, novamente, com 28 semanas de gestação. Lembrando que o teste é muito prático e ofertado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Mulher grávida  — Foto: Rafael Henrique/Pexels
Mulher grávida — Foto: Rafael Henrique/Pexels

Mesmo assim, os dados são alarmantes. De acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil, em 2021, foram registrados mais de 268 mil novos casos da doença, entre sífilis adquirida, em gestantes e congênita, quando é transmitida da mãe para o feto. Esta última resultou em 192 óbitos.

É importante ressaltar que o aumento da sífilis congênita está diretamente ligado à qualidade do serviço de saúde pública prestado às mulheres durante o pré-natal. “Quando você tem um aumento de incidência de sífilis congênita, como temos visto, fica evidente que há uma falha em vários processos na atenção à saúde dessa população”, afirma a obstetra Giuliane Jesus Lajos, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

De maneira geral, o cenário no país está muito ruim, tendo em vista que a sífilis é uma doença que pode ser evitada com o uso de camisinha, mas, principalmente, curada, se tratada da maneira correta. Os números revelam um panorama que precisa mudar para ontem. Segundo o boletim mais recente, até o mês de junho de 2022, foram constatados 79,5 mil casos de sífilis adquirida, 31 mil registros de sífilis em gestantes e 12 mil ocorrências de sífilis congênita no país, totalizando mais de 122 mil novos casos da enfermidade.

Por isso, a seguir, separamos as principais dúvidas sobre a doença para ajudar a entender os riscos que a infecção pode trazer durante a gestação e, principalmente, para o bebê, que pode ficar com sequelas irreversíveis e, inclusive, ir a óbito.

O que é sífilis?

É uma doença infectocontagiosa, geralmente transmitida através da relação sexual vaginal, anal ou oral. Embora raro, o contágio também pode ocorrer por uma transfusão de sangue de um paciente infectado. Ela pode ser dividida em sífilis adquirida, quando a pessoa é infectada em qualquer fase da vida, sífilis na gravidez e sífilis congênita, transmitida da mãe para o feto. Em todos os casos, a paciente e o bebê podem ser curados, se tratados corretamente.

Como é feito o diagnóstico?

Como dito anteriormente, o diagnóstico é feito através de sorologia, isto é, exames de sangue específicos para sífilis, chamados de treponêmicos ou não treponêmicos.

Hoje, no pré-natal, é preconizado fazer o teste rápido para sífilis. Assim, na primeira consulta, o médico já tem o diagnóstico em mãos e a paciente pode receber a primeira dose do remédio. Isso, entretanto, pode ser que ainda não esteja disponível no país inteiro, mas vale perguntar sobre a disponibilidade no posto de saúde.

Como prevenir a doença?

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível, então, não tem para onde correr: a única forma de prevenção é usando camisinha, mesmo na gravidez, aliás, principalmente nessa condição. Isso porque a mulher pode ser infectada mais de uma vez se tiver relação sexual desprotegida. Então, todo o cuidado é pouco!

Quais sãos os estágios da doença e como identificar os sinais e sintomas?

A sífilis é dividida em três fases clínicas e a chamada fase latente. Elas variam de acordo com a manifestação da doença. Entenda:

1. Sífilis primária

Ela se manifesta através de uma úlcera assintomática (não dói e nem incomoda), que aparece no período entre 10 e 90 dias após o contágio da doença. Normalmente, esse sinal surge na região genital, como na vagina, vulva e colo do útero. Mas também pode aparecer na boca, se praticado sexo oral, por exemplo. E o mesmo serve para os homens.

“Então, às vezes, a mulher tem essa úlcera lá embaixo e nem percebe, porque cicatriza de uma forma rápida e vai embora sozinha em umas três semanas, mesmo sem tratamento. Muitas pessoas nem sabem que tiveram essa lesão primária”, explica Giuliane, obstetra e ginecologista do CAISM (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher) da Unicamp e membro da Comissão especializada em Vacinas da FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

2. Sífilis secundária

Essa fase da doença costuma se manifestar entre três e 12 semanas depois da sífilis primária não tratada. Nesse caso, os sinais são visíveis com manchas e pápulas avermelhadas cutâneas (ou seja, na pele), semelhantes a um tipo de alergia, geralmente no tronco, nos pés ou nas mãos. A pessoa infectada também pode apresentar queda de cabelo, alterações na unha e até o aparecimento de verrugas na região da genitália. Se você tiver algum desses sintomas, não hesite em procurar um médico ou um pronto-socorro imediatamente.

