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Segundo o Unaids, programa das Nações Unidas de combate à aids, toda semana, cerca de 5 mil jovens mulheres entre 15 e 24 anos de idade são infectadas pelo HIV no mundo. Também em escala global, cerca de 1,4 milhão de mulheres que vivem com HIV engravidam por ano. Essas são algumas das estatísticas que comprovam a importância de mulheres em idade fértil estarem no foco das ações de combate ao vírus.

É por essa razão que entre as seis metas mundiais traçadas pelo programa da ONU para 2025, duas delas priorizam serviços de saúde sexual e reprodutiva para mulheres que vivem com HIV, além de mulheres com risco elevado de infecção pelo vírus. São elas:

- 95% de serviços para eliminação da transmissão vertical (de mãe para o bebê);
- 95% de mulheres acessando tratamentos e serviços de saúde sexual e reprodutiva.

Bebê recém-nascido (Foto: Isaac Taylor/Pexels)

Bebê recém-nascido (Foto: Isaac Taylor/Pexels)

O objetivo dessas novas metas é direcionar políticas públicas para prevenir e controlar infecções provocadas pelo vírus e, no caso das propostas que têm como alvo o público feminino, a intenção é eliminar a transmissão do HIV de mãe para filho durante a gravidez, parto e amamentação.

De acordo com o Unaids, na última década muitos esforços foram empregados pelos países para aumentar a cobertura de terapias antirretrovirais entre gestantes convivendo com HIV, o que contribuiu significativamente para a redução da transmissão vertical do vírus – a cobertura chegou a 84% em 2019. No entanto, o programa da ONU ressalta que esses números são insuficientes, já que crianças ao redor do mundo continuam adquirindo o HIV de suas mães, pela falta de serviços de saúde adequados durante a gravidez e no pós-parto.

Para mudar esse cenário, no relatório Vencendo as pandemias com as pessoas no centro da resposta, o Unaids recomenda, entre outras coisas, que adolescentes e mulheres tenham amplo acesso a métodos contraceptivos e a serviços de prevenção e tratamento de HIV e Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Além disso, uma das principais estratégias indicadas pelo programa é a testagem de gestantes e lactantes. “Testes mais frequentes, incluindo durante o terceiro trimestre e no período do pós-parto, podem revelar soroconversões recentes e garantir o início rápido da terapia antirretroviral para melhorar a saúde da mãe e prevenir a transmissão do HIV para os bebês”, destaca o documento.

O mesmo vale para as crianças expostas ao vírus. O programa da ONU preconiza que os países intensifiquem a estratégia de testagem dessa parcela da população, pois há um número substancial de crianças que estão vivendo com HIV, mas não estão recebendo tratamento adequado – o que decorre de uma combinação de baixa cobertura de serviços de diagnóstico precoce infantil e implementação ineficiente de rastreamento para encontrar crianças mais velhas que adquiriram o HIV durante a amamentação após dois meses de idade.

Números do Brasil

Assim como apontam os dados globais, no Brasil o HIV também tem se espalhado entre os jovens – e entre gestantes jovens. Segundo o último Boletim Epidemiológico de HIV/Aids do Ministério da Saúde, desde os anos 2000, a faixa etária entre 20 e 24 anos é a que apresenta o maior número de casos de gestantes infectadas pelo HIV (27,6%). No total, no período de 2000 a junho de 2020, foram notificadas 134.328 gestantes infectadas com o vírus no país.

Já nos últimos dez anos, houve um aumento de 21,7% na taxa de detecção de HIV em mulheres grávidas: em 2009, registraram-se 2,3 casos/mil nascidos vivos e, em 2019, essa taxa passou para 2,8/mil nascidos vivos. De acordo com Ministério da Saúde, esse aumento pode ser explicado, em parte, pela ampliação do diagnóstico no pré-natal e a melhoria da vigilância na prevenção da transmissão vertical do HIV.

Vale lembrar que, desde 2010, o teste de HIV passou a ser obrigatório durante o acompanhamento pré-natal pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – todas as grávidas devem fazer o exame na primeira consulta e no último trimestre. Isso se reflete tanto na taxa de detecção das gestantes, quanto das crianças, cujos dados são acompanhados pelo Ministério da Saúde como um indicador para o monitoramento da transmissão vertical do HIV. E, felizmente, esse número está em queda! Para se ter uma ideia, de 2015 a 2019, houve redução de 22% na taxa de detecção de aids em menores de 5 anos, passando de 2,4 em 2015 (348 casos) para 1,9 (270 casos) por 100 mil habitantes em 2019, também de acordo com o último Boletim Epidemiológico de HIV/Aids.

Mulher grávida (Foto: Foto de Rafael Henrique no Pexels)

Mulher grávida (Foto: Foto de Rafael Henrique no Pexels)

“Graças à melhora das políticas públicas em saúde, estamos conseguindo encontrar e tratar essas gestantes para eliminar a transmissão vertical do vírus”, afirma o infectologista Rico Vasconcelos, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

HIV e gestação

Com acompanhamento médico adequado e adesão às terapias antirretrovirais (TARV), segundo dados do Ministério da Saúde, a chance de a mãe infectar o bebê cai de 20% para cerca de 1%. “Se a gestante soropositiva fizer o tratamento antirretroviral e tiver um pré-natal de qualidade, os riscos são os mesmos de uma gestante que não tem o HIV, ou seja, ela poderia estar exposta a outros tipos de problemas não relacionados ao vírus, como gerar um bebê com uma má-formação, por exemplo”, afirma a ginecologista especializada em doenças infectocontagiosas Maria Luiza Bezerra Menezes, membro da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

+ Quando a mulher grávida deve fazer o exame para detectar HIV?

Os dados do Ministério da Saúde também revelam uma significativa mudança de comportamento entre 2008 e 2018: o índice de mulheres que engravidam sabendo que têm o vírus (61%) superou a taxa daquelas que são diagnosticadas apenas no pré-natal (31%). “Após mais de 30 anos de epidemia, finalmente estamos conseguindo detectar melhor os casos de HIV, com diagnósticos prévios a futuras gestações, assim como empoderar as mulheres soropositivas quanto à segurança em gerar uma criança com risco mínimo de transmissão vertical do HIV caso o acompanhamento seja adequado”, afirma a infectologista Manoella Alves, do Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi (RN).

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