Parto
 

Por Vanessa Lima


Quando a professora universitária Susana Moscardini, 42, engravidou de Rafael, hoje com 12 anos, ela não imaginava que, em alguns meses, daria à luz não apenas um bebê, mas uma nova vida para si mesma – e para as mais de 200 mulheres que amparou desde então. Ela seguiu um caminho trilhado por várias mães: depois de se frustrar em busca de informações confiáveis, profissionais respeitosos e um parto humanizado, decidiu tornar-se esse apoio e ajudar outras mulheres a “cortar caminho”, como gosta de dizer.

Susana se sentiu desrespeitada por alguns obstetras com quem se consultou quando sua primeira gestação ainda era uma intenção. Ao comentar com uma médica que queria um parto na água, ouviu que “aquilo não existia e que ela não ia conseguir”. Ah, pensou, como seria bom contar com alguém que pudesse, pelo menos, ouvi-la e ajudá-la a traçar um plano consciente para realizar seu desejo, em um momento tão importante. Assim, acabou se tornando doula e também educadora perinatal.

De grávida a doula — Foto: Gabriela Lopes/Divulgação
De grávida a doula — Foto: Gabriela Lopes/Divulgação

Para quem não sabe, a doula é uma profissional que prepara a mulher para o parto, fazendo o possível para que ela tenha uma experiência centrada em si mesma e no bem-estar do bebê, além de oferecer apoio emocional e físico, antes, durante e após o parto. Muitos ainda confundem, mas ela não é parteira. Na prática, o trabalho consiste em informar a gestante (com dados científicos), cuidar do ambiente durante o parto e ajudá-la a lidar com a dor das contrações, com massagens, sugestão de respirações e posições. Já a educadora perinatal prepara a gestante para esse momento, muitas vezes com cursos para grávidas e casais, mas não participa do parto em si.

No livro Doula: mulheres que se ajudam no momento mais importante da gestação (Buzz Editora, R$ 29,90), Susana, que vive no Rio de Janeiro (RJ), relata sua trajetória, entrelaçada a histórias de grávidas. Como a de Nice, que a escolheu para ser sua doula antes mesmo de definir quem seria seu obstetra, tamanha a segurança que sentiu ao conhecê-la. A seguir, um bate-papo em que ela fala um pouco da obra, das próprias gestações (além de Rafael, ela é mãe de Lucas, 9 anos) e das alegrias e desafios de trabalhar como doula, no Brasil.

Susana Moscardini — Foto: Débora Silveira/Divulgação
Susana Moscardini — Foto: Débora Silveira/Divulgação

CRESCER: Como surgiu a ideia de escrever o livro sobre doulagem?
Susana Moscardini: Sempre tive um desejo de compartilhar informações sobre parto e puerpério com as mulheres depois que passei pelas minhas próprias vivências. Era algo que eu já fazia nas reuniões do grupo de gestantes, que organizo desde que virei doula, no meu blog e nas minhas redes sociais. O livro surgiu da vontade de organizar um pouco essas histórias. Com ele, espero apresentar a importância do trabalho da doula, fazendo com que mais gestantes possam usufruir dos benefícios – comprovados cientificamente – que podemos oferecer para uma experiência mais satisfatória a elas.

C: A obra entrelaça a sua própria trajetória, em seus partos, com as das suas doulandas. Como foi fazer essa “costura”?
S.M.: Minha maior preocupação foi trazer uma diversidade de histórias, que mostrassem justamente a riqueza de possibilidades dentro do atendimento ao parto, a imprevisibilidade do processo e como cada parto demanda uma conduta personalizada por parte da equipe. Tudo isso com histórias que tocassem, em algum ponto, em minha própria vivência como gestante, entremeando minha caminhada na busca por um parto orgânico e na descoberta do que era, até então, desconhecido para mim: a existência da doula.

C: As histórias das mulheres e o momento em que precisam de uma doula são parecidos? O que as une?
S.M.: Muitas mulheres que me procuram como doula estão em busca de viver um parto respeitoso, em que as escolhas delas sejam levadas em consideração. Brinco, dizendo que ter uma doula nesse processo é uma forma de “cortar caminho”, pois somos especialistas em “desembaçar a névoa” para o objetivo da gestante. Cada mulher tem, sim, particularidades, porque existem ideais de parto diferentes. O que as une é o fato de estarem em busca de uma experiência centrada no protagonismo delas, mais humanizada e respeitosa.

C: Por que tantas mães acabam se interessando pela profissão?
S.M.: É um caminho usual: se deparar com a realidade obstétrica, ficar perplexa com as taxas brasileiras [de cesáreas e violência obstétrica] e querer construir um cenário melhor para nós mesmas e para outras mulheres.