Por isso é tão importante falar sobre sífilis. Se as pessoas não conhecem os sintomas da doença, elas podem achar que é algo comum — e é aí que mora o perigo! A infecção geralmente não se cura sozinha, isto é, sem nenhum tratamento. Além disso, se não tratada, pode voltar em condições clínicas mais perigosas. "Muitas vezes, essa forma secundária passa batido, já que esses sintomas também desaparecem”, alerta a professora da Unicamp, lembrando que, a partir daí, a doença ainda pode evoluir para uma terceira fase.

“A maioria das mulheres não descobre que teve sífilis por causa de uma úlcera e erupções na pele. Elas descobrem porque foram a uma consulta de rotina ao ginecologista ou porque fizeram o exame de sangue solicitado já na primeira consulta do pré-natal”, pontua Giuliane.

3. Sífilis latente

Antes de falarmos da sífilis terciária, vale citar a latente. Esse nome se dá porque a pessoa não sabe dizer quando pegou a infecção primária e secundária, então, fica uma latente indeterminada. A sífilis latente é assintomática e só pode ser detectada por meio de testes laboratoriais. Por isso se diz que a doença pode ser um risco silencioso, afinal, mesmo sem sintomas, a bactéria está presente agindo no organismo — e pode ser transmitida para um parceiro ou para o bebê. Essa é a forma mais presente entre os portadores da doença.

4. Sífilis terciária

A sífilis terciária pode se manifestar entre dois e até mais de 10 anos depois da primária. “Dois terços das pessoas vão se curar sozinhas e não vão ter a doença sintomática e um terço pode desenvolver a fase terciária”, afirma Giuliane. Nesse caso, a infecção pode resultar em doenças cardiovasculares, afetando os vasos sanguíneos, problemas nos ossos, pele e até mesmo comprometimentos cerebrais causados pela bactéria.

Devido à gravidade, a sífilis terciária exige um tratamento mais prolongado com medicações, inclusive, com internação do paciente. Essa manifestação, entretanto, é muito mais rara de acontecer. Contudo, vale dizer que não se trata de uma uma infecção que pode levar à morte, salvo algumas exceções, como no caso de pessoas que possuem outra doença grave associada que cause imunodepressão, como a AIDS, por exemplo.

Como é feito o tratamento em gestantes?

O tratamento é o mesmo para mulheres gestantes ou qualquer outra pessoa com a infecção: à base de injeções de penicilina benzatina — a famosa e temida benzetacil —, aplicada em dose única ou em até três doses, com intervalo ideal de uma semana entre as doses.

A dosagem depende da fase (primária, secundária, latente ou terciária) da infecção. Depois de medicada, a gestante segue sendo avaliada, mensalmente, mesmo após o término do tratamento para sífilis. “Uma mãe é considerada tratada quando o início do tratamento ocorre em até 30 dias antes do parto”, comenta a obstetra, lembrando, mais uma vez, a importância de fazer todo o pré-natal corretamente.

Outro ponto importante a ser citado: os parceiros sexuais também precisam ser tratados, a fim de evitar uma nova infecção para a futura mãe e, sobretudo, para o bebê.

O que é sífilis congênita?

É aquela transmitida da mãe para o bebê, através da placenta, em qualquer momento da gestação ou estágio clínico da infecção não tratada. É a chamada transmissão vertical.

“Na sífilis primária e secundária, que são as mais recentes, a transmissão para o bebê é próxima a 100%, se não tratada. Já a latente indeterminada (ou tardia), que é a de mais tempo de evolução, a transmissão para o bebê gira em torno de 30%, se não houver tratamento”, alerta a professora da Unicamp, ressaltando que todas as formas sintomáticas e assintomáticas podem ser transmitidas para o feto.

Na maioria das vezes, porém, o bebê não apresenta nenhum sintoma ou sinal logo após o nascimento, embora eles possam aparecer logo, se não iniciado o tratamento precoce.

