"A sociedade precisa entender que existem mulheres que querem mostrar seu talento, mas também querem ser mães", diz Carmenza Alarcon

A diretora geral da unidade de consumo na Sanofi, empresa global de saúde, confessa que tinha medo de não conseguir conciliar a carreira e a maternidade, mas sente que certas escolhas podem suavizar o caminho em busca do equilíbrio. Conheça a história!


A carreira sempre foi uma prioridade de Carmenza Alarcon, 47. Nascida na Colômbia, ela já assumiu cargos de liderança trabalhando em marketing ao redor do mundo, passando por países como Chile, Argentina, Alemanha, Malásia, Singapura, China e Taiwan, até que alcançou o posto de diretora geral da unidade de consumo na Sanofi, empresa global de saúde, no Brasil, em 2022. Mas também sempre teve um outro título que queria adicionar ao seu currículo: mãe.

Carmenza e Martin — Foto: Arquivo pessoal

"Eu fui criada em uma família muito unida, com muitos irmãos. Eu sempre sonhei em ter um filho e construir minha família", diz em entrevista exclusiva à CRESCER. Quando sentiu que estava em um bom lugar profissionalmente, decidiu que era a hora de ir atrás do seu sonho. "Eu me tornei mãe aos 39 anos, foi um pouco mais velha do que gostaria. Estou quase há 20 anos com o meu marido, mas a gente decidiu esperar, estávamos em etapas diferentes, estávamos crescendo muito profissionalmente e viajando muito", explica. "Acho que gostaria de ter me tornado mãe um pouco antes, mas acredito que cada etapa vem no momento certo", acrescenta.

Ela teve seu filho, Martin, 8, enquanto morava em Kuala Lumpur, na Malásia. "Eu e meu marido estávamos em outro país, sozinhos, mas encontramos o momento mais feliz da nossa vida", comemora. Nos próximos anos, Carmenza teve que se mudar por trabalho e o menino e o marido também a acompanharam. Desde que nasceu, Martin já morou em cinco países diferentes, incluindo Malásia, China, Colômbia e Brasil. "Ele está acostumado a sair pelo mundo, mas o importante é que sempre estamos juntos", afirma.

Antes de se mudar ou de tomar qualquer decisão profissional, a mãe sempre pensa em como isso vai impactar o filho e quais benefícios essa mudança pode trazer para ele. "Nós moramos em diferentes países, tivemos a oportunidade de estarmos juntos aprendendo sobre muitas culturas diferentes. Temos formado um filho com mente aberta e acho que isso é o que torna uma família muito mais rica e feliz", diz.

"Eu tinha medo de que minha carreira fosse estagnar depois que meu filho nascesse, mas foi justamente o oposto"

No início, esta jornada também foi marcada por preocupações. "Eu tinha medo de que minha carreira fosse estagnar depois que meu filho nascesse, mas foi justamente o oposto. Continuei crescendo profissionalmente ainda mais rápido em muitos aspectos. Meu filho, inclusive, me tornou mais forte para que eu possa dar um melhor exemplo para ele, para que eu possa mostrar que a mãe dele tem força, que é trabalhadora, que tem determinação e que quer inspirar outras pessoas", destaca.

No entanto, para chegar onde está hoje, ela confessa que precisou mudar um pouco a forma de pensar. "Tive que me dar conta de que é preciso buscar ajuda e ter uma rede de apoio, porque as mulheres não podem carregar todas as coisas sozinhas", afirma. Por isso, ela não conseguiria tudo o que alcançou hoje sem a ajuda da sua família.

Equilíbrio entre maternidade e carreira

Como líder de uma empresa, a jornada de Carmenza é muito desafiadora. "São grandes oportunidades, mas também é preciso encarar situações difíceis sozinha. Preciso estar forte para amparar nossos times e saber reagir diante dessas circunstâncias difíceis, visando criar um ambiente inclusivo e empoderado", afirma.

Tendo este cargo tão essencial, nem sempre é fácil conciliar a carreira com a família. Mas, para ela, certas escolhas podem suavizar o caminho em busca do equilíbrio. "Eu me dedico para estar presente nos momentos que realmente são importantes para nossa família e para o meu trabalho. Eu sempre parto do princípio de que tem que ter um equilíbrio profissional. Claro que, em certas posições de liderança, a gente vai ter que viajar, vão ter reuniões um pouco mais longas. Mas também tem momentos que eu como mãe ou como esposa não quero perder nunca", destaca.

Carmenza busca estabelecer limites e prioridades para se dividir entre o filho e a empresa. "Por exemplo, para mim, é importante estar com o meu filho quando ele vai deitar, porque é um momento de conversa em que a gente reflete um pouco sobre o que aconteceu no dia. É muito valioso para os dois. Então, eu sempre dou um jeito de voltar para casa, é uma hora que eu preciso estar com ele", diz.

"Nem sempre é fácil, as jornadas são longas, muitas vezes vão ter dúvidas, mas tem que se lembrar e ter a certeza de que a gente tem um papel importante que temos que cumprir. Temos que nos lembrar que estamos fazendo um bom trabalhado e que todos esses mini sacrifícios que às vezes temos que fazer são para o bem-estar de outras pessoas e para os nossos filhos", afirma.

'Quando a gente se torna mãe, não podemos nos sentir culpadas'

Carmenza acredita que algumas coisas mudaram desde que se tornou mãe. "A sociedade tende a julgar muito. Eu me sentia julgada quando o Martin era muito pequeno e, por exemplo, eu tinha que viajar. Eu me sentia um pouco insegura, pensando se isso está fazendo bem para minha família ou não", desabafa.

Foi difícil mudar a mentalidade no início. Mas, ela sentia que não devia desistir da sua carreira que tanto gostava só porque se tornou mãe. "Eu compreendi que cada família funciona de uma maneira diferente. Eu acho que quando a gente se torna mãe, não podemos nos sentir culpadas de nada. Por que realmente não é nossa culpa se um dia estamos com nossos filhos e, no outro, não estamos porque temos que trabalhar", ressalta.

A diretora geral da unidade de consumo da Sanofi sente que isso faz parte da educação que os filhos recebem e ela busca criar Martin de uma forma consciente, para que ele compreenda e apoie mães que desejam ter uma carreira. "A sociedade precisa entender que existem mulheres que querem seguir se desenvolvendo e querem mostrar seu talento, mas também querem ser mães", diz.

'Meu filho foi minha fonte inspiração'

Para ela, liderança e maternidade não são opostos, mas sim complementares. "Eu acho que ser mãe abre ainda mais essa necessidade de entender que a liderança significa influência, porque você pode influenciar de maneira positiva e inspirar outras pessoas. E isso também acontece no meu papel como mãe, sou uma influência no meu filho, eu tenho que ser muito consciente com o que faço", diz Carmenza.

"Como líder, sempre busco despertar o melhor nas pessoas e é o que eu espero fazer com Martin. Eu quero que ele se forme da melhor maneira, mas que sinta que está apoiado por mim", afirma. Ela acredita que ser mãe com certeza a tornou uma melhor mentora. "Meu filho foi minha fonte de inspiração", finaliza.

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