C: Quando engravidou do seu caçula, você já tinha passado por uma gestação e era doula. Isso facilitou o processo?
S.M.: A escolha da equipe para me acompanhar foi mais suave. Ter menos dúvidas sobre o parto em si e conhecer melhor a fisiologia me deu serenidade. Por outro lado, a gestação do Lucas aconteceu depois que eu sofri um aborto espontâneo e foi difícil vencer o medo de perder mais um bebê.

Susana Moscardini — Foto: Márcia Pires/Divulgação
Susana Moscardini — Foto: Márcia Pires/Divulgação

C: O que mudou na sua vida desde que ingressou na assistência ao parto?
S.M.: Quando começamos a trabalhar com isso, temos a noção básica do que é “estar à disposição”, mas é só no dia a dia que entendemos de verdade o que significa. Dificilmente as pessoas têm a noção exata do que é sair de casa sempre acompanhada da sua mala de doulagem, que vira uma extensão do seu corpo, do pavor de ir para algum lugar onde o sinal do celular não pega ou da angústia de ver na tela do celular apenas “um palitinho” de bateria.

C: Qual foi seu maior desafio profissional, até hoje?
S.M.: Situações de emergência são os maiores desafios. Houve uma vez em que meu coração acelerou quando recebi uma mensagem de uma grávida, dois meses antes do tempo previsto, cuja bolsa havia rompido. Ao mesmo tempo, eu estava atendendo outra doulanda que já tinha passado de 40 semanas com algumas contrações. Então tinha certeza que a mensagem seria dela. Suei ao notar que era da outra. A primeira foi para a emergência e saí de casa imediatamente para encontrá-la. As pecinhas do destino se encaixaram: as contrações da segunda, de 40 semanas, pararam. No hospital, constataram que a bolsa tinha rompido, de fato, mas não estava em trabalho de parto. Ela ficou internada por vários dias para fazer exames e ser monitorada. Lembro que fiz uma pintura na barriga dela para oferecer alguma distração e alegria naqueles dias tão tensos. A equipe fez o possível, mas o trabalho de parto foi prematuro. Felizmente, deu tudo certo.

C: O que não pode faltar na mala de uma doula e por quê?
S.M.: Na bagagem interna, empatia. Saber apoiar e respeitar as escolhas daquela mulher. Não pode faltar também escuta e conexão. É a palavra certa, na hora certa, um olhar confiante, no momento ideal. É perceber o que ela precisa, sem que precise verbalizar. Quando pensamos nos itens materiais, eles mudam conforme as necessidades de cada gestante. Mas considero fundamental ter um bom óleo de massagem, um leque e um rebozo [xale das parteiras mexicanas para apoiar a grávida em algumas posições].

C: Você é doula há 12 anos. Como enxerga essa jornada?
S.M.: A profissão tem se tornado mais conhecida, mas grande parte das pessoas nunca ouviu falar em doula e tem gente que até já ouviu, só não sabe a função. O preconceito ainda existe, porém o número de médicos que se abriram para o trabalho multidisciplinar no parto, incluindo a presença de doulas, tem crescido. Também houve um aumento na quantidade de profissionais. Além disso, a luta pela regulamentação do exercício ganhou espaço. Diversas associações foram criadas pelo Brasil, com o intuito de organização da classe. Muitas vitórias aconteceram, como a aprovação de leis municipais que garantem à mulher o direito de ter uma doula no parto. Em março de 2022, o Senado aprovou o projeto de lei que regulamenta a profissão de doula. Agora, será votado na Câmara dos Deputados.

Quanto custa ter uma doula?

Os valores para contratar uma doula no parto variam. “Como o Brasil é um país muito diverso e com proporções continentais, depende da região”, explica Susana. O preço também muda de acordo com os serviços combinados, como número de encontros pré e pós-parto, cursos de gestante e pintura de barriga, entre outros. Para se ter uma ideia, no entanto, dá para levar em conta que, na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, o valor está inserido na lei estadual de piso regional. O mínimo, nesse caso, é R$ 1.375,01, para um pacote com dois encontros pré-parto, acompanhamento durante o trabalho de parto e um encontro pós-parto.

Doula: mulheres que se ajudam no momento mais importante da gestação, de Susana Moscardini — Foto: Divulgação
Doula: mulheres que se ajudam no momento mais importante da gestação, de Susana Moscardini — Foto: Divulgação

Doula: mulheres que se ajudam no momento mais importante da gestação, de Susana Moscardini, (Buzz Editora), R$ 29,90

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