Moises Chencinski - Eu Apoio Leite Materno

Por Moises Chencinski

Autor da coluna "Eu apoio leite materno"

 


Em seu livro “Não nascemos prontos! – provocações filosóficas” (2006), Mario Sergio Cortella, filósofo e escritor, tem (mais) um texto “provocativo” (e eu nem gosto disso...), chamado “O animal satisfeito dorme” (procurem e leiam na íntegra), frase “óbvia” (segundo o autor), que ele atribui a Guimarães Rosa (nossa literatura merece muito mais créditos. Leiam mais).

Ilustração mãe amamentando bebê pequeno — Foto: Freepik
Ilustração mãe amamentando bebê pequeno — Foto: Freepik

Algumas frases extraídas do texto me trouxeram revelações que acalmaram (só) algumas das minhas inquietações.

“A advertência é preciosa: não esquecer que a satisfação conclui, encerra, termina; a satisfação não deixa margem para a continuidade, para o prosseguimento, para a persistência, para o desdobramento. A satisfação acalma, limita, amortece.”

“Ora, o agradável é alguém dizer ‘seu trabalho... é bom, fiquei muito insatisfeito e, portanto, quero mais, quero continuar, quero conhecer outras coisas’.”

“Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não-pronta e vai se fazendo.”

Sempre sou visto como “o cara do copo meio vazio”, que nunca está satisfeito (aqui, abordando especialmente a situação e questões do aleitamento materno no Brasil). Que alívio me dá saber que sou assim, que esse é mesmo o meu caminho, a minha forma de dizer que eu quero mais e que vou atrás de mais, que “estou me fazendo”.

“Somos seres de insatisfação e precisamos ter nisso alguma dose de ambição; todavia, ambição é diferente de ganância, dado que o ambicioso quer mais e melhor, enquanto que o ganancioso quer só para si próprio.”

Dá pra entender, né? Como é que dá para pensar “que está bom como está”? Então é isso? Acabou? Nada mais é possível alcançar? "Que o ponto atual é meu limite e, portanto, minha possibilidade?"

Assim é a trajetória de quem trabalha com saúde materno-infantil (ou qualquer área que reflita na saúde por aqui: vacinação, alimentação, meio ambiente, clima, desigualdades, preconceitos, educação... ou você acha que tem algo aí que não influencie na saúde?).

Hoje, dois estudos interessantes sobre o leite humano.

Primeiro estudo: aleitamento materno e psoríase

Psoríase é um quadro de pele, com influência genética, que pode ser desencadeado por alguns fatores já identificados (estresse, infecções, medicamentos) e outros ainda a se desvendar (ambientais, por exemplo).

Um estudo feito na Suécia (publicado no British Journal of Dermatology) com 16.145 pais que responderam a dois questionários: o primeiro no nascimento e um segundo, após 1 a 3 anos.

Os resultados apontaram que bebês amamentados por menos de 4 meses e recebendo fórmula infantil antes dos 4 meses tinham um risco aumentado de desenvolver psoríase do que os amamentados exclusivamente até os 4 meses. Outra conclusão no seguimento de 3 anos foi de que o risco de psoríase aumentou após grande consumo de leite.

Assim, esse estudo relaciona, pela primeira vez, segundo os autores, o aparente efeito protetor da amamentação exclusiva por 4 meses para quadros de psoríase.

Segundo estudo: aleitamento materno e dor

Esse tema já foi abordado em outros estudos e até aqui mesmo (escrevi sobre mamanalgesia), mas, até por conta do momento do país, essa publicação se torna ainda mais relevante.

Estamos passando por um período de redução significativa dos índices de vacinação infantil no Brasil, a ponto de não termos nenhuma vacina atingindo uma cobertura segura e esperada, apesar das informações já tão batidas e tão confirmadas, mas ainda vulneráveis a fake news indesejáveis.

Aleitamento materno desde a sala de parto até dois anos ou mais, sendo exclusivo até o sexto mês, e uma carteira vacinal em dia são formas importantes, seguras e eficazes de se evitar contrair doenças infectocontagiosas que podem levar a sequelas graves e até a mortes.

Um dos efeitos mais comuns que trazem certo desconforto aos pais é a dor na vacinação. Muitas técnicas (com ou sem remédios) são tentadas para manejar essa situação. A amamentação durante a vacina já é uma prática recomendada e reconhecida para controlar procedimentos dolorosos para crianças lactentes.

Esse estudo, realizado na Índia, teve como objetivo comparar a eficácia de amamentar, de musicoterapia e de incluir sacarose oral no alívio da dor durante a aplicação da vacina pentavalente. Foram analisados 50 bebês em cada uma dessas técnicas (150 no total), para as três primeiras doses da vacina.

Os resultados avaliaram algumas questões:

  • Dor intensa: no grupo amamentação 50% dos bebês / musicoterapia: 68% / sacarose oral: 80%.
  • Escore médio de dor: amamentação: 57,34 / musicoterapia: 78,88 / sacarose oral: 90,28

Segundo os autores, "os resultados sugerem que existem diferenças significativas nos escores de dor entre os três grupos, com a amamentação apresentando escores significativamente diferentes em comparação com a terapia musical e a sacarose oral. No entanto, nenhuma diferença significativa foi observada entre a musicoterapia e a sacarose oral”, destacando a amamentação como a intervenção mais eficaz para reduzir a percepção de dor, recomendando sua incorporação nos programas de imunização existentes.

Aqui já temos essa recomendação desde 2014 (Manual de Normas e Procedimentos para Vacinação – Ministério da Saúde). Você sabia?

Dr. Moises Chencinski é pediatra, membro afiliado da WABA. Coordenador do livro "Aleitamento Materno na Era Moderna. Vencendo Desafios", da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) — Foto: Arquivo pessoal
Dr. Moises Chencinski é pediatra, membro afiliado da WABA. Coordenador do livro "Aleitamento Materno na Era Moderna. Vencendo Desafios", da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) — Foto: Arquivo pessoal

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