Os casos de sífilis em recém-nascidos aumentaram 10 vezes mais entre 2012 e 2022 nos Estados Unidos. O dado preocupante foi divulgado pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, siga em inglês). O levantamento da instituição mostrou que 3.761 bebês nasceram com a doença em 2022, e mais de 200 bebês morrerem com infecção nesse mesmo ano.
Segundo a análise, 9 em cada 10 casos de sífilis em bebês poderiam ter sido evitados, se as grávidas tivessem feito testes e tratamentos. Causada pela bactéria Treponema pallidum, a sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) fácil de ser detectada – basta fazer um simples exame de sangue, que o médico solicita na primeira consulta do pré-natal e depois, novamente, com 28 semanas de gestação. No Brasil, o teste é muito prático e ofertado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O risco da sífilis na gravidez
A infecção pode ser perigosa se não for tratada – especialmente durante a gravidez. “Você pode não saber que tem sífilis, por isso é importante fazer o teste”, afirmou Debra Houry, médica-chefe do CDC, em entrevista à ABC News, emissora norte-americana. A sífilis congênita, isto é, quando a transmissão da mãe para o bebê, leva ao aborto espontâneo e até mesmo à morte do bebê após o nascimento. Já as crianças que sobrevivem, mas não são tratadas adequadamente, podem desenvolver cegueira, surdez e atrasos no desenvolvimento.
O relatório do CDC aponta que mais de metade dos bebês nascidos com sífilis congênita em 2022 nasceram de mulheres que testaram positivo para sífilis durante a gravidez, mas não receberam tratamento adequado. "Este aumento nos casos de sífilis congênita revela realmente uma grande questão sobre a disparidade nos cuidados de saúde, incluindo a sensibilização e o acesso aos cuidados pré-natais", disse o colaborador médico da ABC News, Alok Patel.
Embora possa levar a quadros graves, a sífilis pode ser facilmente tratada com antibióticos, que podem ser administrados com segurança durante a gravidez. “O tratamento no momento certo pode prevenir quase todos os casos de sífilis congênita”, destacou Patel. “Portanto, qualquer caso de sífilis em um recém-nascido representa uma falha no acesso aos cuidados de saúde.”
Diante do cenário crítico, o CDC apelou para que as autoridades e profissionais de saúde sejam mais ativos para incluir a testagem de mulheres em mais ambientes, incluindo departamentos de emergência e prisões. A instituição também recomenda o rastreio da sífilis durante a gravidez em todas as primeiras consultas pré-natais ou a partir do momento em que a gravidez for identificada. Pessoas com maior risco também devem ser examinadas novamente na 28ª semana e no momento do parto, de acordo com o CDC.
Além do aumento dos exames, a recomendação do CDC é de que os profissionais de saúde também façam o uso dos testes rápidos para reduzir o tempo de espera dos resultados. Os testes rápidos, embora menos precisos, podem dar aos médicos a oportunidade de iniciar o tratamento dos pacientes que podem não voltar para uma consulta de acompanhamento.
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Casos de sífilis no Brasil
De acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil, em 2021, foram registrados mais de 268 mil novos casos da doença, entre sífilis adquirida, em gestantes e congênita, quando é transmitida da mãe para o feto. Esta última resultou em 192 óbitos.
É importante ressaltar que o aumento da sífilis congênita está diretamente ligado à qualidade do serviço de saúde pública prestado às mulheres durante o pré-natal. “Quando você tem um aumento de incidência de sífilis congênita, como temos visto, fica evidente que há uma falha em vários processos na atenção à saúde dessa população”, afirma a obstetra Giuliane Jesus Lajos, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
De maneira geral, o cenário no país é bem desfavorável, tendo em vista que a sífilis é uma doença que pode ser evitada com o uso de camisinha, mas, principalmente, curada, se tratada da maneira correta. Os números revelam um panorama alarmante. Segundo o boletim mais recente, até o mês de junho de 2022, foram constatados 79,5 mil casos de sífilis adquirida, 31 mil registros de sífilis em gestantes e 12 mil ocorrências de sífilis congênita no país, totalizando mais de 122 mil novos casos da enfermidade.
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