O parto de Honey Attridge, 39, não foi dos mais fáceis ou rápidos. Pouco mais de 36 horas de trabalho de parto já tinham se passado, quando a equipe percebeu que o ombro da bebê estava preso. Os médicos, então, precisariam retirar a criança de lá e, para isso, usaram o fórceps.
A pequena nasceu e, aparentemente, tudo tinha dado certo. Mas, rapidamente, o cenário de alívio mudou. Apenas 24 horas depois de nascer, Sophie, a recém-nascida, parou de respirar e os médicos descobriram que ela havia sofrido um acidente vascular cerebral (AVC), provavelmente causada pelo trauma de sua chegada. “Achei que minha bebê fosse morrer”, disse a mãe, que de Farnborough, Hampshire, na Inglaterra.
Sophie passou três semanas lutando pela vida na UTI Neonatal de um hospital, em Londres, mas, felizmente, conseguiu voltar para casa depois disso — embora não sem sequelas. A menina, hoje com 4 anos, ficou com paralisia cerebral leve. Honey, a mãe, foi diagnosticada com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
A mãe, que hoje trabalha com cuidados de trauma e perda na maternidade, disse, em entrevista ao The Sun: “No dia seguinte ao parto de Sophie, fui vê-la na unidade de terapia intensiva e ela parou de respirar de repente. Ela estava azul e tendo convulsões, e eu comecei a chorar quando ela foi colocada em aparelhos de suporte vital. Durante as primeiras semanas de sua vida, não consegui segurá-la ou alimentá-la — estava vivendo um pesadelo. Mas com a ajuda certa, as coisas melhoraram. As mães precisam saber que não estão sozinhas”.
Como tudo aconteceu
Honey e seu marido, Rob Attridge, 41, já estavam há três anos tentando ter um bebê, quando descobriram que os dois tinham problemas de fertilidade, em 2016. A dupla estava há três meses em uma lista de espera para o tratamento de fertilização in vitro quando a mulher engravidou naturalmente. Com 38 semanas, ela entrou em trabalho de parto. Seu sonho era ter um parto natural, mas, devido às circunstâncias, Honey precisou de um parto de emergência, com fórceps. Sophie nasceu às 15h do dia 20 de outubro de 2019.
“Depois de 36 horas de trabalho de parto, fui levada às pressas para a emergência. A cabeça estava para fora, mas os ombros estavam presos – não havia como ela terminar de sair naturalmente”, relata Honey. “Eu só tive um vislumbre dela antes de a leveram para a UTI Neonatal. Eu estava com ela tanto tempo na barriga, foi difícil vê-la sendo levada embora”. lembra.
Após 24 horas na terapia intensiva, Sophie foi transferida para o Hospital St Mary's, em Londres, onde uma ressonância magnética revelou que ela havia sofrido um derrame neonatal. Quando um AVC acontece, o fornecimento de sangue para uma parte do cérebro é interrompido, o que pode acarretar em vários danos.
A bebê passou as três semanas seguintes na unidade de terapia intensiva neonatal antes de receber alta e poder ir para casa. “Eu tinha medo de tocá-la e não gostava de ser mãe porque ficava nervosa o tempo todo. Quando Rob voltou ao trabalho, tudo piorou – parei de dormir, de comer e de sair de casa, e passei todo o meu tempo observando-a”, lembra. "Eu odiava ficar sozinha com ela porque morria de medo de que algo ruim pudesse acontecer”, explica.
Foram cinco meses dificílimos e, depois disso, a mãe descobriu que precisava de ajuda psicológica. Então, foi diagnosticada com transtorno de estresse pós-traumático. Ela precisou fazer tratamento por 10 meses para melhorar. “Depois de algumas sessões, eu já me sentia mais calma e relaxada perto da minha bebê e sabia que isso só iria melhorar. Foi um alívio saber que não estava sozinha”, afirma.
Depois disso, ela sentiu que precisava falar sobre a questão, para conscientizar outras pessoas e ajudar outros pais e mães. "Fiquei tão determinada a aumentar a consciencialização, que forneci provas para o inquérito sobre traumas de nascimento, para ajudar mulheres e famílias a obterem os serviços especializados de assistência perinatal de que necessitam”, conta. “Sophie está feliz e saudável e sei que tive muita sorte em conseguir a ajuda de que precisava. Temos consultas regulares para sua paralisia cerebral e ela está incrivelmente bem. Ela adora caçar insetos, passar tempo com os primos e ler, e estamos muito orgulhosos dela”, revela.
AVC neonatal é comum?
Em adultos, normalmente o AVC (acidente vascular cerebral) é provocado pelo avançar da idade, má alimentação, falta de atividade física, afinamento dos vasos do cérebro, hipertensão, tabagismo, obesidade... No caso das crianças, as causas costumam ser outras.
"AVC em criança é uma coisa rara, a chance é de 1 em 4 mil. Mas, normalmente, há alguma doença por trás. Aí começa o desafio da equipe médica para tentar encontrar a razão", explica o neuropediatra Anderson Nitsche, do Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba (PR). O derrame entre os pequenos é bem mais comum no período neonatal, até 28 dias de vida do bebê. Normalmente, está associado a más formações congênitas no coração, anemia falciforme, hemofilia ou até alguma deficiência no sistema imunológico.
Segundo Anderson, do Hospital Pequeno Príncipe (PR), é preciso ter um olhar especial sobre as crises convulsivas. "Convulsões às vezes podem ser um AVC, por isso, precisam ser investigadas sempre. Não dá para ignorar quando acontecem. Se a criança teve uma crise convulsiva e não recuperou todas as focalidades, trata-se de uma emergência médica", alerta.