Quais os riscos da infecção para o bebê intrauterino?

Antes de mais nada, é importante lembrar que o bebê pode não ser infectado, desde que a mãe faça o tratamento correto, segundo a orientação médica. Então é um risco que pode ser evitado simplesmente fazendo o pré-natal adequado.

Entretanto, se a infecção for transmitida para o feto, principalmente no primeiro trimestre da gestação, os danos podem ser graves. Entre eles estão as malformações, restrição do crescimento intrauterino, risco de prematuridade e aborto (morte do feto). A gravidade, portanto, depende da fase da gravidez e se a doença não for tratada.

No final da gestação, contudo, como os pequenos já estão completamente formados, o maior risco é o de eles serem infectados. Nesses casos, precisam iniciar o tratamento à base de penicilina, ainda no hospital, logo após o nascimento, a fim de evitar complicações.

“Passado esse tempo, se a criança evoluir com sequelas, mesmo curando a doença, não tem como revertê-las”, alerta Lívia Rodrigues Antonio, infectologista pediátrica do HC Criança da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo). Por isso é importante ressaltar, mais uma vez, a importância de a mãe ser identificada e tratada durante a gestação, antes de a doença passar para o bebê.

Como é feito o diagnóstico da doença?

“Todo recém-nascido com suspeita de sífilis congênita, ao seu nascimento, deverá ser coletado o VDRL do sangue periférico (e não do cordão), em conjunto com o da mãe. Esse cenário independe se a gestante foi tratada adequadamente ou não. Para aquelas que não foram tratadas, ou foram inadequadamente tratadas, além do VDRL, deverá ser feito no bebê hemograma completo, radiografia de ossos longos e coleta de líquor, a fim de se diagnosticar se houve ou não infecção do sistema nervoso central (SNC)”, elenca a infectologista pediátrica.

A dosagem do tratamento para os pequenos, que também é feita com penicilina, vai depender do diagnóstico do bebê.

O que é sífilis congênita precoce?

“É aquela síndrome clínica que surge até o segundo ano de vida e deve ser diagnosticada por meio de uma avaliação criteriosa da situação materna e de avaliações clínicas, laboratoriais e de estudos de imagem na criança”, esclarece Lívia. Segundo a especialista, os principais acometimentos dessa síndrome são:

  • Aumento do fígado;
  • Lesões cutâneas;
  • Alterações e inflamações ósseas;
  • Pseudoparalisia dos membros;
  • Sofrimento respiratório, com ou sem pneumonia;
  • Rinite;
  • Acúmulo de líquido;
  • Anemia;
  • Convulsões e meningoencefalite;
  • Doença renal.

O que é sífilis congênita tardia?

A síndrome clínica da sífilis congênita tardia é aquela que surge após o segundo ano de vida. Da mesma forma que a sífilis congênita precoce, o diagnóstico deve ser estabelecido por critérios epidemiológicos, clínicos e laboratoriais.

“Deve-se estar atento na investigação para a possibilidade de a criança ter sido exposta ao T. pallidum”, salienta a especialista do HC Criança da FMRP-USP. O ideal é detectar e tratar a doença ainda nos primeiros dias de vida. Caso isso não ocorra, as principais características dessa síndrome incluem:

  • Alterações ósseas tardias;
  • Edema nos joelhos;
  • Alterações no crânio;
  • Problemas dentários (dentes deformados);
  • Mandíbula curta;
  • Surdez neurológica;
  • Dificuldades no aprendizado.

Como é feito o acompanhamento do bebê com sífilis congênita presumida ou confirmada?

De acordo com a infectologista pediátrica, o acompanhamento do bebê exposto à sífilis materna será feito até os 18 meses. É realizado o teste com 1 mês, 3, 6, 12 e 18 meses de idade, interrompendo sua realização quando houver dois exames consecutivos negativos. Caso os efeitos não indiquem a negativação da doença, confirmando o caso de sífilis congênita até os 18 meses de idade, é necessário investigar, novamente, a criança exposta e realizar o tratamento.

Referências: Ministério da Saúde; Boletim Epidemiológico de Sífilis, 2022.

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